As coisas
que acontecerão nesta crônica, eu não sei se poderia chamá-las propriamente de
coisas, mas talvez fossem fatos. De uma forma ou de outra, nada foi registrado
fisicamente a não ser, talvez, alguns impulsos elétricos na cabeça de um
sexagenário, o que, vamos combinar, não se trata de fonte assim tão confiável.
No
passado, não mentíamos, pelo menos era o que pensavam nossos pais, os padres e
os militares. No entanto, embora pensassem que não mentíamos, e vou logo
dizendo que mentíamos pra caramba, o fato é que nos tratavam como criminosos.
Quanto mais bonzinhos, mais éramos submetidos a interrogatórios e acareações
embaraçosas.
Mas,
afinal, do que você está falando, homem? Quero chegar, justamente, naquele
momento em que todo menino se transforma em homem, e, principalmente, daquele LOCAL
onde isso acontece. Acontece não; acontecia, pois hoje o homem se faz homem, ou
não sei se se faz, de tantos outros jeitos, que caberia aqui uma enciclopédia
para explicar todas as variáveis.
Depois,
se eu esquecer de explicar para os mais novos o que é uma enciclopédia,
procurem no Google.
Era o ano
de 1968, e o meu Botafogo havia sido campeão quando fui no tal lugar.
- Muito
bonito, hein sêo Jorge, o senhor acha que já tem idade pra frequentar este
local? – era o meu pai falando quando eu e mais dois colegas fomos LÁ. Eles
eram um pouco mais velhos do que eu, mas o meu pai me surpreendeu por dois
motivos: primeiro porque surpreendeu mesmo, de susto, mas, principalmente,
porque nunca pensei que o encontraria NAQUELE local.
A gente,
para falar a verdade, sabia muito bem o que os homens faziam, aquela história
toda de ginga, a deitada, buracos e a levantada triunfal. Se acertasse, e desse
tudo certo, é claro.
Não
tínhamos vergonha da coisa em si. O que mais temíamos era não dar conta, e os
amigos que também frequentavam o local ficarem sabendo. Além dos homens mais
velhos, que estavam naturalmente mais acostumados.
De
qualquer maneira, meu pai me “salvou” naquela noite. Só não me puxou pela
orelha para eu não passar vergonha na frente dos meus dois amigos.
Saímos os
três meio cabisbaixos. Nem havíamos tirado onda com as meninas quando meu velho
nos conduziu Rua do Sarmento abaixo, para fora da Sinuca do Sôcida. O Repórter
Esso já havia acabado.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : disponível em https://www.pinterest.com/pin/171347960793168042/
Nenhum comentário:
Postar um comentário