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Capítulo 2: Possessão
NA SEMANA PASSADA, falávamos sobre a desagradável experiência de, após muitos anos de casamento, o casal ser confrontado com uma invasão de privacidade. E justamente ali, no que costumava ser chamado de sacrossanto leito nupcial.
Um colega meu, professor de História, disse que, na mitologia grega, é famoso o caso de Anfitrião que, ao regressar da guerra, encontra sua esposa Alcmena, deitada com o deus supremo Zeus, que havia tomado a sua forma. Ele disse que o referido guerreiro ficou muito honrado com o intruso, e o convidou a jantar, de onde surgiu o termo anfitrião, ou seja, aquele que divide seus bens com os visitantes, ainda que se tratasse de um intruso. Este colega, que posso considerar a esta altura como ex-amigo, disse que devemos procurar sempre ser bons anfitriões. E eu, no meu excelente português, respondi: “sartei!”.
Também uma leitora do blog, que é terapeuta, ligou para dizer que é ótimo uma terceira entidade na relação, para dar equilíbrio. De repente, comecei a achar que esse negócio de homem e mulher só, é que está errado. É tanta gente dando opinião que acabei ficando confuso. Mas continuo achando que, na cama de casal, três sempre é demais.
Dizem os mais experientes que isto é muito comum numa certa idade, e que o negócio é relaxar e deixar que a coisa aconteça naturalmente. Difícil aceitar esta teoria maluca (mais uma), a não ser que haja um entrosamento perfeito entre o casal.
Ficar passivo nesta hora não é pra qualquer um, não. Tem mesmo que ter sangue de barata. Impiedosamente, num verdadeiro ataque a nossa intimidade, ele nos domina, principalmente quando nos encontramos de posição de supina. Para os mais jovens, explico: supina é o mesmo que decúbito dorsal. Piorou? Bom, é de barriga pra cima.
Provavelmente, algumas mentes poluídas, já deverão estar pensando no Ricardão, como sutilmente sugeriu aquele professorzinho de História. Sinto mais uma vez em ter que decepcioná-los. Não vamos pegar tão pesado! Ah, e não é o Zeus também não.
Mas, voltando ao nosso indecente visitante noturno, não raramente, ele chega relaxado e até assoviando. Algumas vezes mais brando, outras vezes mais forte. E, quando isto acontece, confesso que fico bem mais irritado. Será que tem algum leitor engraçadinho imaginando que tem algo a ver com flatos. (Traduzindo para os mais jovens: peidos.) Nadinha disso! E muito menos com eructações. Eu até preferia que fosse.
Um autêntico oportunista de plantão, a nos fazer prisioneiros de nós mesmos. Terrorista um tanto ingênuo, que age muitas vezes sem o mínimo de intenção. Pra quem pensou em pesadelos, parabéns pela fértil imaginação, mas sinto dizer que também errou.
Pior quando as visitas se tornam mais constantes! Isso vai aos poucos nos levando a um estado de esgotamento mental sem igual. Principalmente, quando resolve aparecer noites seguidas. Desta forma, acordamos cada vez mais exaustos, como se nem tivéssemos dormido naquela noite.
E quando nosso “amigo” chega e estamos sob o domínio da exaustão? Aí é que a coisa pega fogo e fica incontrolável. Detona-nos de uma maneira tão violenta e impiedosa, que não nos resta fazer outra coisa, a não ser agarrar o travesseiro e fugir para o quarto ao lado. E o pior é que, quando um foge, o outro acaba sendo a vítima do ataque.
Surgindo, muitas vezes também, sorrateiro e manso, invade quase sempre nossos sonhos, nos fazendo perceber que algo estranho começa a acontecer bem ao nosso lado. Aí você acorda meio abobado e, querendo ou não, tem mesmo que se conformar com aquela triste situação.
NA PRÓXIMA SEMANA, continua o dilema com algumas possíveis soluções. Uma delas, a separação do casal, é muito triste, principalmente para quem vem vivendo uma história de amor há tantos anos. Mas há outras soluções, como veremos...
(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)
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