Duas de
minhas últimas crônicas vieram se encontrar numa encruzilhada triste e sem
esperança.
Explico:
quando falei dos sessentanos do meu amigo Gilberto, percebo que todos nós, que
costumávamos aprontar no Operário, na pracinha do Botafogo e adjacências,
estamos chegando aos sessenta. Silveleno e Dalmin já chegaram; Renatinho
também; o Serjão daqui a pouco, e eu um pouquinho mais pra frente.
A outra
crônica que penso que vem, mas às vezes nem vem, encontrar com esta de hoje é
aquela da caçada de Pokémon no Parque Halfeld. Gente, ao andar no meio daquela
molecada, que muito me lembrou as algazarras que fazíamos na saída do Grupo
Velho, deparei-me com umas três fileiras de mesinhas com tabuleiros de dama, e
uma multidão de uns cem aposentados jogando.
De
repente, me bateu aquela inadequação: poxa, será que não deveríamos nós todos,
pitombenses e fãs, estar ali sentadinhos jogando dama?
Será que
os idosos não deveriam ficar daquele jeito, num cantinho da praça, esperando a
sua hora chegar? Hora aí, vocês sabem, é a morte!
Mas,
peraí! Será que a minha velhice é a mesma velhice daqueles cem jogadores de
dama? Ou será que a minha velhice é só minha? Uma continuação da minha infância
sonhadora, da minha juventude louca, da minha vida atribulada de adulto?
Outro
dia, conversando com o Serjão, sobre as perspectivas futuras, ele me
surpreendeu com a seguinte afirmação:
- Cara,
tô achando uma pena a gente estar fazendo só sessentanos, porque, quando
chegarmos aos setenta, vamos juntar o Pitomba de novo, e fazer uma turnê
mundial, igual aos Rolling Stones, pois eles estão todos com mais de setenta e
acho que ainda estamos muito jovens pra essa empreitada.
Lembrar
disso me deu um alívio, e continuei, praça afora, a buscar o tão desejado
Dragonite. Depois, saindo do clichê, dos pensamentos fatalistas, e daquela
bobagem de que, na velhice, nada presta, voltei para as mesas de dama. Ao
contemplar a felicidade, as brincadeiras e as zoações daqueles velhinhos que
ficam ali a tarde toda jogando (talvez essa história de comer dama tenha algum
significado inconsciente), percebi que a vida é boa justamente porque, como
numa festa, sabemos que há um momento em que ela termina.
Festa sem
fim não existe. Vira tortura.
Crônica:
Jorge Marin
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