quarta-feira, 12 de maio de 2010

DUNGA E OS GIGANTES



Crônica: Jorge Marin

Enfim, podemos dormir em paz, e retomarmos a nossa vida normal: Dunga convocou a Seleção Brasileira que vai disputar a Copa do Mundo de Futebol na África do Sul! Pode parecer exagero, mas juro que, ontem, vi várias pessoas amontoadas, a uma da tarde, em frente às telas de plasma das inúmeras lojas de departamento da cidade, unicamente para testemunhar o pronunciamento solene daquele que foi, durante muito tempo, o antônimo do futebol-arte no Brasil.
Atônitos, os expectadores que, muitos deles, estavam abrindo mão do almoço para assistir à convocação, se questionavam baixinho: o Imperador vai? E o Gaúcho? Além dos ornitófilos de plantão, torcendo ora para o Pato, ora para o Ganso.
Quando o nosso esperto técnico chega, a multidão beira o colapso nervoso, é uma comoção. Eu uso aqui o adjetivo “esperto” na sua acepção original mesmo, não pensem que é ironia, pois, embora Dunga, o anão, seja o Dopey (estúpido em inglês), o nosso tem as características daquele personagem: é perceptivo, habilidoso, sabe interagir com seus colegas, embora talvez lhe falte um pouco de senso de humor.
O anúncio dos eleitos é exatamente o que o técnico já prenunciara em outras entrevistas e, no entanto, causa muita decepção, como tem acontecido nas últimas dezoito convocações para a Copa do Mundo. Como sempre, os torcedores não se conformam porque o que eles consideram como o maior craque de todos os tempos e que, por acaso, joga em seus times, não foi chamado.
Mas uma coisa boa fica deste episódio: é a questão do comprometimento, levantada pelo técnico. Nos dias atuais, o narcisismo e o individualismo andam tão em moda e são tão super-valorizados, que esta história de assumir compromissos ou responsabilidades parece uma coisa ultrapassada, sem valor. Haja vista, por exemplo, a quantidade de crianças sem pai vagando por aí, ou adolescentes sem perspectiva de vida, ou jovens adultos que têm como objetivo máximo jamais constituir família, “aproveitando”, como se diz, o conforto da vida de solteiro com o desfrute cada vez mais longo da casa dos pais.
Não se trata aqui de um julgamento moral: as situações de cunho egoísta só acontecem porque contam com o apoio das pessoas que são prejudicadas. O indivíduo egoísta age por um impulso de autoproteção e medo, e vai se prevalecendo na medida em que os que o cercam compactuam com seu autoritarismo, confundido atualmente nas organizações, com “capacidade de liderança”.
Outro erro no qual Dunga felizmente também não embarcou, e que, da mesma forma, é muito comum nos departamentos de recursos humanos das empresas atuais: o da super-qualificação, isto é, pessoas que, mais do que estarem aptas, são obrigadas a demonstrar qualidades sobre-humanas. Muitas organizações estão descobrindo, para seu pavor, que estão inchando os seus quadros com profissionais altamente qualificados, com títulos e perfis psicológicos invejáveis, mas que, na hora do “vamos ver”, simplesmente nada resolvem. A não convocação dos “malabaristas” do Santos vai contra os interesses das grandes emissoras de TV e seus patrocinadores, mas é perfeitamente coerente com o pensamento utilitarista do técnico. O time brasileiro de 1982 foi o mais vistoso e, no entanto, deu no que deu frente à Itália.
Finalmente, outra questão muito importante foi tratada. Diz respeito a uma demanda comum entre os jovens, que é a chamada “segunda chance”. Dunga afirmou que várias chances foram dadas ao atacante Adriano, mas este não soube aproveitá-las. E esta é uma triste realidade: a maioria das pessoas, ou não reconhece, ou não aproveita as oportunidades de rever sua postura. É uma pena pois, afinal de contas, ninguém muda ninguém, mas, como dizia meu velho pai, “cada um tem que saber as besteiras que faz e ficar velhaco para não cometê-las o tempo todo.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL