Foto publicada no blog jeffnamyra.blogspot.com
Dia 08 de abril de 1977 era uma segunda-feira sombria. Depois do feriadão da Semana Santa, aquela era uma noite especialmente escura e chuvosa em São João Nepomuceno: o vento descia a Rua do Sarmento, fazendo bater janelas e assustando uns poucos clientes que teimavam em ficar papeando no Bar Central. Do outro lado, em frente ao Correio, e até a Praça do Coronel, também não havia viva alma. Era como se o vento, passando veloz, houvesse varrido das ruas, todo vestígio da civilização humana. O Cebolinha era um deserto e, no Bar do Tchan, também vazio, alguém guardava uma penca de bananas debaixo do balcão.
Como os jovens gostam de andar em bando, era de se supor que ninguém saísse de casa, pois era melhor ficar assistindo à novela Locomotivas, do que se aventurar por aquelas ruas com um aguaceiro prestes a cair. Quem era louco de sair? Mas, tem sempre um. Dois no caso: Serjão Missiaggia e Jorge Marin. Os dois se encontraram ali na avenida Zeca Henriques, como sempre faziam e, a despeito do mau tempo, e do vento, e da solidão da noite, foram cumprir sua missão noturna diária.
Bons amigos, iam falando de tudo: das meninas, das garotas, das gatinhas, além do último número da revista Homem (era como se chamava a revista Playboy naquele tempo) que trazia, na página central, as gatas do programa Planeta dos Homens. Ah, finalmente, falavam também do Botafogo, aquele super-time com Osmar Guarnelli, Mendonça, Mário Sérgio, Rodrigues Neto, Nilson Dias e Paulo César Lima, mas que havia obtido uma vitória magrinha de apenas 1x0 sobre a Portuguesa.
Resumindo: apesar do paisagem sinistra, com os dois amigos tudo era só alegria e muita conversa interessante. Embora o destino dos dois fosse a Praça Carlos Alves, havia um ritual a ser cumprido e ambos seguiram caminho rumo à Praça do Coronel, passaram em frente à casa do Dr. Nagib, desceram em frente à casa do Dr. Írio e assobiaram para os patos, até chegar na Rua Duque de Caxias, onde desceram rapidamente, pois já estava começando a chuviscar.
Chegando à praça, caminharam rapidamente para cumprir sua missão: o destino era a Sinuca do Pintinho. Lugar meio reservado, nos fundos da União, onde, ao contrário da Sinuca do Cida – repleta do playboyzinhos e coroas – encontravam-se os homens, homens de verdade, policiais, caminhoneiros, malandros e uns tantos pinguços que apareciam e eram enxotados pelo sempre respeitado Ronald Pinto.
Mas o que dois rapazes, como o Serjão e o Jorge faziam num lugar daqueles, onde o jogo era “a valer” e os campeões apostavam para ganhar dinheiro?
Por mais de uma vez, seu Tuninho e seu Irenio chamaram os filhos para uma conversa, dizendo que aquele lugar não servia para eles, mas os dois, como bons adolescentes saindo da adolescência, eram rebeldes, tinham a sua mesa, justamente aquela na qual ninguém gostava de jogar e brincavam, simplesmente brincavam pois mal tinham dinheiro para pagar uma hora de jogo.
Naquela noite, no entanto, tudo seria diferente...
CONTINUA AMANHÃ>>>
(Crônica: Jorge Marin)
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