sexta-feira, 27 de novembro de 2009
CAUSOS INACREDITÁVEIS
NUMA SEXTA QUALQUER DO PASSADO - PRIMEIRO CAPÍTULO
(Roteiro original - Serjão Missiaggia / Adaptação - Jorge Marin)
Ao folhear meus escritos, intriguei-me ao observar que, em três poesias, coincidentemente minhas preferidas, tinham como tema principal “À Noite”.
Uma excelente oportunidade para relembrar e reviver momentos tão felizes de uma época que não voltará jamais.
Com certeza, a magia daquelas noites, sorrateiramente, teriam fixado em meu inconsciente inúmeras e belas recordações.
Aproveitando assim o momento, lá fui eu a viajar com a lembrança, numa das inúmeras sextas-feiras de um dia qualquer entre 1971 a 1977.
De imediato, visualizei-me caminhando solitariamente pela rua, após uma noite de namoro. Seguindo em passos rápidos, procurava dar uma chegada até em casa. Minha intenção era fazer um lanche, pegar agasalhos, violão e avisar pai e mãe que iria fazer serenata.
Deveriam ser, mais ou menos, pouco mais de dez horas. E que noite gelada!!!!!
Um frio diferente: sem vento, sem chuva, extremamente agradável e de um céu incrivelmente estrelado e inspirador.
Uma espessa serração começava a dar-me seus primeiros ensaios de boas vindas, enquanto, seguindo pela rua com o violão sobre os ombros, buscava chegar, o quanto antes, à casa de meus queridos tios Dante e Adail.
Lá, era nosso ponto de encontro, onde rolavam agradáveis bate-papos, dávamos os últimos ensaios e “molhávamos” a garganta para enfrentar aquelas noites tão frias.
Sentávamos na sala: Dantinho, Pedrinho, Guto e eu. Respectivamente: violão solo, violão baixo, violão base e voz solo. Posteriormente, conseguiríamos um pequeno teclado que, ficando aos cuidados do Guto, veio embelezar ainda mais a serenata. Este pequeno teclado, da marca Hering, nos fazia rir bastante pois, quando era ligado, no silêncio da noite, soprava mais que aspirador.
O contrabaixo do Dantinho foi resultado de uma adaptação que fizemos, ao pegarmos um violão antigo e o deixarmos somente com quatro cordas. (Por sinal deu muito bom resultado.)
Enfim....quatro vozes, em tons diferenciados, numa sonoridade e afinação de beleza rara.
Ficávamos, muitas vezes, a esperar pelo Pedrinho pois, nesta época, estudava à noite e sempre era o último a chegar.
Era muito comum também, em época de calor, fazermos nossos ensaios na varanda ou mesmo sentados no passeio.
Enquanto isso, uma garrafa de café, previamente coada por Tia Adail, já nos aguardava na cozinha, exalando, ao longe, aquele cheirinho gostoso.
Tio Dante, como sempre e de imediato, logo pulava da cama e, com seu famoso cachimbo, vinha a nos fazer companhia.
Era ele mesmo o nosso maior incentivador. Acompanhava-nos até lá pelas tantas da noite, sempre sentado de pernas para cima, numa das poltronas. Não era raro vê-lo também, completando nosso vocal, com aquele grosso vozeirão. Ficava sempre a nos dar algumas dicas, pois participava, na época, do coral da igreja.
Época de muito frio e a casa, toda fechada, nos envolvia assim, naquele cheirinho de cachimbo do tio Dante.
Nunca me esqueço das vezes em que falava que gostaria muito de ver-me dedilhando um bandolim. (Coisas de padrinho!).
Assim, após um pequeno ensaio, entre onze horas e meia-noite, começávamos a fazer os preparativos para sair e abraçar aquela fria madrugada.
As coisas antes eram bem diferentes, sendo que este horário equivaleria, nos dias de hoje, a duas horas da manhã mais ou menos.
Luvas, cachecóis e cobertores eram alguns de nossos aparatos que quase sempre carregávamos para amenizar o frio.
Por sinal, não se faz frio como antigamente e nossas mãos só faltavam congelar.
Fugindo das poucas pessoas que ainda se encontravam na rua, procurávamos, primeiramente, dirigirmo-nos às casas mais distantes. Nosso intuito era a de chamar o mínimo de atenção.
Noite alta, céu risonho. A quietude é quase um sonho. O luar cai sobre a mata, qual uma chuva de prata, de raríssimo esplendor. Era a noite plagiando Cândido das Neves. E lá fomos nós.
Como se planeja uma serenata? Quem estará nos esperando? Com este frio, haverá alguém acordado?
Não percam, no próximo capítulo, a resposta para este doce (e frio) suspense.
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Super hiper mega romântico este tempo da Garbosa.
ResponderExcluirNão se pensava em violência. Podíamos sentar na calçada e tocar aquela viola tranquilamente.
Curtir aquelas frias e silenciosas madrugadas em São João era fascinante.
ResponderExcluirEra muito bom a gente saber que poderia ser acordada nas madrugadas de sábado com essa galera fazendo uma gostosa serenata.
ResponderExcluirA moçada de hoje mesmo que quisesse correria sérios riscos se resolvesse fazer o que essa turma fazia.
Saudades de uma Sâo João que já não é mais a mesma...
Gente era uma época muito gostosa!!!!! Ficava ansiosa esperando que chegasse sexta-feira para que pudesse dormir na casa de uma colega e aguardar a chegada dos meninos
ResponderExcluirQuerido primo, queria te dizer o quanto fiquei feliz e confessar que até emocionada, ao ler a ultima no blog do pitomba. Embora fosse ainda uma menina, me lembro perfeitamente dos ensaios na casa da mamãe. É impressionante como que antigas memórias parecem adormecidas e ao menor sinal da lembrança, vêem com tanta força que parece até tela de cinema. Como papai gostava de cantar com vocês e mamãe sempre preocupada de vocês sentirem frio, por isso o café fresquinho, coado na hora, era a forma também dela também participar. Um beijo carinhoso pra você e que Deus te abencoe sempre.
ResponderExcluirJÔ
É gratificante e comovente poder usufruir dessas lembranças que vocês estão compartilhando. Tecnologia a serviço da sensibilidade (e competência) do pessoal do Pytomba. Tenho 39 anos e não vivi a época das serenatas aqui em Juiz de Fora, mas sei da importância de viver experiências simples como se sentir incluído em meio a bons pais, padrinhos, amigos e vizinhos. São fatos que vivemos e às vezes só mais tarde percebemos como foram marcantes e delicados.
ResponderExcluirPoder compartilhar tempo cultivando convivências e música para si e para os outros; pessoas que nos incentivam e prestigiam com pequenos atos cotidianos, vizinhos que não reclamam de música na varanda ou calçada; ruas onde podemos andar com tranquilidade; um café, chocolate quente ou blusa que nos oferecem e às vezes esquentam o corpo e a alma, enquanto conversamos com pessoas que nos são importantes ou apreciamos momentos que tem um outro significado quando o vivemos sozinhos; improvisar soluções simples que atendam nossas necessidades e que possibilitem uma vida com satisfação e personalidade.
Não devemos transformar isso apenas em saudosismo, pois em parte podemos fazer com que estas sensações aconteçam hoje com nossas famílias e amigos, talvez de forma um pouco diferente, mas com a mesma essência ou muito próximo dela. Os “bons tempos” não estão apenas no passado, estão onde nós os fazemos! Lembrarmos de coisas boas do passado nos dá a chance de colocá-las em prática novamente no presente.
Sermos pais, padrinhos (pais reservas ou estepe de pais) “oficiais” (ou emocionais) de alguém, ou amigos mais atenciosos é só uma questão de prioridade. Tempo e dinheiro são recursos importantes e é bom pensarmos em como gastá-los agora e no que irão render no futuro. Fica difícil interferirmos no coletivo, como tornar as ruas tranquilas ou os vizinhos compreensivos, mas não impossível. Prefiro acreditar que mesmo sem perceber, ter disponibilidade com o outro, se interessar pelo vizinho do apartamento ou casa ao lado de vez em quando, gastar um tempo na rua com alguém que parecer precisar de ajuda faz a diferença em transformar o mundo em que vivemos em um mundo menos árido. É lançar sementes que julgamos boas por onde passamos, algumas irão germinar, outras não encontrarão solo fértil e irão morrer, mas se tivermos a satisfação em fazê-lo, já valeu a pena.
Sylvio.
Vivi a experiência gostosa das serenatas em São João. Anos 60. Biel era o tocador de violão. Mas ele não era fácil, avisava a gente antes e pedia para deixarmos alguma coisa para comer nas nossas varandas. O Biel era divertido e suas
ResponderExcluirserestas eram ótimas. Tínhamos também que piscar a luz do quarto para mostrar que estávamos acordadas .
Houve uma época , em que um grupo grande de pessoas, tendo à frente a Marialva , passou alguns dias ensaiando uma seresta daquelas bem bonitas. Eram muitas pessoas: um verdadeiro coral. Quando ficamos prontas saimos pelas ruas de São João a tocar e cantar. Parávamos em cada esquina e tocávamos para que toda a rua ouvisse. Era lindo!As luzes das casas iam se acendendo e as pessoas aparecendo para oferecer cobertores para o Natal dos Pobres. Antes, enviávamos uma cartinha avisando a respeito da campanha. Era lindo... Cada luz que se acendia, era uma alegria, pois sabíamos que mais um irmão não passaria frio naquele inverno.Solidariedade total.
Suas serenatas, Serjão, não conheci bem, pois já não morava aí, mas conheço e gosto muito de um poema seu que fala sobre o tema.
Aguardo a continuação das serestas dos primos .
Beijos da Mika