Vocês não imaginam a alegria
de poder falar do meu Tizeca! Aquela
emoção da qual falei na semana passada, quando dormia ansioso porque sabia que
ele chegaria no trem noturno, eu a sinto hoje tão vívida e real, que chego a
escutar aquele apito da máquina.
E eu estava, justamente,
falando dessa peça de roupa fantástica, que dá título à crônica, que é o
enigmático PIJAMA DO TIZECA. Além da
peculiaridade de ser usado dia e noite, outro detalhe chamava a atenção: era a
quantidade de parafernália que nele se ocultava. Que eu me lembre, brotavam do seu bolso, como
num passe de mágica, pacotes e mais pacotes de fumo de rolo, papelote para
cigarro, isqueiro, mais fumo de rolo, canivete, pente, lenço, dois ou mais
baralhos etc.etc.etc.
Fazia daquele pijama a sua
veste inseparável, e até mesmo para ir passear na esquina não o tirava jamais!
Adorava contar causos, e não
era muito raro quando, ao repeti-los, nos contava em versões totalmente
diferentes. Este detalhe era muito
engraçado, pois nos levava quase sempre a finais nada parecidos.
E assim, entre uma mentirinha
e outra, enquanto eu ia me fazendo de bobo, os causos iam rolando soltos até o
entardecer.
Também muito me fascinava
aquele radinho de pilhas, que nunca saía de seu colo. Juntamente comigo, era
talvez o seu amigo inseparável, no qual ficava sempre a buscar noticias do
Botafogo (E como era apaixonado pela Estrela Solitária!).
Rastreava cada locução ou
comentário. Buscava noticias, desde a concentração, chegada e saída do time no
hotel, estádio e vestiário, até as resenhas noturnas, que terminariam lá pelas
tantas da noite.
De olhar fixo, sereno e
disperso ao horizonte, parecia estar sempre meio alienado do mundo. Acho mesmo,
que aquela enorme catarata que o acometia, contribuía muito pra isto.
Somente me reconhecia, quando,
já bem perto, escutava minha voz.
- À benção Tizeca!!! - dizia, após beijar suas mãos.
-
Até que enfim, Baiano,
já havia perguntado por você!!! Era
assim que, carinhosamente, se dirigia a mim, após um forte abraço.
Eu, de imediato, sem perder um
mínimo de tempo, procurava subir e sentar no murinho da varanda para assim
começar a escutar os inúmeros CAUSOS. Alguns falsos, outros nem tanto
verdadeiros, mas, com certeza, eram muitos e todos ótimos de se ouvir. Hoje,
quase quarenta e cinco anos depois, é que fui começar a entender donde teria vindo
esta minha fascinação por causos.
Mas, antes, um outro ritual:
o pito, a preparação do cigarrin de paia.
(CONTINUA)
Crônica: Serjão Missiaggia
Foto: Cody Lash-Upon-Lash,
disponível em http://browse.deviantart.com/?q=old+man&offset=24#/d5j71hq
.
Pois é, Serjão,foi a esta exata conclusão a que cheguei. Acredito que aí está a explicação do seu gostar de causos ...Ou a responsável será a genética?
ResponderExcluirDe qualquer forma... Tizeca está no meio.
Gostei de tomar conhecimento desta harmoniosa convivência sua com ele.