A esta
altura do campeonato, o suor já pingava no chão. Então, entre licenças e “abre
caminho”, chega Dona Zélia, também moradora da rua, trazendo-me gentilmente,
água com açúcar, bolachas e algumas palavras de consolo. Vendo-me comprimido
por tantas pessoas, anunciou-me que estava quase na hora de começar um dos
últimos capítulos da novela das oito e que a coisa ali ia serenar um pouco,
pelo menos, durante a novela. Nessa hora, já sem esportiva, perguntei:
- Dona
Zélia, a senhora tá achando que vou ficar aqui até que horas?!
Entre
risos, um senhor que não conheço começou a pedir que as pessoas se afastassem
um pouco por causa do calor, mas ninguém queria de forma alguma arredar o pé, e
olhem que a novela já havia até começado!
O engraçadinho da cavadeira, que estava há algum tempo quieto até demais para o meu gosto, manifesta-se novamente do meio da multidão e, com uma pequena torcida organizada, erguia as mãos para o alto e, em coro, gritava freneticamente:
- Cavadeira!...Cavadeira!...Cavadeira!
O engraçadinho da cavadeira, que estava há algum tempo quieto até demais para o meu gosto, manifesta-se novamente do meio da multidão e, com uma pequena torcida organizada, erguia as mãos para o alto e, em coro, gritava freneticamente:
- Cavadeira!...Cavadeira!...Cavadeira!
Em meio ao alvoroço, os ânimos começaram a se exaltar e, “num ranca, num ranca, ranca, num rança”, comecei a me desesperar.
Para piorar ainda mais a situação, o Mota Soares, meu amigo das peladas de fim de semana e fanático botafoguense, passa pelo local e, mesmo vendo-me naquela situação, ainda teve a petulância de perguntar se por acaso eu não havia ficado sabendo o resultado de Botafogo e União de Araras. O pior de tudo é que o Mota é meio gago. Aí vocês imaginam o-o-o-o-o de-e-e-e-sespero...
Eu já
estava prestes a entrar em pânico. Um calafrio percorreu todo meu corpo.
Falaram em serrar o poste, cortar meu dedo e, quando o caso parecia mesmo sem
solução, eis que surge, inesperadamente, um enviado das alturas, carregando em
suas mãos, a poção mágica e grandiosa, conhecida por nós, simples mortais, pelo
nome de “sabão”. O velho e eficiente sabão que, misturado com um pouco de água,
foi aos poucos e lentamente retirando o quase desfalecido e inchado dedão.
Então, sob uma calorosa salva de palmas, fui rapidinho procurando meu rumo, não sem antes ver, ou melhor, cruzar com um carrinho de pipocas e um menino vendedor de picolés que, apressadamente, dirigiam-se ao local, na expectativa de faturarem às minhas custas. Haviam sido informados que ali o movimento prometia muito. Desta pelo menos eu escapei!!!
Mais noticias de meu drama, convido você, leitor, a procurar nos noticiários da época. Este é um dos muitos causos do século passado e que hoje, infelizmente, nem mesmo o traiçoeiro poste ficou pra contar. Até pouco tempo ainda estava ele no mesmo lugar, frio e impassível, como a que a esperar por um novo e distraído DEDÃO.
Por isso, quando passarem próximo a um desses e a tentação aguçar, feche as mãos, ou as coloque no bolso, pois o buraco, também, PODERÁ TE PEGAR.
Crônica
e foto: Serjão Missiaggia
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk....ótimo causo...o desfecho foi bom, porém o encontro com os mocinhos da pipoca e picolé foram hilários, dignos de peça de teatro...aliás seria uma ótima peça não devendo nada para as que se apresentam na Broadway.
ResponderExcluirSão essas aventuras (e desventuras) que dão estilo e personalidade a uma vida, talvez uma geração.
ResponderExcluirÊ trem bão ver histórias como essa neste blog...
Brigadu, gente! Hoje a coisa tá bunita, e coisa e tal. Mas o Serjão, quando chegou em casa, estava mais branco do que dente de fantasma no sol. Se é que isso existe.
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