Foto de Stephanie Mohr, publicada no site www.123rf.com
Na semana passada, falávamos de um certo Paulinho e sua magrela.
Acho fantástico, original e fora de qualquer padrão que regeria as normas sociais vigentes, seu exótico estilo no pedalar. Alguém de vocês já viu um ser humano andar de bicicleta daquela forma? Autenticidade pura! Coisa pra dar inveja a muitos prisioneiros de paradigmas sociais.
Pra começo de conversa a posição do selim fica quase a um palmo acima do guidão. Ai vocês já imaginam a visão catastrófica. Ainda mais pra quem está vindo de trás.
O assento fica tão alto que, enquanto seu traseiro segue nos mostrando a direção do céu, suas pernas, esticadérrimas, vão à medida do possível, tentando alcançar os pedais.
Na verdade, pela inclinação de sua cabeça em relação ao traseiro, temos a nítida sensação que a bicicleta está sempre morro abaixo. Mesmo que ainda numa reta.
E, desta forma, quilômetros vão, quilômetros vêm.
Como todos já deverão estar desconfiados, este meu amigo não poderia ser outra pessoa que não fosse nosso conhecidíssimo Paulinho Javali. Por sinal, figura esta de uma simplicidade ímpar, excelente pessoa e muito divertido. Ouso até a dizer que o considero uma espécie em extinção.
Certa vez ao questionar o porquê de Javali no apelido, disse que foi quando seu irmão o empurrou janela abaixo e teria caído de cara no chão. Aí, segundo ele, só deu pra salvar as duas presas laterais.
Foi juntando tudo isso, que, carinhosamente, passei a tratá-lo de Paulinho Já Vai Ali. Lá, acolá, além, como preferirem. Só sei que ele não para de ir. E cada vez mais longe. Poderíamos dizer que sua idade caminha diretamente proporcional aos quilômetros pedalados, ou seja, quanto mais “véi” mais longe ele vai.
Quando muito, carrega consigo, principalmente nos momentos de calor intenso, uma garrafinha de água, boné e pedaços de rapadura. Disse que existe em sua casa um pé “carregadin” de maracujá e, quando chega das “voltinhas”, é só fazer uma jarra inteira de suco e beber uns dez copos de uma vez. Segundo ele, não tem melhor energético.
Ele sempre soube que fui também um aficionado por bicicletas, sendo assim, pouco tempo atrás teve a petulância de me convidar pra dar uma chegadinha a Argirita. E com direito a voltar por Taru. Não tive outra reação que não fosse a de dar uma boa risada e perguntar:
- O retorno do féretro será por onde?
Ao observar que fiquei um tanto espantado, ainda veio tentando aliviar a barra:
- Numa boa, Serjão! Parece que é longe, mais é! Se não ficarmos parando muito no caminho, no máximo em quatro horas a gente ta pisando no centro da cidade.
- Ou num hospital, pensei. E o danado nem chegou a comentar sobre o tempo que levaríamos na volta. (Se é que haveria uma) Do calor então, nadinha. E muito menos de cachorros e na possibilidade de se furar algum pneu etc etc etc... Parecia que iríamos e voltaríamos, literalmente, voando. Se bem que, descendo aquela bela serra de Taru, talvez fosse esta a sensação que teria. Mesmo assim fui impiedoso e implacável.
- Fica pra próxima, Paulinho! Hoje tem formula Indy na TV! Sinceramente, prefiro ficar vendo o asfalto deitadinho da minha cama! Desta forma, brincando com ele, me despedi.
Na semana que vem, velocidade, cachorros (fila) e o tombo.
(Crônica: Serjão Missiaggia)
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