sexta-feira, 19 de agosto de 2016

NÓS, OS JOVENS... DOS ANOS 70s


Duas de minhas últimas crônicas vieram se encontrar numa encruzilhada triste e sem esperança.

Explico: quando falei dos sessentanos do meu amigo Gilberto, percebo que todos nós, que costumávamos aprontar no Operário, na pracinha do Botafogo e adjacências, estamos chegando aos sessenta. Silveleno e Dalmin já chegaram; Renatinho também; o Serjão daqui a pouco, e eu um pouquinho mais pra frente.

A outra crônica que penso que vem, mas às vezes nem vem, encontrar com esta de hoje é aquela da caçada de Pokémon no Parque Halfeld. Gente, ao andar no meio daquela molecada, que muito me lembrou as algazarras que fazíamos na saída do Grupo Velho, deparei-me com umas três fileiras de mesinhas com tabuleiros de dama, e uma multidão de uns cem aposentados jogando.

De repente, me bateu aquela inadequação: poxa, será que não deveríamos nós todos, pitombenses e fãs, estar ali sentadinhos jogando dama?

Será que os idosos não deveriam ficar daquele jeito, num cantinho da praça, esperando a sua hora chegar? Hora aí, vocês sabem, é a morte!

Mas, peraí! Será que a minha velhice é a mesma velhice daqueles cem jogadores de dama? Ou será que a minha velhice é só minha? Uma continuação da minha infância sonhadora, da minha juventude louca, da minha vida atribulada de adulto?

Outro dia, conversando com o Serjão, sobre as perspectivas futuras, ele me surpreendeu com a seguinte afirmação:
- Cara, tô achando uma pena a gente estar fazendo só sessentanos, porque, quando chegarmos aos setenta, vamos juntar o Pitomba de novo, e fazer uma turnê mundial, igual aos Rolling Stones, pois eles estão todos com mais de setenta e acho que ainda estamos muito jovens pra essa empreitada.

Lembrar disso me deu um alívio, e continuei, praça afora, a buscar o tão desejado Dragonite. Depois, saindo do clichê, dos pensamentos fatalistas, e daquela bobagem de que, na velhice, nada presta, voltei para as mesas de dama. Ao contemplar a felicidade, as brincadeiras e as zoações daqueles velhinhos que ficam ali a tarde toda jogando (talvez essa história de comer dama tenha algum significado inconsciente), percebi que a vida é boa justamente porque, como numa festa, sabemos que há um momento em que ela termina.

Festa sem fim não existe. Vira tortura.

Crônica: Jorge Marin

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