Dia 14 de novembro de 1980 era uma sexta-feira, véspera de feriado. Nesse dia, o Pytomba fez seu último show ao vivo, no Clube Trombeteiros. A cidade estava cheia pois, curiosamente, nesse mesmo dia, os professores da UFJF haviam decretado uma greve, em pleno governo Figueiredo, fato inédito. Os estudantes, claro, não queriam nem saber e aproveitaram para antecipar o feriadão.
Esse show trouxe algumas novidades: músicas inéditas, todas de autoria do grupo e algumas estreias. Paulinho Manzo apresentou, em sincronia com os sons, uma seleção de fotos em um telão, recurso pouco utilizado na época. Jorge Marin apresentou textos e poesias ligando as apresentações e o Moacir Godelo gravou o show ao vivo num moderno (na década de 80) gravador de rolo. Renatinho Espíndola foi responsável pelos efeitos especiais, como uma chuva de bolhas de sabão e efeitos de luz. O saudoso Zé Neli arrasou na bateria e Beto Bellini cantou e dançou de forma fantástica.
Essa apresentação pode ser considerada ousada. Primeiro, porque marcamos o início para as 21 horas, concorrendo com a novela “Coração Alado”. Depois, porque catamos toda a aparelhagem existente na cidade, ligando tudo em série, o que resultou numa potência ainda não experimentada pelo grupo, verdadeira coluna de P.A. (public address).
Nos ensaios, conseguimos reproduzir alguns momentos muito semelhantes ao Pink Floyd e ao Yes, com cenas parecidas com a briga entre Roger Waters e Richard Wright, depois entre Roger Waters e todo mundo, ou seja, aquela baixaria em que, histericamente, a pessoa grita: eu não vou tocar nunca mais!!! Foi mais ou menos o que Jon Anderson falou quando brigou com o Chris Squire no Yes. Perguntaram ao Keith Richards por quê esse tipo de briga não acontece nos Rolling Stones e ele revelou que, normalmente, está tão bêbado que nem vê se o Mick Jagger está no palco. Inspirados nesse fenômeno da guitarra, mobilizamo-nos para repetir a performance e, na hora do show Renatinho e Jorge providenciaram, diretamente do Botequim do Zé Medina, uma inspiradora garrafa de vodka. Serjão ficou tão mal que, simplesmente, esqueceu-se do show e foi pra casa, assobiando o hino do Botafogo. Conseguimos pará-lo, perto do Correio (enquanto isso a plateia já gritava “Pytomba, Pytomba” lá no Trombeteiros), e aplicamos uma técnica milenar que consistia em esfregar vigorosamente sal debaixo do sovaco da vítima de alcoolismo. O resultado foi muito engraçado, pois ele começou a rir e nós todos começamos a rir junto, e quase nos esquecemos também do tal show. Finalmente, demos meia volta e carregamos nosso bravo componente de volta ao clube e entramos, com a cara e a coragem no palco. Serjão, mesmo amparado por duas pessoas, ainda socou o violão numa pilastra.
Por incrível que pareça, o show foi um tremendo sucesso!
(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)
CAMPANHA PARA A RESTAURAÇÃO DA MEMÓRIA PYTOMBENSE: Hoje, reunidos em São João, lembramo-nos que, no dia do último show do Pytomba, foi grande a quantidade de pessoas que fizeram o registro fotográfico do mesmo. Como estamos restaurando nosso acervo, PEDIMOS a quem tenha imagens do show, seja na forma de foto ou slide, que disponibilize esse material para que possamos escanear e divulgar aqui no Blog. Como dizemos sempre, o blog é uma construção coletiva e, ao fazê-lo, estamos mostrando que temos histórias para contar. E essa é uma ótima forma de viver.
Serjão e Jorge
Esse show eu me lembro.
ResponderExcluirE com saudades dele e dos meus 17 anos.....
Um abraço.
Marcos Lobão.