sexta-feira, 13 de novembro de 2009
CAUSOS INACREDITÁVEIS
CORAÇÃO DE ÉS TU, DANTE? - TERCEIRO CAPÍTULO
(Roteiro original - Serjão Missiaggia / Adaptação - Jorge Marin / Arte - José Carlos Barroso)
Na semana anterior, havíamos chegado às semifinais do campeonato macabro do medo.
No entanto, é bom que se diga, embora até o momento só tenha sido passada a face irada do professor Ubi, este possuía um entusiasmo e um senso de humor refinadíssimos. Ele adorava contar a história de como, certo dia, em frente à delegacia, um burro resolveu empacar e o carroceiro, desesperado, puxava o animal e gritava ofegante “Vamos, vamos!”, até que o sr. Ubi chegou na porta da delegacia e falou:
- Vira a carroça ao contrário. Assim fez o carroceiro, e, segundo ele, funcionou.
De outra feita, após esperar num salão de barbeiro, para cortar seu cabelo a la príncipe Danilo, como era de costume, este profissional falava, falava, adiando indefinidamente o atendimento ao perspicaz mestre. Quando, cerca de uma hora e meia depois, chegou sua vez, e o barbeiro perguntou “como o senhor que eu faça seu corte?”, ele sapecou: “Calado!”
Só que a única maneira de desfazer esse bom humor, era fazer exatamente o que fizemos: aprontar. O sr. Ubi era famoso por fazer os estudantes matões de aula pular o muro de volta, e até dar umas “incertas” na porta do cinema.
Enquanto isso, na sala da injustiça, um a um, ainda teríamos que passar por uma outra eliminatória... Digo interrogatório. Desta vez, lá na secretaria. (Neste meio tempo, já era quase meia-noite).
Dantinho foi o primeiro a ser chamado.
Enquanto aguardávamos seu depoimento, Custódio, não resistindo à pressão psicológica, pulou o muro dos fundos do colégio e sumiu. Foi visto, por volta de meia- noite e meia, lá pelas bandas de uma das ruas de acesso ao bairro Santo Antônio. Detalhe: com a calça toda rasgada! Possivelmente, um imprevisto ao tentar ultrapassar a cerca de arame farpado.
Clarê, até então calmo e sereno, resolveu, de repente, encarar um dos muros laterais do colégio. Coitado! O seu destino, até hoje, é incerto e não sabido. Segundo as lendas, foi cair exatamente no terreiro da Rosicleide. E justamente em cima da casinha do Amigo, um sistemático cãozinho pastor alemão. Nada simpático e de quase um metro de altura. Segundo me disseram o referido cão, detestava alunos. (Coitado do Clarê!)
Enquanto Dantinho chorava de um lado, Clarê gritava e pedia socorro do outro. Fiquei no meio sem saber se ria ou chorava.
Como se não bastasse, além de ficar sozinho na sala, teria ainda que ficar escutando, ao longe, os devidos corretivos que o Ti Bibi dava lá na secretaria.
Quase quarenta minutos haviam se passado. Um silêncio funesto, já há algum tempo, se fazia perceber nos corredores vazios do colégio.
Quer saber de uma coisa? - pensei eu. Eu vou é me mandar daqui. Sei lá o que pode estar acontecendo com o pobre do Dantinho.
Pior que, naquela hora da noite, com o ginásio todo trancado, teria como única opção, passar pelo corredor da secretaria.
Era tudo ou nada. A única certeza que tinha era a de não tentar fazer uma arriscada travessia na cerca de arame farpado e, muito menos, cair na casinha do Amigo.
Desta forma, sabendo de antemão, que eles estariam na sala do Ti Bibi e que o referido local oferecia uma visão estratégica da saída, procurei sorrateiramente, tentar ir passando bem de mansinho.
Antes mesmo de entrar pelo corredor, tive a infelicidade de querer dar uma última olhadinha e ver o que estava acontecendo com meu primo Dantinho. Queria saber, a qualquer custo, qual seria o grau de interrogatório que estava sendo aplicado.
A cena, lá dentro, ia de mal a pior e o Dantinho não parava de chorar.
Enquanto, em prantos, jurava inocência, comecei empurrar suavemente aquela portinhola de faroeste que separava o pátio do corredor de saída. Queria a todo custo me mandar dali.
Foi neste exato momento, que pude escutar, quando Dantinho, soluçando, disse ao professor Ubi:
- Eu juro, Sr Ubí! Pode perguntar ao Sérgio, que ele sabe que sou inocente!
Já adentrando pelo corredor, eu estava, nesta hora, acabando de colocar um de meus pés naquelas velhas tábuas do assoalho. Por infelicidade minha, fui surpreendido com um grande estalo da madeira.
Antes que conseguisse alcançar a porta, escutei, lá de dentro:
- Entra prá cá, Sérgio. Tá achando que vai aonde? Aproveita e chama o Clarê e o Custódio!
Gelei... O que é que eu vou dizer agora? E como digo que será impossível chamar o Clarê e o Custódio? Nesta hora, juro que tive vontade de encarar o Amigo, mas, como não havia mais tempo de voltar atrás, resolvi andar para a frente, e encarar o meu destino. Mas, como???
A resposta final e definitiva, como tudo é definitivo na vida de um adolescente, será conhecida na próxima semana. E, se alguém souber o paradeiro correto do Clarê naquela noite, informem com urgência, para resgatarmos a História.
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Estou adorando este causo e acredito que um mundão de pessoas que passaram por lá estão pensando o mesmo.
ResponderExcluirAbraços aos pitombas
Julinho
Um desabafo:
ResponderExcluirSempre dá muita tristeza quando ao ligarmos a TV nos deparamos com notícias dando conta de alunos desafiando e até mesmo agredindo seus mestres. Por razões diversas, professores insatisfeitos, procuram a todo instante, sem nenhum sucesso, o controle de seus alunos. E assim nesta desastrosa rotina, uma coisinha chamada respeito vai cada vez mais se tornando um mero detalhe do passado. E por aí vai!!!
Quanta saudade daquela disciplina do Ginásio que muito nos ensinou e que tanto nos fez crescer.
Muito legal o blog! Este caso está me transportando a momentos muito felizes de minha vida.
Uma professora
Endosso o comentário acima e acrescento que ao visualizar a foto das normalistas lembro muito bem do orgulho e valor que tinhamos. Nos desfiles Sr. Ubi fazia questão de desfilar todo orgulhoso ao noso lado.
ResponderExcluirInfelismente querem responsabilizar o professor pelo fracasso da educação...mas apesar de tudo boa parte resiste e continua apaixonada pelo seu trabalho
Esta sala da foto ao lado (1972) foi inesquecível.
ResponderExcluirSó que ta faltando gente nela. Onde estaria Zé Maria Baiano e Guilherme Beline?
Acho que nem precisaria ser vidente para descobrir que estariam matando aula neste dia. Rsrsrs!!!
Legal esta historia do ginásio! Viajei no tempo como se estivesse com vocês!
ResponderExcluirCheguei até a me lembrar da saudosa Dona Ivêta com suas argüições. Era um Deus nos acuda! Tínhamos que ficar de pé fazendo a dissertação de várias páginas do livro.
Quanta dor de barriga nesta hora!
Muitas vezes a gente subia aquele maravilhoso reduto ecológico pra passear, estudar e ate matar umas aulinhas de vez enquanto.
ResponderExcluirPena não existir mais, pois hoje é um bairro.
Esta historia de vocês ta muito divertida.
Paulinho
E mania que o Sôbi tinha de nos pegar desprevenido pra fazer cócegas. Ele morria de rir e se divertia bastante com os pinotes que a gente dava.
ResponderExcluirBons momentos que jamais sairá da nossa memoria.
Sempre pego carona nesta viagem que é sempre muito mágica. O serjão tem toda razão. Lembram da sessão o troco no cinema, era toda segunda, lembram?Saudades e muita coisa boa dentro de cada história relembrada por todos voces.Um grande abraço.Rosane
ResponderExcluirO Sr. Ubi e os professores que por lá passaram , deixaram marcas profundas em todos que ali estudaram. Recebemos deles lições que iriam nos acompanhar por toda a vida. Eram exigentes, repreeendiam , mas eram, de fato, educadores.
ResponderExcluirComo esquecer uma Dona Iveta, um professor Biel, uma dona Rizza, dona Cinila, Sr. Ubi, Maria do Rosário, Angela e tantos outros ?
Quando mais tarde, já longe de São João, assumi a cadeira de Literatura Brasileira, em vários momentos, vinha à minha mente aulas dos queridos mestres. Quantas vezes, algum professor amigo de trabalho perguntava-me algo da Apostila do Pitágoras, por achar complicado,e eu me lembrava exatamente das aulas dos queridos mestres,lembrava-me até do momento em que eles ensinavam sobre aquele assunto.
Eu aprendi muito com todos esles.
Mas , voltemos às façanhas do sr Ubi e seus alunos: uma vez, apareceu uma carteira rabiscada na minha sala. Ele imediatamente usou das suas estratégias para descobrir quem havia feito aquilo. E o pior é que o nomes escrito na carteira era o meu. Pois sr. Ubi nem me questionou;descobriu o autor do crime e exigiu que o mesmo descesse o morro com a carteira nas costas e só voltasse quando ela estivesse limpinha e envernizada , novinha em folha como dizemos. Imaginem que isto aconteceu quando eu estava na segunda ou terceira sério do antigo ginasial.
Tempo bom.
Abraço, meu querido irmão
Serjão!
ResponderExcluirOnde estava esse desenho?
Lembro perfeitamente quando brincando de desenhar acabei por fazer isso.
Mas foi bom lembrar de mais esse momento.
Tempo bão!!!!
Tal como a Mika foi emocionante ler a sua visita áquela grande casa grande, tenho-a em pensamento, cada cantinho, cada brincadeira, cada caso, as pessoas de nosso tempo, estão mais do vivas, na memoria deste senhor saudade.
Forte abraço para todos e obrigado pela oportunidade de me levar a essa viagem, a um passado lindo NESSE PARAISO.
Abraços, vocês são o maximo!...Simplesmente o MAXIMO!
NAUFRAGIOS
ResponderExcluirJosé Carlos Barroso
28.02.2009
Na casa grande quando chovia
Eu dobrava os papeis não escrevia
Apenas meus barquinhos construía
Tudo para brincar no lago da colina
Como aquele do jardim interno
Ladeado de varandas dos austeros
Depois mais tarde eu escrevi
Que pouco importava ao menino
A ostentação das grandes embarcações
Muito menos o cansaço dos inocentes
E a fuga dos veleiros covardes
Escrevi ainda...
Que ensejava viver como menino
Dentro do barco veleiro e a deriva
Pescando e passando o tempo
Na chuva e tocado pelo vento
Mas eu não contava...e assim acrescento
Que as tempestades fossem fortes
Que os meus ventos fossem uivantes pela dor
Mesmo assim sobrevivi a meus naufrágios
Por deixar a fraqueza morrer afogada
E por não ser covarde, persistente renasci
Mesmo quando a chuva me sufocava
Mesmo sem ar submerso nas lagrimas das tormentas
BARQUINHOS
ResponderExcluirDE PAPEL
Jose Carlos Barroso
05 de novembro de 2008
Chovia e eu dobrava papeis
Construindo meus barquinhos
Iniciando meus caminhos
Assim o homem se principia
Quando criança formando lagos
Nos jardins da colina.
Pouco importava ao menino
Os que ostentavam grandes embarcações
Muito menos o cansaço dos inocentes
E a fuga dos veleiros covardes
Ah! Se eu pudesse
Como homem viveria como menino
A deriva pescando e passando o tempo
Na chuva e com veleiros de papel
Tocados pelos ventos.