Arte digital por Alissia
Ouço o resultado do julgamento: quase cem anos de prisão para o assassino, a mãe feliz na medida do possível e a moça morta. Daqui a pouco, mais um capítulo inédito da novela mais uma cena picante do reality show. Isto é, tudo vai normalmente bem e ainda tem Carnaval no final de semana.
Apesar da justiça ter sido feita, e eu nem sei bem o que é isso (justiça?), me sinto terrivelmente mal. Dói-me ver, pela centésima vez, a moça com os dedos trêmulos na janela, dizendo estar tudo bem e, um pouco mais tarde, morta nos braços de um policial. Causa-me até uma certa revolta, que eu não sentia desde os tempos de FHC, quando vejo aquele moço falando eloquentemente, questionando a juíza, pedindo perdão à família, e agindo como se tivesse batido com um carro emprestado.
Sei também que não devia, mas sinto uma grande raiva da profissão de advogado, embora reconheça que a classe foi muito mal representada no júri.
Eu sei que deveria estar feliz e orgulhoso da justiça do meu país, mas me permito ser politicamente incorreto e digo, com todas as letras, que gostaria mais de ter visto alguém, um policial, o tal do franco atirador arrebentando os miolos desse rapaz com um tiro certeiro.
É incorreto pensar assim? Eu sei que alguns pensam que é, que não vivemos na barbárie e até mesmo que, se assim fosse, o país iria se transformar num selva. Mas, sinceramente, eu preferiria que o país se transformasse numa selva. Porque, na selva, as coisas seguem um sistema e a violência, quando ocorre, segue uma lógica da cadeia alimentar. Na selva, um macho rejeitado não assassina a fêmea, filhotes não atacam os pais e um animal inferior não treita com um superior porque sabe o que pode acontecer.
Racionalmente, eu sei a importância de um estado de direito, e penso até que esse desconforto meu pode ser um sinal de senilidade que pode estar vindo por aí. Mas, eu não falo de leis escritas, falo de leis naturais, e, principalmente, de sentimentos. A sociedade brasileira estará tranquila? Tudo o que sabemos é que, se uma filha nossa for assassinada por um namorado ciumento, e se este não for de uma classe social mais elevada, e se for dada uma boa visibilidade na mídia, então o meliante poderá ser condenado à pena máxima para ser solto após cumprimento de um terço da mesma. É o que ocorreu, mas eu ainda acho muito pouco. Não advogo a pena de morte como uma forma de vingança, porque acho que aplicar a pena de Talião é dar à família da vítima uma chance de ter prazer com uma morte, coisa que eu não vejo muita utilidade nem mesmo desejo naqueles sofridos familiares.
No entanto, saber que um criminoso com as características do réu em questão jamais estaria livre para repetir o seu crime me deixaria mais confiante na justiça, ainda que a solução fosse mesmo a execução. Aqui, sei que muitos argumentarão sob o ponto de vista cristão do perdão e outras coisas, mas, por acaso, não foi o próprio Cristo que, em Mateus (5,13) disse: “vós sois o sal da terra. Se o o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o sabor? Para nada mais serve senão para se lançado fora e calcado pelos homens.”
Portanto, desculpem-me, mas, se um ser humano tem o direito de agir dessa forma e pagar aquele preço que a Justiça determina, acho que cada um de nós tem o direito de expressar o seu desagrado. E exercer também o seu direito de pai de exigir respeito às pessoas. E exercer o seu dever de cuidar dos seus filhos, e fechar-lhes, sempre, as portas que os levem a caminhos sabidamente perigosos.
Findo esse episódio, há que se pensar na correção das decisões tomadas, mas também que se avaliar os sentimentos suscitados. E lembrar Sartre: “detesto as vítimas quando elas respeitam os seus carrascos.”
(Crônica: Jorge Marin)
Acho que não temos que ficar cheio de dedos com esse criminoso não: ele mesmo disse que estava em dúvida entre um anjinho e um capetinha e que escolheu o capetinha. Ora, nesse caso, ELE QUE VÁ PARA O INFERNO!!!
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