terça-feira, 6 de julho de 2010

TIO PITOMBO E AS COPAS



Capítulo 7

“Como eu disse, foi tudo arranjado para que a Argentina vencesse a copa de 1978. Os militares fizeram mais ou menos a mesma coisa que Mussolini e o Hitler, ou seja, mexeram seus pauzinhos para popularizar o seu regime. Sem contar que, durante as comemorações em frente à Casa Rosada, as Mães da Praça de Mayo tiveram que sair de cena. O Cruyff, da Holanda, se recusou a jogar a copa em protesto. A seleção argentina só jogava em Buenos Aires, enquanto as outras eram obrigadas a viajar pelo país: nós, por exemplo, jogamos em Mar Del Plata, Mendoza e Rosario.
O Brasil vivia a era Cláudio Coutinho, era uma retranca danada. Empatamos em 1 a 1 com a Suécia e, neste jogo, que aconteceu aquele lance do Zico em que ele fez um gol de uma bola vinda de um corner, mas o juiz, um tal de Clive Thomas, que depois foi suspenso pela FIFA, encerrou o jogo com a bola no ar. Depois, empatamos com a Espanha por 0 a 0 e, como tínhamos que ganhar da Áustria, ganhamos pelo maior placar possível naquele time, 1 a 0, gol do Roberto Dinamite.
O primeiro finalista foi a Holanda que, depois de uns perrengues na primeira fase, goleou a Áustria por 5 a 1, empatou com a Alemanha em 2 a 2 e derrotou a Itália, que já tinha o Paolo Rossi, por 2 a 1.
Aí que aconteceu a vergonha: ganhamos do Peru por 3 a 1, um placar gigante para uma seleção dirigida pelo Coutinho, mas foi uma vantagem pois o Peru tinha sido primeiro colocado na primeira fase, inclusive empatando com a Holanda, que ficou em segundo lugar no grupo. Empatamos em 0 a 0 com a Argentina (o Coutinho colocou o Chicão do São Paulo em campo só para dar pancada nos argentinos). E detonamos a Polônia por 3 a 1. Como a Argentina só tinha ganhado dos poloneses por 2 a 0, teria que ganhar do Peru por 4 a 0 ou estaria fora. Mas, por uma estranha coincidência, o goleiro peruano Quiroga, que era argentino, deixou passar gols incríveis e a Argentina ganhou por 6 a 0.
Aconteceram muitas denúncias: o jornal inglês Sunday Times noticiou que os argentinos fraudaram o exame antidoping, pois tinha um camarada escondido no vestiário só para fornecer a urina em lugar dos jogadores. Teve uma reportagem de uma rádio da Colômbia em que um tal de Fernando Rodrigues Mondragón, filho de um chefão do tráfico, falou, com todas as letras, que o cartel de Cáli pagou aos peruanos para perder.
Na final, num Estádio Monumental lotado, Kempes fez 1 a 0 para a Argentina e Nanninga empatou aos 37 do segundo tempo num golaço. Depois ainda teve uma bola na trave da Argentina, mas, na prorrogação os argentinos mandaram 3 a 1. Na festa da premiação, os holandeses fizeram questão de ficar de costas para o ditador argentino Jorge Rafael Videla. Nós também estávamos lá, pois ganhamos da Itália na disputa do terceiro lugar e o Nelinho fez um golaço com uma curva igual à da atual Jabulani. Como não perdemos, saímos dizendo que éramos campeões morais, veja só!”

“Esta história de campeão só moral pegou mal, mas parece que ia acabar na Espanha, pois o nosso comandante era o maior técnico brasileiro, o Telê Santana, mineiro de Itabirito, falecido em 2006, no dia de Tiradentes. Mas a nossa seleção também era uma das melhores de todos os tempos: tinha Zico, Sócrates, Falcão, Júnior, Toninho Cerezo, Éder Aleixo e o mais importante é que o time jogava pra frente, acabou aquela mania de jogar na retranca.
Marcamos dez gols na primeira fase e, na segunda, começamos mandando 3 a 1 na Argentina, que já tinha o Maradona, com gols de Zico, Serginho Chulapa e Júnior. Como a outra seleção do grupo, a Itália, tinha ganhado da Argentina por 2 a 1, pegamos a Itália e jogávamos pelo empate.
A Itália fez uma primeira fase péssima, empatou os três jogos e a imprensa de lá caiu de pau em cima deles. Resultado: fizeram greve de silêncio. Além disso, a esperança de gol deles era um tal de Paolo Rossi, que tinha sido suspenso por causa de uma armação quando jogava no Peruggia e acabou suspenso por dois anos, ele estava acabando do voltar ao futebol.
Com este retrospecto, era de se esperar até uma goleada do Brasil. Mas aquela história do Imponderável Futebol Clube acabou acontecendo. Logo aos cinco minutos, os italianos cruzaram uma bola da esquerda, a nossa defesa parou e o Paolo Rossi, baixinho cabeceou: 1 a 0 para a Itália. Mas o Brasil nem ligou e partiu pra cima: ali pelos doze minutos, Zico se livrou de Gentile e tocou pro Sócrates, o Doutor entrou na área e chutou forte, cruzado, 1 a 1. Aos 25 minutos, o jogo estava equilibrado e a Itália começou a marcar nossa saída de bola, aí o Cerezo rolou uma bola pro lado, o Falcão deixou pro Luisinho, o Luisinho deixou pro Falcão, e o diabo do Rossi entrou e mandou bala: Itália 2 a 1.
Mas a nossa arma secreta era o segundo tempo onde sempre fazíamos mais gols, e a coisa quase que funcionou pois, ali pelos 23 do segundo tempo, Júnior tocou para o Falcão na entrada da área italiana, Cerezo fez um corta-luz, e o Falcão, livre, soltou uma bomba: 2 a 2. Todo mundo respirou aliviado: estávamos classificados, até que, aos 29, o juiz, o famoso (e velho) Abraham Klein inventa um escanteio para a Itália: com vinte e dois jogadores dentro da área, a bola sobrou pra quem? Pro maledetto Rossi que deu um toquinho e enganou o Waldir Peres, Itália 3 a 2. No último minuto, o Oscar ainda deu uma cabeçada certeira, mas o goleiro Dino Zoff, com seus quarenta anos, fez a defesa. Nosso ódio foi tanto contra este estádio, o Sarriá, que dizem que o local ficou amaldiçoado e acabou leiloado para pagar as dívidas do seu clube, o Espanyol. O estádio foi demolido e, no local, foi construído um conjunto residencial de luxo.
A outra finalista foi a Alemanha que arrancou um empate com a França, depois de estar perdendo por 3 a 1. Mas os alemães estavam encapetados: o goleiro Schumacher pulou em cima do Battiston, que ficou desacordado em campo, e o juiz holandês Corver não marcou nada. Depois, arrependido, o Schumacher pagou o conserto do dente do Battiston, que quebrou, acabaram amigos, e o goleiro alemão foi até padrinho de casamento do francês. Nos pênaltis, deu 5 a 4 para a Alemanha.
A final da copa foi no Estádio Santiago Bernabéu em Madri, e a Azurra humilhou: fez 3 a 1 e o danado do Rossi fez um dos gols. A Itália empatava com a gente e era tri-campeã também. O único brasileiro na final foi o juiz Arnaldo César Coelho, que apitou o jogo.
Mas a maldição do Paolo Rossi não acabou: em 87, ele veio aqui no Brasil para jogar um torneio de veteranos, a Copa Pelé, acabou expulso de um táxi e maltratado pela torcida em São Paulo, que jogava um monte de objetos nele. Aí, ele voltou para a Itália e escreveu um livro de memórias: Fiz o Brasil Chorar.”

(Artigo – Jorge Marin)

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