sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A CASA DA TIA IRINEIA

Capa do Jornal da Tarde de 5 de julho de 1982

Capítulo 3: Chora, Toninho Cerezzo!

NA SEMANA PASSADA, era jogo do Brasil na Copa da Espanha, e a Tia Irineia, seu cigarrinho e seu cachorro, esperavam o desenrolar do jogo Brasil e Itália. Pra quem não se lembra, o ano era 1982, nosso técnico Telê Santana. O Brasil havia vencido a Argentina (como é bom!) por 3 x 1, e, como a Itália também havia vencido os hermanos por 2 x 1, jogávamos contra a Azurra pelo empate. Mas, logo aos cinco minutos, vem um cruzamento da esquerda e o maledetto Paolo Rossi (que tinha 1,77 m e nasceu no mesmo mês e ano que eu) cabeceou dentro do nosso gol. Partimos pra cima, e empatamos com um gol do Doutor Sócrates. Mas aí, Cerezzo toca para o lado, Falcão não vai na bola achando que o Luisinho ia, e este também não vai, mas o Paolo Rossi vai e, 2 x 1 para a Itália.
Fim do primeiro tempo e aqui começa nossa escatológica história: nessa hora angustiada, um torcedor, agoniado, resolveu dar uma descidinha para ir ao banheiro. Quando estava sentado no vaso, dando aquela “relaxada”, sentiu uma fumaça estranha que vinha meio que assim debaixo dele. Naquela altura do campeonato (e olha que era copa do mundo), já com a adrenalina à flor da pele, imaginem o susto do nosso nobre colega. Segundo ele, que por sinal, ficou bastante assustado, seria normal a “coisa” ser arriada meio quente, mas com fumaça certamente era um exagero. E o que é pior, com odor de parafina. Nem se eu tivesse engolido um dos nossos foguetes, pensou ele, já em pânico.
Final da história, para não atrapalhar o andamento do jogo: atrás do vaso sanitário, foi encontrada uma imensa vela que, ainda acessa, tentava a todo custo secar o atacante Paolo Rossi. Suando em bicas, e carregando a vela na mão, nosso amigo cagão subiu rindo as escadas, a tempo de ver o gol do Falcão. Num ataque patriótico de alegria, jogou a vela pra cima, e deu no que deu: seis minutos depois, Rossi, aquele que deveria ser secado pela vela, desvia uma bola do escanteio e engana Waldir Perez. 3 x 2 para a Itália. Nosso amigo lembra até hoje: sei que a culpa foi minha, mas aquela vela, que era para secar o ataque da Itália, quase sapecou a minha retaguarda, justifica.
Normalmente, o time de futebol do Pytomba se concentrava na casa da Tia Irineia. Principalmente, se algum jogo fosse no campo do Operário ou Polivalente. Era lá que aconteciam memoráveis preleções: muita música, cafezinho, bate-papo, uma boa cochilada e tal. Só não falávamos de futebol. E, se desse mole, era bem possível esquecermos até do jogo. Se bem que, normalmente, quase sempre chegávamos atrasados. Confesso que, em algumas vezes, era bem melhor ficarmos na sombra assistindo à sessão da tarde, do que sujeitar-nos a subir a pé o resto do morro debaixo daquele sol escaldante. Após o jogo, ao descermos a colina do Rosário, ainda dávamos outra passada por lá, e por lá muitas vezes ficávamos. Se o Papa estiver lendo o nosso blog, vai querer beatificar a Tia, com certeza!
Além dos violões (interessante é que, mesmo havendo um no local, gostávamos sempre de levar os nossos), o Márcio, vez ou outra, “sequestrava” o contrabaixo do conjunto Popsom, juntamente com aquele famoso aparelho Tanderson da Giannini, para ficar ensaiando em casa. Numa dessas vezes, aproveitamos e montamos uma bateria, bem no quarto da Tia Irineia. Aí vocês já imaginam! Essa já dava canonização!
Interessante era que os nossos ensaios, acidentalmente, sempre aconteciam em horários de colégio. Pura coincidência, mas isto sempre acontecia!
Se não estou enganado, esta mesma bateria que, teria sido comprada pelo Márcio em Cataguases, foi ainda, novinha em folha, fazer sua estreia em Argirita, na Fazenda Vitória. Com a grana do baile, pagamos uma ou duas prestações. O restante... Bem... Esta é uma outra história. A única coisa que tenho certeza é que teria sido a primeira e última vez que ela foi usada. Ah, e eu não consigo esquecer a defesa impossível que o Dino Zoff fez naquela cabeçada do Oscar!

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

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