Na SEMANA PASSADA, pra quem não
se lembra, o meu colega do júri (no qual julgávamos as mudanças mais originais
de São João) foi jurado ele mesmo, não para morrer, mas para mudar...
E lá estava ele! Totalmente
indefeso, fisionomia transtornada e pálida, com cara de quem iria, de uma hora
para outra, desmaiar. Seus olhos arregalados, não acreditavam no que estava
acontecendo... E o coitado ainda nem havia me visto!
Se tal acontecesse, certamente
iria se sentir num carro abre-alas parado em frente aos jurados e o que é
pior... De pneu furado. Daí a ideia desta croniqueta se chamar ALEGORIAS E
ADEREÇOS, digo E ENDEREÇOS.
Mas, voltando ao caminhão
empacado, procurei imediatamente, um tanto sensibilizado e como amigo fiel que
sempre fui, deixar a emoção de lado pra cumprir minha nobre obrigação.
Escondendo-me parcialmente num canto da janela, comecei, de forma isenta, a
fazer meu julgamento, enquanto o pneu era trocado.
Infelizmente, tive que tirar um
ponto no quesito Alegoria, pois não havia sequer uma única gaiola a bordo e
isso, segundo ele mesmo, seria fundamental. Quanto aos outros quesitos, por
sinal até que ele se saiu muito bem, pois havia antenas de televisão bem
posicionadas, com uma parabólica sufocando tudo, dois botijões de gás servindo
de banco, colchão de casal já bem maltratado, plantas e vasos em profusão com
lindas samambaias, aquele espelhão duplicando ainda mais as coisas, crianças
sentadas alegremente no sofá brincando de automóvel, além de um belo cachorro pastor
alemão perdido no meio da confusão.
Nota máxima ficou para o quesito Semblante
do Responsável, pois meu amigo transmitia naquele momento uma felicidade de dar
inveja. Irradiava do seu rosto, uma paz interior de tal grandeza que, qualquer
semelhança que lembrasse suicídio seria mera coincidência. Imagino os tantos e
bons pensamentos que, provavelmente, estariam na sua cabeça naquele momento, ou
seja, o que eu vim fazer aqui? Só mudo agora se for para o cemitério, e olhe lá!
Antes ter ficado onde estava! Já pensou colocar tudo no lugar novamente? Merda
de caminhão, o barato sai caro! Bem feito, língua fala língua paga!
Finalmente, de pneu trocado, lá
se foi o meu velho amigo aliviado, virando a esquina, com seu pesadelo prestes
a terminar.
Afinal de contas, fica aqui o registro
de mais uma família que se muda, ou ainda, mais um casal que se une ou se separa.
São as idas e vindas da vida, nas quais, sinceramente, respeito e admiro e,
pessoalmente, "Acho o maior barato"...
Meu velho amigo que me perdoe!
Crônica: Serjão Missiaggia
(junho/98)
Foto: disponível
em http://imoveis.culturamix.com/dicas/conheca-melhor-os-tipos-de-transporte-para-mudancas
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