sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O PIJAMA DO TIZECA - II



Vocês não imaginam a alegria de poder falar do meu Tizeca!  Aquela emoção da qual falei na semana passada, quando dormia ansioso porque sabia que ele chegaria no trem noturno, eu a sinto hoje tão vívida e real, que chego a escutar aquele apito da máquina. 

E eu estava, justamente, falando dessa peça de roupa fantástica, que dá título à crônica, que é o enigmático PIJAMA DO TIZECA.  Além da peculiaridade de ser usado dia e noite, outro detalhe chamava a atenção: era a quantidade de parafernália que nele se ocultava.  Que eu me lembre, brotavam do seu bolso, como num passe de mágica, pacotes e mais pacotes de fumo de rolo, papelote para cigarro, isqueiro, mais fumo de rolo, canivete, pente, lenço, dois ou mais baralhos etc.etc.etc.
Fazia daquele pijama a sua veste inseparável, e até mesmo para ir passear na esquina não o tirava jamais!
Adorava contar causos, e não era muito raro quando, ao repeti-los, nos contava em versões totalmente diferentes.  Este detalhe era muito engraçado, pois nos levava quase sempre a finais nada parecidos.
E assim, entre uma mentirinha e outra, enquanto eu ia me fazendo de bobo, os causos iam rolando soltos até o entardecer.  

Também muito me fascinava aquele radinho de pilhas, que nunca saía de seu colo. Juntamente comigo, era talvez o seu amigo inseparável, no qual ficava sempre a buscar noticias do Botafogo (E como era apaixonado pela Estrela Solitária!).
Rastreava cada locução ou comentário. Buscava noticias, desde a concentração, chegada e saída do time no hotel, estádio e vestiário, até as resenhas noturnas, que terminariam lá pelas tantas da noite.
De olhar fixo, sereno e disperso ao horizonte, parecia estar sempre meio alienado do mundo. Acho mesmo, que aquela enorme catarata que o acometia, contribuía muito pra isto.
Somente me reconhecia, quando, já bem perto, escutava minha voz.
- À benção Tizeca!!!  - dizia, após beijar suas mãos.
-        Até que enfim, Baiano, já havia perguntado por você!!!  Era assim que, carinhosamente, se dirigia a mim, após um forte abraço.
Eu, de imediato, sem perder um mínimo de tempo, procurava subir e sentar no murinho da varanda para assim começar a escutar os inúmeros CAUSOS. Alguns falsos, outros nem tanto verdadeiros, mas, com certeza, eram muitos e todos ótimos de se ouvir. Hoje, quase quarenta e cinco anos depois, é que fui começar a entender donde teria vindo esta minha fascinação por causos.
Mas, antes, um outro ritual: o pito, a preparação do cigarrin de paia.
(CONTINUA)

Crônica: Serjão Missiaggia
Foto: Cody Lash-Upon-Lash, disponível em http://browse.deviantart.com/?q=old+man&offset=24#/d5j71hq .

Um comentário:

  1. Pois é, Serjão,foi a esta exata conclusão a que cheguei. Acredito que aí está a explicação do seu gostar de causos ...Ou a responsável será a genética?
    De qualquer forma... Tizeca está no meio.
    Gostei de tomar conhecimento desta harmoniosa convivência sua com ele.

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