Foto disponível no site http://www.flickr.com/photos/blassis/156572134/
Com a onda de violência que rola por aí, às vezes, ficamos tensos, mesmo trancados dentro de casa. E coisas acontecem... mais cedo ou mais tarde.
Sábado passado, aconteceu cedo, bem cedinho: eu estava dormindo um sono bem pesado, porque, normalmente, na sexta, a gente dorme mais tarde e tal. De repente, percebo um barulho na área de ventilação, como se a parede estivesse sendo arranhada, seguido de um gemido, como uma pessoa asmática jogando videogame. Levantamos, eu e minha mulher, intrigados e, quando chegamos junto ao basculante da suíte, ouvimos um grito estridente: aaaaaaaaaah! Horrorizados, aproximamo-nos para ver o que poderia ser aquele grito, quando percebemos um barulho de asas.
- Tem um pássaro preso na área de ventilação, disse minha esposa, será outro urubu?
(Há uns quatro anos, um casal de urubus ficou preso no canal de ventilação e acabou quebrando as telhas e caindo na garagem).
- Não, meu amor, urubu não grita desse jeito.
Subimos até a cobertura, e nada... Inspecionamos a área de ventilação até o fundo, mas nem sinal de uma pena sequer.
Voltei para a cama (afinal, eram umas seis e meia da manhã) e minha mulher, como sempre fazem as donas de casa, foi verificar não sei o quê no banheiro social quando, outro grito! Dessa vez era da minha esposa. Corri e ela, muito assustada, falou:
- Tem um bicho no banheiro e, pela forma com que está gritando, deve estar ferido.
Peguei um pano e uma vassoura, não sei bem como eu ia usá-los, fechei as outras portas dos quartos pro bicho não invadi-los e, bem devagar, fui abrindo a porta. Assim que a porta estava escancarada, eu, de vassoura e pano na mão, vi... nada, só umas penas e uns pedacinhos de gesso espalhados pelo chão e em cima da pia. Há algum tempo atrás, tivemos que consertar um encanamento entupido na parte de cima do banheiro social e o gesso teve que ser quebrado, ficando, até hoje, aquele buraco no teto. Pensei: e se o bicho tiver se escondido lá dentro? Corri para buscar a escada, subi, mas: e a coragem para enfiar a cara no buraco? Aí me lembrei da vassoura e enfiei a danada no buraco, batendo naqueles arames que suportam a placa de gesso. Mais uma vez, nada aconteceu. Silêncio total.
Voltamos para a cama, discutimos um monte de hipóteses, e, quando nos preparávamos para dormir, gritos de novo, dessa vez mais de um, uma verdadeira revoada. Abrimos a janela do quarto de hóspedes e vimos um casal de maritacas. Pareciam iradas, acho que estavam irritadas por estarmos ali, na nossa casa. Mas, como não tínhamos nenhum outro lugar para ir, ficamos ali mesmo, e as maritacas, um tanto desapontadas, foram embora, gritando muito, um grito diferente, como se xingassem palavrões.
Conversando depois com um vizinho, que é ornitólogo, ele nos tranquilizou, dizendo que eram apenas aratingas leucophtalmus. Ara o quê, perguntei. Ele disse: para vocês, que não são especialistas, são duas maritacas. Detesto especialistas, mas ele me diz que, provavelmente, elas estariam, caso se tratasse de um casal, na época da nidação (botar ovos, me explicou) e escolheram o teto do meu banheiro, que é oco, para chocar.
Mas, como vou saber se é um casal? - pergunto. Só tem dois jeitos, diz o cara, já que o sexo das maritacas não é visível. Ou você me traz umas gotinhas de sangue ou umas cinco penas pra eu fazer o DNA, ou levando-as para uma laparoscopia.
Pensei: é... esse assunto vai longe.
(Crônica ornitológica: Jorge Marin)
Jorge, que decisão tomaram?
ResponderExcluirAgora vocês têm que fazer os exames e contar pra gente.
Cuidado porque, qualquer dia, poderão acordar com muitos gritinhos no teto do banheiro.
Muitas maritaquinhas poderão estar chegando e vocês terão que ceder o lugar para elas.
Seu banheiro deve ser muito aconchegante.