quinta-feira, 24 de setembro de 2009

OS FILMES QUE EU VI NO CINE BRASIL


BEN HUR

Este espaço, que também pretendemos manter fixo no blog, é destinado a registrar impressões sobre filmes, que assistimos no passado (e também no presente), e que nos causaram algum tipo de emoção. O que buscamos é a participação de todos da comunidade pytombense, sejam membros, seguidores ou comentaristas.
Começo esta primeira resenha numa fila: o ano era 1961 e eu, do alto dos meus quatro anos de idade, já podia ir ao cinema. Minha babá, Maria, como todas as moças de São João faziam, foi primeiro ver o cartaz do Cine Brasil e, como estava passando um bang bang, resolveu descer a rua e ir até o Cine Rádio. Lá, para encanto dela, e minha surpresa com toda aquela movimentação, estava passando o grande filme da época, Ben Hur. A impressão que o cinema, em si, me causou, foi indescritível, a começar com aquelas moças vendendo balas e pirulitos numa espécie de bandeja e, depois, lá dentro, aquela cortina vermelha enorme chegou a me assustar. Depois de alguns minutos, a cortina se abriu e as luzes foram se apagando. Segurei na mão da Maria. A telona branca se iluminou e tomei mais um susto com o som que preencheu o local: era um jornal, acho que Atualidades Atlântida.
Depois, passou o trailer de um filme, que não me lembro qual era, mas sei que tinha diligências, índios e muitos tiros (novo susto!). Finalmente, a imagem ficou mais larga e, enquanto aparecia uma figura dourada, uma música começou a tocar, com a imagem ainda parada. Perguntei à Maria o que era, e ela me disse que estava escrito “Overture”, mas que ela não sabia o que era. Curioso é que eu veria este tipo de coisa apenas neste filme, e eu ficava achando que a orquestra estava lá mesmo, atrás da tela. Outra coisa que só Ben Hur tem é um intervalo (Entre Acte) que, segundo a Maria, era pra gente ir fazer xixi.
Hoje, passados quase cinquenta anos, Ben Hur mantém aquele mesmo encantamento, a mesma grandiosidade e o mesmo glamour.
Dirigido por William Wyler em 1959, é um dos filmes mais grandiosos da história do cinema. Recebeu 12 indicações ao Oscar, perdendo apenas o de roteiro, recorde igualado apenas recentemente por Titanic.
O filme, que recebeu o subtítulo de Um Conto do Cristo, é baseada numa versão anterior, de 1926, e de um romance de Lew Wallace. De fato, o Cristo aparece em algumas passagens do filme, e exerce influência no personagem principal, Judah Ben-Hur, vivido por Charlton Heston. Este é um aristocrata judeu, vivendo sob domínio do Império Romano. Ele reencontra seu melhor amigo de infância, Messala (vivido por Stephen Boyd), agora um legionário romano e governador nomeado por César para dirigir os judeus.
Neste reencontro entre os dois, há uma curiosidade, que logicamente eu não tinha condições de ver na época, mas é a seguinte: entre as mais de quarenta versões do roteiro, uma, escrita por Gore Vidal, indicava uma motivação homossexual entre a relação vivida pelos dois personagens. Gore, que não era bobo, sabia que, se simplesmente insinuasse esta situação para Charlton Heston, este seria capaz de detoná-lo com o cajado de Moisés. No entanto, Stephen Boyd recebeu a orientação de viver um amante apaixonado que volta para seu namorado, e a cena é muito interessante, pois Ben Hur parece não notar a paixão de Messala que só falta se atirar nos braços dele, e chegam até a arremessar suas lanças num mesmo alvo.
Mas a relação não decola, de forma alguma, pois Bem-Hur se nega a delatar os membros de uma resistência judaica, e Messala forja uma acusação de tentativa de assassinato para usar o amigo como exemplo, enviando-o para as galés. Obrigado a remar como escravo, Bem-Hur se desenvolve fisicamente e acaba por salvar a vida de um general romano, Quintus Arrius que, em retorno, transforma o judeu em seu protegido, chegando a adotá-lo como filho, após este vencer várias corridas de biga, na arena romana.
Livre, Ben-Hur retorna ao lar, onde busca sua mãe e sua irmã, e também uma vingança contra Messala, o que leva à famosa sequência da corrida de bigas, que custou cerca de um milhão de dólares, envolvendo cerca de 50.000 figurantes, já que não havia efeitos de computação gráfica hoje comuns neste tipo de cena. Aliás, nem computador havia na época.
No final do filme, Ben-Hur encontra sua família, e a luta com Messala acaba se misturando com o drama da crucificação, que traz para a tela um pouco da ira divina.
O filme assemelha-se às vezes a uma novela, tal o número de atores que contracenam, um total de 350! É um misto de drama, aventura e religião. No entanto, tudo funciona muito bem. Principalmente a performance de Charlton Heston que consegue encarnar um herói implacável, mas também um homem sofrido.
Pode-se questionar que o filme é muito longo – com mais de 3 horas de duração – o que deixa um garotinho de 4 anos, que vai ao cinema pela primeira vez, totalmente tonto, mas talvez este seja também mais um charme, da mesma forma que os grandes clássicos da literatura mundial são livros enormes e pesados.

(Texto de Jorge Marin)

Um comentário:

  1. Jorge,
    Parabéns pelo belo texto e pela feliz iniciativa. Só mesmo você para nos arremessar a tão bela viagem. Fiz de suas lembranças as minhas, pois assim como você, por varias vezes quando ainda criança, juntamente com meus pais ou irmãos, teria visto inesquecíveis filmes no cinema: “Pena que nossa fabrica de fantasias, não mais existe”.
    Penso como você, pois longe de querer desqualificar Titanic com todo seu arsenal tecnológico, Bem Hur, para mim, será eternamente o filme dos filmes!
    Valeu caro amigo! Ao infinito e alem!!!

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