quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

OS FILMES QUE EU VI NO CINE BRASIL


O PODEROSO CHEFÃO
(Comentário - Jorge Marin)

Quem gosta de cinema sabe que os grandes filmes são eternos: a emoção da primeira vez se renova a cada exibição e novos detalhes são revelados. Assistir, de novo “O Poderoso Chefão” é, ao mesmo tempo, um prazer, uma aula de cinema e um ato obrigatório a todo cinéfilo que se preze.
O filme surpreende porque é contado ao contrário. Explico: geralmente os filmes de gangsters ao qual estávamos acostumados, naqueles idos de 1972, mostravam cenas externas de perseguições, tiroteios e hotéis suspeitos. No filme do diretor Francis Ford Coppola, somos jogados diretamente dentro da casa do poderoso chefão, ou do padrinho, como se diz em Portugal, numa tradução mais fiel ao título em inglês. Participamos, como convidados, do casamento da filha de Don Vito Corleone (Marlon Brando), e testemunhamos o vai-e-vem de convidados que vão beijar a mão do padrinho, jurar fidelidade e, às vezes, pedir algum favor, mesmo sabendo que isto implica em ficar em dívida com o Don, o que pode ser bastante perigoso, ou não.
Baseado no livro homônimo de Mario Puzo (que foi também o autor do roteiro, habilmente alterado por Coppola), o filme narra a história da família Corleone, que sabemos mafiosos embora a palavra Máfia não seja mencionada em nenhum momento. A família controla grande parte dos negócios ilegais em Nova Iorque, além de ter em sua folha de pagamento, policiais, delegados, juízes e parlamentares, um hábito que parece ter permanecido em alguns países até os dias de hoje. Don Corleone prepara seu filho Sonny (James Caan) para substituí-lo, pois sempre exige sua presença e lhe repassa todas as informações sobre os negócios. O contrário ocorre com o filho caçula, Michael (Al Pacino), herói da Segunda Guerra Mundial, que vive como civil, mas com uma carreira política sonhada pelo velho pai.
Com o desenrolar da trama, percebemos que o personagem principal do filme é justamente o jovem Michael, que é obrigado a rever seus conceitos a partir da reação das famílias à decisão de Don Corleone, que se posiciona contra a introdução do tráfico de drogas na cidade. Não por acaso, nas duas sequências do filme, é Al Pacino quem aparece nos cartazes. E o curioso é que Al Pacino não era o favorito dos produtores para interpretar o personagem: teve que “derrotar” Jack Nicholson e Dustin Hoffman.
Isto não quer dizer que a atuação de Marlon Brando seja menor. Sua personificação do velho chefe mafioso é memorável. Com as bochechas aumentadas pela maquiagem, sua mandíbula praticamente não se move e, no entanto, ele consegue ser o centro das atenções, apesar da voz meio rouca e asmática. É como se ele fosse uma pessoa que não precisasse falar alto, devido ao respeito naturalmente prestado por todos ao redor. O papel rendeu a Brando o Oscar de melhor ator, prêmio recusado pelo mesmo, que enviou à Academia uma atriz chamada Maria Cruz caracterizada como uma índia americana, com um discurso contra a discriminação que o governo americano fazia aos nativos.
Nos demais papéis, temos Diane Keaton praticamente em início de carreira, interpretando Kay Adams, mulher de Michael, totalmente alheia ao mundo sórdido adotado pelo marido, o que vai render bons conflitos nos próximos filmes da trilogia. Outra atuação magnífica é de James Caan, como o passional Sonny Corleone, violento, mulherengo e perigosamente destemido. Além do difícil papel de Robert Duvall (que trabalharia com Coppola em Apocalypse Now) na pele do advogado da família, Tom Hagen, o consigliere, missão duplamente difícil, tanto pela ilegalidade brutal dos negócios, como pelo temperamento explosivo de Sonny.
A fotografia do filme, de Gordon Willis (o favorito de Woody Allen), é pura arte, com nuances de cores, como no início do filme, onde os tons de marrom avermelhado assemelham-se às primeiras fotos coloridas publicadas por jornais, efeito obtido pelo cineasta por filmar, segundo ele, no horário mágico, pouco antes do crepúsculo do sol. Outro ponto alto é a música de Nino Rota, que dá o clima felliniano ao filme, com o inesquecível tema que nos remete ao que a Itália tem de melhor.
Por falar em Itália, igualmente marcantes são as cenas gravadas na Sicília, bem como: a festa de casamento, o horror do produtor de cinema (a cabeça de cavalo é real), a tentativa de assassinato na barraquinha de frutas, a água saindo do hidrante no espancamento do marido violento e o batizado.
Foram apenas três Oscars (roteiro adaptado, ator e filme), mas são três horas de puro deleite e atenção integral. O filme acaba e ficamos ainda com a sensação, de que necessitaríamos saber mais alguma coisa ainda sobre alguns personagens. Muito das intenções e justificativas só poderão ser conhecidas com a leitura do livro. Mas a maioria das emoções é revelada pelo simples olhar de cada ator, pelos gestos e até mesmo pelo silêncio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL