Interessante
como o tempo foi passando assim tão rápido para, num piscar de olhos, percebermos
que já se foram QUARENTA ANOS da aventura mais famosa e mística do Grupo
Pitomba. Uma história já contada aqui no Blog, que iremos relembrar agora em
função dessa data tão significativa, e também pelo aumento considerável de
amigos que fomos adquirindo desde sua última postagem. Devido ao tamanho do
texto original, tentarei ser o mais sucinto possível, mas, devido aos inúmeros
detalhes, terei mesmo que fazê-lo pelo menos em dois capítulos.
Mas,
ainda antes de começar a narração desse nosso misterioso contato sobrenatural, abrirei
um pequeno espaço para uma reverência especial a cada um dos componentes do
Pitomba. Isso porque o grande diferencial do grupo sempre foi a sincera amizade
que nos unia. Fosse onde fosse: no colégio, nos esportes, em viagens, por
detrás de alguma experiência maluca, ou, simplesmente, pra testar alguma nova
invenção. Era
dia, era noite, no palco ou fora dele, lá estávamos nós, com aquela alegria e
muito humor que, por sinal, era nossa principal característica.
Pois
bem... Foi numa dessas noites do passado que começou nossa história, aonde
fatos abracadabrantes e até de certa forma cômicos, vieram a acontecer. Tudo
começou por volta de 21h00min de uma noite fria de meio de semana, quando
alguns componentes do grupo combinaram sair a passeio, com a velha Vemaguet de
nosso guitarrista e também comandante da tropa. Após percorrermos, por várias
vezes, os mesmos lugares da cidade, e já cansados da rotina, resolvemos então
voltar para casa. Foi quando, naquele instante, alguém teve a infeliz ideia de
irmos até o trevo para curtirmos um pouco mais aquela noite. E para lá
seguimos...
Logo
que chegamos, de imediato fomos estacionando a Super-Vemaguet debaixo de uma
árvore, num canto privilegiado do lugar, enquanto íamos ligando o toca-fitas e abrindo
as portas, para que saísse do interior do veículo, aquele cheiro de óleo
queimado que seu motor sempre exalava. A noite estava linda, porém um pouco
escura, já que não havia lua naquele momento. Vagalumes passeavam ao nosso lado
sem cessar, enquanto admirávamos o céu infinitamente estrelado e acolhedor.
De
repente, quando ninguém estava esperando, eis que nosso vocalista, sentado no
banco traseiro, solta um tremendo pulo e começa a entrar em desespero. Olhando justamente
para o lado do campo de aviação, extremamente confuso e assustado, ficava, aos
gritos, apontando o dedo para o referido local, tentando nos dizer alguma
coisa:
-
HAHAHALÁ!!!HAHAHALÀ,
-
QUE É AQUILO LÁ EM CIMA!!!?
-
HÉHÉHÉ!!! UM DISCO VOA...!!!
No
susto, nosso motorista-guitarrista e também chefe da delegação, ainda mais apavorado,
mesmo sem saber o que estaria acontecendo, foi tentando, de qualquer maneira,
ligar a bendita Vemaguet que, para variar, não dava partida e muito menos ia
para frente e nem para trás. Algum de nós tentávamos em vão empurrá-la,
enquanto a maioria procurava mesmo era esconder atrás do que encontrava pele
frente.
Pensei
seriamente, naquele momento, em sair correndo para a fazenda Santa Fé, mas, naquela
escuridão, provavelmente os cachorros é que iriam correr atrás de mim. Nosso
saudoso baterista ficou estático na poltrona de trás e mal se mexia. Tremendo,
e de olhos arregalados, dizia que não gostava dessas coisas e que nem iria
olhar. Na realidade, ele ficava mesmo era analisando a reação de cada um de
nós, para ver em qual situação de fuga se enquadraria melhor.
Naquela
hora, o que nos restou foi respirar fundo, unir nossos medos e encarar a
situação de frente. Procuramos, num breve pacto de lealdade, nos conscientizar
que poderia ter o destino nos reservado aquele momento, que, com certeza, seria
único em nossas vidas. Chegamos até a viajar com a imaginação, vislumbrando as
possíveis notícias que circulariam em todos os jornais, ou seja, nossos retratos,
estampados em primeira página, destacando a mais espetacular manchete: "Primeiro
contato imediato documentado e fotografado do Brasil”.
Mas,
enquanto nos consolávamos nesse pensamento, procurávamos imaginar alguma coisa
que pudéssemos fazer de momento. Tendo em vista que o objeto permanecia imóvel,
passivo, parecendo sempre nos observar, resolvemos, numa breve reunião (sem
unanimidade), dar uma ida até lá em cima e checar, do outro lado do campo, do
que realmente se tratava.
Subindo
pelo morro dos Marimbondos, procurávamos ter o cuidado de não perder de vista
aquelas janelinhas iluminadas e misteriosas que ficavam a brilhar lá no alto. Na
época, era tudo bem mais deserto, pois carros somente passavam vez ou outra. Não
havia uma única casa no meio do caminho, e muito menos uma santa alma que
pudesse descontrair e compartilhar conosco o momento. A Vemaguet mais parecia
uma peneira furada, pois, enquanto subia engasgando morro acima, a poeira nos
sufocava e nos pintava de amarelo.
Quando
lá chegamos, vimos que pouca coisa havia mudado, e que a nossa visão do objeto
continuava a mesma. Dessa forma, só na tocaia e observando ao longe, ficamos
por um bom tempo. Nós de uma extremidade do campo e aquela coisa do outro. Foi
aí, exatamente naquele instante, que começamos a sentir que somente com uma
arriscada aproximação poderíamos ver melhor. Na realidade, nem sei se alguém
era mesmo a favor de alguma coisa, pois o que sentíamos, com certeza, é que uma
força sobrenatural e impulsiva nos levava sempre a seguir adiante. Foi o que
fizemos!
Nosso
comandante e motorista achou por bem fazer a aproximação de traseira, ou seja,
de marcha à ré, pois, segundo ele, diante de uma possível retaliação dos ET’s,
teríamos mais agilidade para, numa possível fuga de emergência, já estarmos
apontados para a frente. E assim foi.
À
medida que, passo a passo, fazíamos a aproximação, nossa adrenalina ficava a
mil e o coração batia cada vez mais forte. Após percorremos mais ou menos uns
50 metros, nosso comandante, ameaçando um pequeno descontrole emocional, soltou
um grito de pavor e afundou com toda força o pé no acelerador. Como já
estávamos avançando de traseira, ao invés de batermos em retirada saímos mesmo
foi enfoguetados de marcha-ré ao encontro do desconhecido. Foi aí que, fazendo uma
incrível curva de traseira, num ângulo de quase 180 graus, por muito pouco não
fomos jogados barranco abaixo, bem em cima da antiga sede do Tiro de Guerra. Saímos
numa velocidade que só Deus sabe e somente obtida porque a Vemaguet estava
morro a baixo. Foi quando alguém ainda teve a petulância de gritar pela janela:
PEGA NÓIS SE FOR CAPAZ!
Uma
nuvem sufocante de poeira foi tomando todo o interior da Vemaguet, enquanto a cabeleira
black power de nosso baterista ia se
destacando ainda mais no escuro, parecendo um turbante amarelo. Descendo de lá
igual a um foguete, passamos pelo centro da cidade, ante os olhares curiosos de
algumas pessoas que ainda se encontravam na praça. A partir daquele momento, já
começávamos a deixar a população com a pulga atrás da “oreia”, pois já deveriam
ser umas onze da noite. Naquela época, as coisas eram bem diferentes, sendo que
qualquer zum-zum-zum naquele horário era motivo pra despertar uma baita
atenção.
Foi
naquele exato momento que resolvemos então seguir para o Observatório Astronômico
local e chamar um amigo nosso, profundo conhecedor desses assuntos. Para lá nos
dirigimos... Ao chegar à sua casa,
enquanto ficávamos, de dentro do carro, a chamar pelo seu nome, procurávamos,
por precaução, manter o motor da velha Vemaguet ligado. Ele, de imediato,
apareceu na janela com o rosto todo pintado com uma pomada para espinhas, pulou
mais que depressa o murinho da varanda e, sem mesmo limpar a cara, entrou
rapidamente na Vemaguet. Saímos velozmente passando mais uma vez na praça, aos
olhares curiosos de pessoas que nada entendiam o que estava acontecendo.
Seguindo
primeiramente para o trevo, fomos tentando refazer todo o trajeto novamente. Logo
que lá chegamos, observamos que a situação continuava a mesma. Nosso astrólogo,
muito impressionado com aquela visão, começou a comandar uma verdadeira
operação de guerra. Imediatamente, pediu ao nosso comandante e motorista que
subisse com o carro no canteiro e, com a frente virada para cima, apontasse os
faróis em direção ao morro. Enquanto ficava a nos dar uma pequena aula de boas
maneiras e de como ser bons anfitriões, pedia, insistentemente, que os faróis
fossem sendo piscados ininterruptamente em ritmos alternados. (Provavelmente,
seria um código, que somente, ele e os irmãos alienígenas conheciam!).
Num
clima sinistro e de dar arrepios, sentimos que aquela aventura começava mesmo é
a ficar cada vez mais séria. Vendo que aquela coisa parecia não estar nem aí pra
gente, e sentindo que uma aproximação mais delicada seria inevitável, resolvemos
chamar então o pai do nosso amigo astrônomo, que, com seus 80 anos, ouvindo mal
e andando com dificuldades, iria, com sua imensa experiência e sabedoria, nos
ajudar bastante no front. Isto pra não falar também que se tratava de uma
pessoa respeitadíssima na comunidade cientifica brasileira, principalmente
depois de ter sido o primeiro astrônomo do Brasil, ou do mundo, a fotografar um
cometa.
E
lá, fomos chamá-lo, subindo novamente, a toda velocidade, o morro da Matriz. Algumas
pessoas que ainda estavam na praça só faltavam se jogar na frente do carro,
tamanha a curiosidade. Já haviam se passado umas duas horas e, num intenso sobe
e desce de morro, chegamos novamente à casa do mestre astrônomo. Para nossa
surpresa, eis que surge ele na varanda e, de pijamas e toquinha na cabeça, foi
logo nos dizendo de imediato:
-
EU VOU, MAS SE NÃO FOR NADA, VOCÊS ME PAGAM! NÃO GOSTO DE DE PERDER MEUS
FILMES!
Enquanto
isso, a velha Vemaguet ia sendo entupida com lunetas, pedestais, câmeras,
bússola, biscoitos, facão, cantis com água, mais facão, uma barraca do exército
e aparelhos estranhos que nós mesmos nem conhecíamos. Já não cabia um fio de
cabelo dentro do carro e alguns tiveram até que ir sentados no colo dos outros.
A movimentação era tão intensa, que não havia uma única casa no largo da matriz
que não estava com pessoas na janela. Espantados e curiosos, pareciam premeditar
que coisa não muito boa estaria para acontecer.
Como
se não bastasse, além da cabeleira de nosso baterista que ficava a pinicar
minha orelha, e uma enorme luneta que espremia a ponta do meu nariz, ainda tive
que ir sentado em cima de uma coisa estranha, possivelmente um daqueles facões.
E lá fomos nós novamente ao campo de aviação, desta vez decididos a ficar
frente a frente com os irmãos alienígenas. Era tudo ou nada, ou seja, “nóis” ou
eles! (CONTINUA)
Crônica : Serjão Missiaggia
Fotomontagem:
Jorge Marin
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