Foto do site http://www.germanshepherdrescue.co.uk/padfoot-harry-potter.html
Mais uma notícia de jornal inglês. Vocês devem até pensar que eu, como não tenho mais o que fazer, fico assinando o Daily Mail, ou o The Guardian. Não é nada disso: eu gosto mesmo é dos tabloides, que trazem aquelas notícias ridículas, como aquela que comentei na semana passada, sobre o rabo. Nesta semana, uma notícia bombástica: “Aposentaram o cachorro do Harry Potter”. Não sei se vocês se lembram, mas o padrinho do Harry, o Sirius Black é um animago, pois tem o poder de se transformar, voluntariamente, num enorme cachorro preto. Não por acaso o nome dele é Sirius, que é a maior estrela da constelação do Cão Maior.
Bom, mas voltando à vaca fria, ou seria ao cachorro quente, o tal cachorro era interpretado, no filme, por um cão pastor chamado Berry que, segundo o jornal britânico, estaria se aposentando da vida de artista e foi abandonado pelo seu dono, Paul Thompson que, agora que o cachorro não está dando nenhum retorno financeiro, resolveu doá-lo. O aposentado foi deixado num abrigo chamado German Sheperd Dog Rescue, algo como Resgate dos Pastores Alemães, onde passou, naturalmente, a continuar levando sua vida de cachorro, porém, como aposentado.
É engraçado que, há pouco tempo atrás, muito gente reclamava, e ainda reclama que, no Brasil, aposentado leva uma vida de cachorro. E agora vem essa notícia terrível, de um cachorro que leva a vida de aposentado. Embora eu ache que o alarde da notícia se deveu a um fato comum, que deve ter acontecido com a maioria de nós, aposentados: é dizer “poxa, eu dediquei metade da minha vida àquela empresa (o cachorro tem dez anos) e agora, simplesmente, eles não querem saber mais de mim”.
E é verdade! Quando trabalhamos para uma empresa, é uma relação de troca: trocamos nosso esforço pelo salário e (antigamente existia) um pouco de reconhecimento, só isso. O problema é que muitos de nós acabamos, para fortalecer o ego, ou agregar um pouco de dignidade à sua própria pessoa, sei lá, incorporando aquele emprego, como se fosse um sobrenome ou um título. O cara não é mais o João: é o João do Banco do Brasil, o Antônio da Petrobrás, ou o Doutor Manoel. Sem o título, era só o Manezin, ou o Neca, mas, depois do diploma, virou o Doutor. Outra coisa charmosa são todos aqueles cargos. Quem é você: ah, eu sou Gerente Geral de Produção, o Diretor Adjunto de Pessoal, ou o Encarregado-Chefe da Unidade Coronariana. Gente, é de dar inveja a qualquer nobre da corte do Rei Luiz XIV, também conhecido como Sol. Humilde né?
A nossa necessidade de nos destacarmos da manada é tão grande que costumamos adotar também o nome do cônjuge: è o Sebastião da Margarida, o Onofre da Isabel, ou a Tatiana do Toinzin. É brincadeira... Mas, e quando separa? Aí fica assim: olha lá, a Tatiana ex-Toinzin e por aí vai.
O que ocorre, na aposentadoria, é o que aconteceu com cachorro do Harry Potter. No filme, ele era o Padfoot, ou Almofadinhas em português. Desempenhou tanto aquele papel, que acabou acreditando que era mesmo o Sirius Black. Só que, ao sair do set de filmagem pela última vez, não conseguiu se “destransformar” e virar o Gary Oldman. Aí, já viu, não era mais útil para o estúdio e foi para o abrigo dos pastores abandonados.
Eu não tenho intenção de tirar conclusão nenhuma do fato. Só não entendo por quê um cachorro, supostamente inteligente (já que é ator), põe na cabeça que ele É aquilo que ele só representa?
Ah, e ele já foi adotado. Podem ficar tranquilos...
(Crônica canina: Jorge Marin)
O Sérgio Reis tem uma música de nome "COURO DE BOI" onde o pai do garoto dá um couro para o avô do garoto se virar pela rua, ao relento e logo após o garoto pede ao pai um pedaço para quando ele crescer doá-lo à seu pai ou seja, pagará com a mesma moeda.
ResponderExcluirE, quanto ao cão já ter sido adotado faz com que muitas pessoas se sintam piores do que o cão pois não conseguiram nem ser adotadas por ninguém!!!
Um abraço,
MAZOLA.
A natureza segue inexoravelmente seu curso entre a beleza do amanhecer e do pôr-do-sol.
ResponderExcluirTudo termina, bem ou mal, cedo ou tarde!
O fato é que a aposentadoria do trabalho é opcional, mas a da vida é compulsória...
Acredito que resta escolher em acreditar em vida após a morte (podendo ser uma ou várias) ou, na dúvida, viver esta da melhor maneira possível como se fosse a única (vai que...).
E, nos tempos toscos em que vivemos, não custa tentar deixar o local com um pouco de estilo e dignidade...
Sylvio.