quinta-feira, 13 de outubro de 2011

MARITACA ATACA 2 - O MYRMECOPHAGIDAE

Foto publicada no site http://www.offroad-adventureteam.com/canastra3.htm

Na semana passada, estava preso num terrível dilema: o ornitólogo, a quem pedi para analisar o desejo irrefreável de um par de maritacas em construir seu ninho no teto oco de meu banheiro de hóspedes, solicitou, para que tivéssemos certeza de que as maritacas eram um casal, que eu conseguisse algumas gotinhas de sangue ou cinco penas para analisarmos o DNA; a alternativa seria submetê-las a uma laparoscopia.
Argumentei com o especialista que, mesmo em nome da pesquisa científica, se eu tirasse sangue ou penas de umas maritacas, ou mesmo abrisse a barriguinha delas, provavelmente eu é que iria pra gaiola.
Há outra solução, ponderou ele, com o olho brilhando: iridomyrmex purpureus! É caro? – perguntei. Esse remédio?
Ah, meu amigo, você não sabe nada mesmo não é? Isto é formiga. É que, quando as aves descobrem que no local há um formigueiro, elas não constroem os ninhos.
Muito bem, disse eu, você está sugerindo que coloquemos umas formigas no telhado do banheiro, mas e depois, como faço para tirar as formigas?
Ora, ora, com um myrmecophagidae, mas um pequenininho.
Já disse que não suporto especialistas, mas esse passou dos limites. Acabei apelando e mandando o cara ir plantar solanum turberosum (batata). Viram como aprendi?
O problema é que as maritacas voltaram nos dias seguintes, e começamos a achar que a fêmea, se é que era um casal, ficou presa e acabou se machucando. E se ela tivesse morrido? Minha esposa começou até a sentir o cheiro do corpo em decomposição.
Meu filho mais velho não sabia da história das maritacas e estava utilizando o banheiro social quando saiu correndo, apavorado: pai, tem um canário no seu banheiro!
Pensei: é, quem não brincou na rua, igual no nosso tempo, não sabe nem diferenciar um canário de... uma maritaca! Não é que ela estava tentando entrar pelo basculante de novo? Aí, saíram os dois gritando, meu filho de um lado, e ela de outro. Cheguei na janela e gritei: some daqui, sua aratinga! Ela gritou de volta, como se me xingasse.
Segunda-feira, estava conversando com uns vizinhos, quando chegou um morador e, ouvindo aqueles lamentos, perguntou: por que você não fecha o basculante? Expliquei que, desde que comprei o apartamento, o basculante estava engripado e não abria mais e nem fechava. O cara não falou nada, foi até o carro voltou com uma latinha, falou: tá vendo? É um desengripante. Vamos lá!
O vizinho chegou lá, esguichou o produto, o basculante movimentou, ele fechou. Pronto, disse ele, agora eu quero ver alguma arara entrar! É maritaca, eu falei.
Fim!
MORAL DA HISTÓRIA: não tem.
Que bom que eu não tive nem que usar o myrmecophagidae, seja lá o que for!

(Crônica: Jorge Marin)

2 comentários:

  1. Nilson Magno Baptista16 de outubro de 2011 às 18:47

    Amigo Jorge,esta sua crônica sobre maritacas me fez lembrar um ¨causo¨contado pelo sr.Waldomiro Barbeiro (de saudosa memória),que,por coincidência,é pai do nosso amigo ¨LOURO¨.Contava o antigo barbeiro da cidade (cujas histórias eram sempre ¨verídicas¨)que lá pros lados do Caxangá,antes da cosntrução da Av.Israel Pinheiro,havia uma enorme figueira que diziam ser ¨mal-assombrada¨.Muitas pessoas que passavem proximo ao local,ouviam todos os dias,por volta das 18 horas,vozes de senhoras rezando a ¨Ave Maria ¨.Anos depois o mistério foi desvendado : não era um grupo de senhoras que rezava na figueira,e sim um grande grupo de maritacas que pousava todos os dias na enorme árvore para dormir,e antes do repouso noturno ¨rezavam¨em coro a oração ¨Ave Maria¨.

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  2. Eu estava torcendo para você colocar as formigas. Queria ver o que iria acontecer. Fiquei a imaginar...
    E, com as formigas, a estória não iria terminar.
    Abraço.
    Mika

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