sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

UM CAUSO VERÍDICO



HAJA CORAÇÃO!

Depoimento: Serjão Missiaggia

Hoje é domingo 18 de fevereiro de 2009.
E lá vamos nós, mais uma vez, subir o morro da Igreja do Rosário com destino ao campo do Operário. É dia da tão esperada decisão do segundo torneio interestadual de futebol de base de São João Nepomuceno, onde 44 equipes, de cinco estados, se fazem presentes.
O dia amanheceu bastante nublado e com uma temperatura bem amena, possivelmente em decorrência de muita chuva ocorrida no dia anterior.
Saímos de casa, Dorinha e eu, por volta das 9:30 da manhã e, assim como Matheus, bastante desgastados com a sequência de jogos que já vinham acontecendo ao longo da semana. Foram partidas todos os dias e sempre em horários diferentes. Isto para não falar da variação de tempo e temperatura, que sempre acontece na cidade nesta época do ano. Extremo calor e sol dão lugar, de uma hora para outra, a muita chuva e vento.
Então, após colocar meu uniforme da sorte e tomar um bom café, seguimos com destino ao campo. E, por falar em uniforme da sorte, não que eu seja supersticioso, mas, após a primeira vitória, não mais o tirei: calção verde, camiseta azul, tênis preto, meias brancas e minha maltratada cueca listrada.
Neste dia, por sorte, antes mesmo de começarmos a subir o morro, pegamos uma bela carona de carro com o Nica.
Ao chegarmos ao campo, e como primeiro impacto, observamos de imediato não haver um único lugar para estacionar. Casa lotada como jamais havia visto.
Muitos políticos, ex-atletas, olheiros, pais estressados, sonorização ao vivo. Enfim: palco perfeito para um belo espetáculo.
Uma velha mochila abastecida com água mineral, biscoitos, torradas e até uma pequena sombrinha nos fizeram companhia neste dia.
Já dentro do estádio, sentamos num banco de madeira, que se encontrava sobre a sombra de uma árvore posicionada bem à direita de quem entra. Uma simpática senhora, que acompanhava seu neto no pré-mirim, nos fez companhia neste jogo. Por sinal, pessoa que não parava um só minuto de falar, enquanto comia quase toda nossa torrada.
O excelente gramado do Operário, pela primeira vez, estava extremamente pesado. As constantes chuvas e o excesso de jogos, às vezes até cinco no mesmo dia, muito o maltrataram.
Matheus, neste momento, estava dando sua primeira entrevista como jogador ao locutor da Radio Difusora Kibil.
E começa o jogo.
A pressão de nosso time foi total e, já nos primeiros minutos, percebia-se nitidamente uma superioridade bem grande. Jogo super-truncado. O adversário já demonstrava, desde o começo, a intenção de levar a decisão para os pênaltis.
O tempo foi passando e, a cada lance, íamos perdendo gols incríveis. Matheus, com muita personalidade, procurava, como sempre, ditar o ritmo de jogo.
Já quase terminando a primeira etapa, eis que passa por nós meu primo Biel. De imediato, logo que chegou ao nosso encontro, procurei mostrar-lhe o Matheus. Seu orgulho e entusiasmo foram imensos pois, afinal de contas, estava logo ali, dentro do campo, um genuíno representante da linhagem dos Verardos. Com aquela euforia, bem ao estilo Gaby, brincava anunciando a chegada de um novo Heleno de Freitas.
E assim terminaria o primeiro tempo, carregando, para segunda etapa, muita expectativa, tanto dentro como fora de campo.
Recomeçando o jogo pouca coisa mudou e nosso time continuava a pressionar o adversário.
A expectativa aumentava em cada lance e gol perdido.
Matheus, agora ainda bem mais marcado, tentava de todas as formas empurrar o time pra frente.
Uma ligeira dor de cabeça começava dar seus primeiros sinais de boas-vindas, enquanto Dorinha, com um guardanapo, tentava em vão aliviar sua bendita alergia emocional na mão esquerda.
Minhas pernas e joelhos também começaram a reclamar em circunstância dos constantes sentas, levantas e subidas no banco para, ora descansar, ou poder visualizar melhor o jogo.
Já na metade do segundo tempo, o time adversário, vislumbrando a possibilidade de segurar o empate, começou a truncar ainda mais o jogo.
Dorinha, nesta altura do campeonato, além de não mais se levantar do banco, mal dirigia um olhar para o lado do campo. Seu nervosismo era visível.
Enquanto a dor de cabeça cada vez mais me incomodava, Dorinha, desesperadamente, não parava um só minuto de coçar sua alergia na mão.
Comecei, neste momento, a pensar seriamente na possibilidade de uma prorrogação ou mesmo de irmos para os pênaltis. O que será de nós? Pensava!
Enquanto os minutos finais se aproximavam, uma nuvem bem carregada no céu começou prometer uma forte tempestade.
Já quase na última volta do ponteiro, um tanto esgotado, me dei por vencido e sentei-me de vez com Dorinha no banco. E a danada da “veia”só comendo minha torrada.
Minha visão do campo ficou restrita a apenas algumas pequenas brechas entre as pernas daquela multidão que estava em pé no alambrado bem a nossa frente. Também desta forma, somente visualizávamos a faixa do campo em que nosso time atacava. Na realidade, uma inocente estratégia que, certamente, nos pouparia energia naqueles angustiantes minutos finais.
O treinador Marco Aurélio já nem mais se fazia escutar, pois, de tão rouco, se limitava apenas a correr de um lado ao outro do campo.
E para complicar ainda mais as coisas, nosso massagista sr. Cícero estava, neste dia, meio adoentado. Sentado sob a sombra de uma árvore, pedia a Deus para que ninguém se machucasse.
Tirica, nosso auxiliar técnico, após acender seu centésimo cigarro, dirigiu-se para a porta do vestiário e, “de rabo de olho”, ficou ao longe, acompanhando os minutos finais.
E começara a ultima volta do ponteiro.
Dorinha pediu uma luz à Nossa Senhora, para que lhe mostrasse alguma coisa que pudesse convencê-la de que tudo aquilo não estaria sendo em vão.
Na minha cabeça, não sei por quê, veio a lembrança do velho pai. Quanto orgulho estaria ele sentindo ao ver o neto jogar o esporte que ele tanto amava e que, por tantas e tantas vezes, foi até mesmo impedido de praticar.
Imediatamente, uma vibração, com pulos de alegria, tomou conta de todo o estádio. Sem mesmo ver o que estava acontecendo, também me levantei do banco e gritei de alegria, pois tinha a certeza que era nosso time que estava atacando naquele lado do gramado.
Dorinha, se levantando mais que depressa, não parava de gritar: É do Matheus... É do Matheus... É do Matheus...
Após subir imediatamente no banco, é que pude observá-lo vibrando como nunca. Enquanto corria como louco, beijando o escudo da camisa, era sufocado por todos os jogadores. Quanta emoção!
Não tive a felicidade de ver o gol, mas pude presenciar e sentir a vibração e a alegria daquela imensa torcida. Além, é claro, da sensação de ter tirado um gigantesco trator das minhas costas.
Biel, de imediato, logo após o gol, retornou até junto de nós com outras pessoas. Muitos abraços e apertos de mãos. Na oportunidade, confessei a ele que somente viria em jogos desta natureza após engolir um Lexotan de 6mg ou, pelo menos, depois de tomar umas duas garrafas de cervejas. Herdeiro do velho e saudoso tio Gaby não sabia mais o que falar de tanto elogiar. Fez-me prometer que teria que avisá-lo sempre que houvesse jogos, pois faria questão de nos acompanhar fosse aonde fosse. Na condição de primo, e de atuante vereador que é, disse-nos que poderíamos sempre contar com ele no que fosse preciso.
Infelizmente, uma briga generalizada veio acontecer logo após, no jogo do juvenil. De certa forma, este fato tirou um pouco da graça daquela garotada do infantil que estava, naquele momento, se preparando para receber a taça e suas medalhas.
Retornamos para casa às quatro da tarde. E que ressaca! Parecia que estávamos chegando de uma noite de carnaval.
Enfim valeu muito. E como!

E que venham outras...

Por último, um breve comentário:

Fico muito feliz e orgulhoso quando os elogios que são atribuídos ao Matheus são sempre acompanhados de lembranças e referências aos Verardos que, no passado, foram bons jogadores de futebol. Sinto apenas que, em São João, e mesmo no meio daquela multidão de quase 2.000 mil pessoas, não houvesse uma única alma viva que tivesse visto, ou mesmo ouvido falar, no talento de nosso velho pai.

7 comentários:

  1. Pelo que pude sentir esta batalha fora do campo, estava bem mais acirrada que o próprio jogo.
    (risos)

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  2. Serginho.
    Eu sei bem o que você e a Dorinha passaram nessa partida de futebol pois já tive oportunidade de assistir a um jogo com vocês em que o Webinho e o Matheus atuaram juntos.
    Que é um sufoco é.
    Beijo no Matheus.
    Sônia

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  3. Assistir ao jogo nervoso, ansioso ainda passa! Pior é ter ficar sem as torradas!!!
    Aí já foi demais!!!Rsrsrsrsr
    Zeleno

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  4. Soninha!
    Realmente foi muito agradável e divertido podermos estar naquela oportunidade assistindo um jogo com você. Alem do mais, aquele descontraído bate papo, nos dava uma boa relaxada enquanto o jogo “pegava fogo” dentro de campo. Pena que hoje, nem sempre Webinho e Matheus, estão atuando juntos.

    Abraço forte

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  5. Não é fácil assistir uma partida de futebol qdo seu filho é um dos jogadores.Nossa Senhora!!Que sufoco!!! Mas no final de tudo dá uma sensação gostosa...Esperamos o próximo rsrrsr

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  6. O Serjão está achando que esta coruja que eu coloquei aí para ilustrar o post é uma homenagem ao "ninho da coruja". Mas, na realidade, é uma homenagem aos pais "corujões" que ficaram colados, com razão, ao filhote, até o último minuto.

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  7. Mas compensou...
    Valeu o sufoco, não valeu?
    Jorge tem tem razão. São pais corujas mesmo.E isto é maravilhoso.
    Hoje, meu beijo é pro Matheus.
    Tia Mika

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