Estando
a três dias das eleições, onde a expectativa já se tornou um fato bastante
evidente, resolvi, no intuito de dar uma boa descontraída aos leitores e
eleitores, relembrar este fato verdadeiro e muitíssimo surreal, que ocorreu
comigo no século passado. A coisa teria acontecido mais ou menos assim:
Estava
eu passando pela Rua Nova quando, na esquina com a Rua Joaquim Murtinho, um
fato muitíssimo estranho aconteceu. O exato lugar, se não me falha a memória em
julho de 1975, tornou-se palco de uma cena não comum a moradores e transeuntes
daquela redondeza.
Naquele
inesquecível dia, tornei-me personagem principal de um cômico e dramático
episódio, que teve como coadjuvantes dezenas de pessoas que por ali passavam: moradores,
curiosos, palpiteiros etc.etc.etc. Foi uma cena incomum, e tais pessoas jamais
poderiam imaginar que ficariam gravadas, anos e anos, na história da já famosa Rua
Nova.
Vamos
ao fato. Até pouco tempo atrás, havia no referido local um poste de ferro, idêntico
ao de nossa ilustração acima, que servia à sinalização de trânsito, cuja
característica era possuir esses pequenos orifícios espalhados em sua base.
Passar por ali era rotina obrigatória das idas e vindas do namoro, tornando-se
local predileto das brincadeiras que eu, religiosamente, fazia toda vez que ali
passava.
Uma
das brincadeiras exigia de mim uma precisão invejável que, por sinal, era
muitíssimo bem ensaiada. Consistia em enfiar o dedo rapidamente num desses
buracos e, ante o perigo de ficar preso, deixaria assustado as pessoas que me
acompanhavam.
Um
belo dia... Não sei se por azar, erro de cálculo ou mesmo se engordei de um dia
para o outro, ao enfiar, mais uma vez, o dedo num daqueles buracos, um calafrio
no corpo me fez compreender que havia entrado verdadeiramente pelo cano, ou
melhor, pelo poste. Senti uma sensação diferente, era como se escutasse ao pé
do meu ouvido: - DESSA VEZ EU TE PEGUEI!
Provavelmente, teria
sido um erro de cálculo, pois, após estudar minuciosamente o ocorrido, descobri
que, ao introduzir o dedo com um pouco mais de pressão no buraco, deixei que as
juntas penetrassem além do costume.
E
ali estava eu. Por um erro de cálculo, tornei-me um indefeso prisioneiro de um
poste e, o que é pior, exatamente na Rua Nova, que sempre foi uma das mais
movimentadas da cidade.
Em
vão, fiz as primeiras tentativas de escapulir dali. Procurei disfarçar, mas
impossível. Já alguns curiosos começaram
a circular ao meu redor e aglomerar ao meu lado, enchendo-me de palpites,
piadinhas e gozações. E eu ali indefeso,
preso e já começando a ficar preocupado.
Um
infeliz, já meio alcoolizado, passou pelo local e, com aquele bafo de pinga e
aquele olhar pesado, olhou para mim, olhou para placa, novamente olhou para mim
e, colocando a mão em meu ombro, sussurrou baixinho em meu ouvido:
-
Gente boa, fica frio, a placa é somente de contramão, mas só o dedinho pode! -
Depois dizem que bebum não pensa!...
Fui
levando tudo na brincadeira, pois, até então, acreditava que sair dali era
questão de momentos ou certa perícia e isto eu acreditava que tinha. O número
de curiosos aumentava a cada instante e, entre uma piadinha e outra, chegou um
senhor, que, com muita educação, foi pedindo licença a todos, fazendo chegar
até a mim uma cadeira, ou melhor, um banquinho amarelo-ouro, sem encosto, duro
e bem desconfortável. Mas valeu, pois já um suor frio principiava a dar sinal
em meu corpo. Foi naquela hora, que
comecei a pressentir que a coisa era bem mais séria do que eu pensava.
O
suor começou a escorrer! Imaginem só, uma pessoa sentada num banquinho amarelo-ouro,
no meio da calçada, com uma mão na cintura, a outra mão a meia altura, fazendo
sei o quê, num poste qualquer, em plena Rua Nova! Ou é maluco ou é promessa!
E
o suor aumentava... Vontade de fazer xixi... Aí também não!... Chega o Zé da
Carroça! Olha daqui, olha dali e meio
desconfiado, tirou o cigarro de palha da boca e foi logo dizendo besteira:
-
Procupa não moço!!! Se ocê não saí por
bem, nóis ranca com o poste e tudo!!!
Naquele
momento, as gotas de suor já escorriam pelo rosto e as mãos começavam a ficar
frias. Ouvi então, do meio da multidão,
a palavra cavadeira. Aí também não!... Ficar
aqui agarrado ainda passa! Mas, sair daqui levando comigo um poste, nem
pensar!... Está fora de qualquer cogitação!!! E depois... levar para onde?
Hospital?.. Prefeitura?..Ferreiro de plantão?.. Jamais.!!!! E a minha
reputação?
Imaginem
vocês o que significa uma notícia dessas no rádio ou jornal de uma pequena
cidade do interior como a nossa: "Genro do Barroso dá entrada no Hospital
S. João acompanhado de um poste". Seria cômico se não fosse triste.
A
esta altura, o suor já pingava no chão.
Então, entre licenças e abre caminho, chega uma senhora moradora da rua,
trazendo-me, gentilmente, água com açúcar, bolachas e algumas palavras de
consolo. Vendo-me comprimido por tantas
pessoas, anunciou-me que estava quase na hora de começar um dos últimos
capítulos da novela das oito e que a coisa ali ia serenar um pouco, pelo menos,
durante a novela. Na hora, já sem esportiva, perguntei:
-
A senhora tá achando que vou ficar aqui até que horas?!
Entre
risos, um senhor que não conheço, começou a pedir que as pessoas se afastassem
um pouco por causa do calor, mas ninguém queria de forma alguma arredar o pé, e
olhem que a novela já havia até começado! O engraçadinho da cavadeira, que
estava há algum tempo quieto até demais para o meu gosto, manifestou-se
novamente do meio da multidão, e, com uma pequena torcida organizada, erguia as
mãos para o alto e, em coro, gritavam freneticamente:
-
Cavadeira!... Cavadeira!... Cavadeira! - Em meio ao alvoroço, os ânimos
começaram a se exaltar e, num ranca, num ranca, ranca, num ranca, comecei a me
desesperar.
Eu
já estava prestes a entrar em pânico. Um calafrio percorreu todo meu corpo.
Falaram em serrar o poste, cortar meu dedo e, quando o caso parecia mesmo sem
solução, eis que surge, inesperadamente, um enviado das alturas, carregando em
suas mãos, a poção mágica e grandiosa, conhecida por nós, simples mortais, pelo
nome de sabão. O velho e eficiente sabão que, misturado com um pouco de água,
foi aos poucos e lentamente, retirando o quase desfalecido e inchado dedão.
Então,
sob uma calorosa salva de palmas, fui rapidinho procurando meu rumo, não sem
antes ver, ou melhor, cruzar com um carrinho de pipocas e um menino vendedor de
picolés que, apressadamente, dirigiam-se ao local, na expectativa de faturarem
às minhas custas. Haviam sido informados que ali o movimento prometia muito.
Dessa pelo menos eu escapei!
No
mais, já que o nosso assunto de hoje foi POSTE, desejo a todos uma eleição ILUMINADA e, se possível, com muita LUZ frente
às URNAS.
Crônica e foto: Serjão Missiaggia.
Que horror mano! Você era levado em? Ainda bem que ninguém correu para buscar o Sô Tuninho e a D. Venina!
ResponderExcluirDesculpa aí cunhado, mas não consigo parar de rir imaginando a cena kkkkkk
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