Abram alas, pois lá vem mais um daqueles caminhões de mudanças desfilando discretamente pela cidade! Sem chamar a mínima atenção, pra não dizer o contrário, segue passando com tudo aquilo e tudo mais a que tem direito.
Nesse
momento tão solene e único, procuro na oportunidade achar um adjetivo que venha
caracterizar tão nobre momento, pois, na realidade, não sei definitivamente defini-lo.
Pessoalmente
misturo uma forte curtição ao inusitado com uma grande conotação de solidariedade
na qual podemos sorrir ou mesmo chorar, e, se o caminhão for de carroceria
aberta, o bom mesmo é ficar num canto da calçada vendo o bonde passar.
Mas,
antes de continuar com esta inocente croniqueta, gostaria de explicar o motivo
de tê-la escrito.
Na
verdade, tudo começou na adolescência, quando num daqueles descompromissados bate-papos
das esquinas, um velho amigo meu veio a confessar que seria a maior desgraça de
sua vida se um dia tivesse que fazer uma mudança e ter que sair a rua na CARROCERIA
ABERTA de um caminhão. Fico apavorado só de imaginar! Prefiro a morte, que a isto sujeitar! – disse
ele.
Este meu amigo
era uma daquelas pessoas que ficava em pânico quando tivesse que se expor de
alguma forma, principalmente em situações que, para alguns, se tornaria cômica.
Aí vocês já imaginam! Por sinal, essas pessoas possuem em comum a interessante
característica de serem superdivertidas, ainda mais no que diz respeito ao
próximo. E este meu amigo, por ser um expert no assunto, não poderia mesmo
fugir à regra!
E desta
forma acontecia, ou seja, a cada caminhão de mudança que passasse, lá estava
ele, com todo seu sádico humor. Analisava-os minuciosamente e, após estudar com
bastante critérios todos os seus detalhes, eram distribuídas notas, que variavam
de um a dez. Algo assim como GRAU DE DIFICULDADE, SIMPATIA E ESPORTIVA DOS
ENVOLVIDOS, SITUAÇÃO DO TRANSPORTE (neste caso, quanto pior, maior a nota), DISTRIBUIÇÃO
VISUAL DA MUDANÇA NA CARROCERIA, GRAU DE ATENÇÃO QUE DESPERTASSE AOS PEDESTRES,
FISIONOMIA DO RESPONSAVEL (algo então parecido com um penico, era um DEIZÃO na
hora!).
Foi uma
época realmente muito divertida e, mesmo depois que o tempo nos distanciou, ainda
levaríamos conosco, lembranças de um passado feliz.
Até que um
belo dia, o impossível e inacreditável aconteceu. Era uma tarde chuvosa em que
eu estava na janela, e, no inicio da rua, um velho caminhão de mudanças começou
a passar. Quanta emoção! Principalmente quando, quase em frente à minha
varanda, estoura um de seus pneus. Sei que muitos não acreditarão, mas... Quem
estava na carroceria, sufocado no meio de uma parafernália de coisas, sentado
num botijão de gás, entre a geladeira e o fogão? Ele
mesmo! Simplesmente, meu velho amigo das esquinas.
(continua)
Crônica: Serjão Missiaggia (junho/1998).
Foto: disponível em http://imoveis.culturamix.com/dicas/conheca-melhor-os-tipos-de-transporte-para-mudancas .
Foto: disponível em http://imoveis.culturamix.com/dicas/conheca-melhor-os-tipos-de-transporte-para-mudancas .
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