segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

TYRAUTOSSAURUS REX

Arte digital por Trinidad

Em outubro do ano passado, fui a um encontro de gestores de jardins históricos que, entre informações técnicas, fizeram algumas considerações e reflexões, que mexem com a nossa cabeça, e com o nosso dia a dia.
A verdade é que vamos vivendo a vida como se tudo fosse uma grande maratona e, como não paramos para pensar, muitas coisas, que encaramos como normais, são prejudiciais à qualidade de vida, e até mesmo perigosas.
Um exemplo disto é o espaço que está sendo dado aos automóveis. Sem querer defender nenhuma bandeira, sabemos que muito desmatamento foi feito para dar espaço a estacionamentos e afins. Além disso, muitas praças e ruas largas são “redesenhadas” (leia-se, extintas), só para conseguir mais espaço, para o tráfego de um número cada vez maior de veículos, em uma equação onde o resultado nunca é bom o suficiente, pois a quantidade de veículos produzidos é sempre maior do que a capacidade de ampliação das vias para recebê-los. Aqui em Juiz de Fora, já se cogita a eliminação pura e simples do Largo do Riachuelo, para dar vazão ao trânsito.
Ora, praças e jardins, quando bem planejados e mantidos, demonstram o poder do homem sobre a natureza, modelando-a conforme sua vontade ou necessidade. As praças são espaços destinados à convivência de seres humanos entre si e com a natureza, em centros urbanos cada vez maiores. Os parques deveriam ser praças ampliadas, pequenas florestas com um sistema ecológico sustentável, próximo a centros urbanos, criando um equilíbrio entre as vantagens das possibilidades oferecidas pelas cidades e do contato com a natureza. A vida anda tão rápida e agressiva, que passamos por uma praça e a vemos, mas não a enxergamos, não aproveitamos as oportunidades de relaxamento e convivência que um espaço destes, bem organizado, pode oferecer. Houve tempo em que se namorava nas praças, e em que os parques eram espaços destinados ao lazer das famílias nos fins de semana.
Neste meio ambiente ideal, os automóveis aparecem como modernos dinossauros que, aos poucos, vão dominando espaços e aumentando seu território. Há os pequenos dinossauros, como os carros e motos, e os grandes dinossauros, como os ônibus e caminhões, estabelecendo relações de convivência e dominação, onde os maiores e mais fortes têm vantagem na lei da selva de asfalto. Pode parecer exagero falar em lei da selva mas, em Juiz de Fora, experimentem atravessar numa faixa de pedestres, para ver o que acontece. Ninguém, mas ninguém mesmo, para, mesmo que você esteja com crianças ou seja idoso. E, se alguém de uma pista para, o da outra acelera. Mas, se por um desses milagres fantásticos, os dois automóveis pararem, cuidado, pois as motos (velociraptors?) passam por cima da gente.
Às vezes penso, comigo mesmo, que a luta contra os automóveis parece uma guerra perdida. Nós alimentamos estes bichos, lavamos com carinho no fim de semana, e até compramos brinquedos para eles ficarem mais bonitos. Tratamos os danados como filhos, que vão tomando nosso lugar, sem gratidão. Não é preciso ser nenhum gênio para perceber que as ruas não têm mais calçadas livres: se há pessoas demais, há carros mais que demais.
Vamos, a pé, continuar esta viagem: vejam, da mesma forma que, nos dias de hoje, é comum demolir casa para construir prédio, de modo a caberem mais pessoas, daqui a algum tempo, se bobear, estarão demolindo pequenos prédios (de moradores de baixa renda), para a construção de edifícios-garagem, pois os mais afortunados, e seus filhos, vão precisar colocar o carro novo em algum lugar, e as ruas já não oferecerão espaço suficiente. Se fizermos um levantamento, é bem possível que a sociedade já esteja gastando mais em oficinas (e todos os ramos do comércio ligados a veículos), do que em hospitais. Se descobrirmos que já estamos investindo mais na saúde do automóvel do que na do ser humano, é bem possível pintar por aí um Ministério da Saúde Automotiva. Quem sabe não seria a nossa vingança?

(Crônica: Sylvio Bazote / Adaptação: Jorge Marin)

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BRIGADU, GENTE!

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