segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

GLOBA(NA)LIZAÇÃO

Arte digital por Chris Larson

Continuando a reflexão sobre o “politicamente correto” ou “politicamente (in)correto”, ficamos algumas vezes órfãos, já que é um campo muito vasto em situações concretas e hipóteses, tanto engraçadas quanto sérias. O que não devemos fazer é nos deixar levar pelo “comportamento de manada”, sem refletir. Identidade cultural ou de geração não é algo sem importância, que se abre mão como se fosse uma roupa fora de moda, para agradar as tendências modernas e modernistas. Temos que agir baseados em reflexão e escolha, não culpa e desinformação.

Para concluir o assunto, e seguindo nesta linha, temos outro conceito que virou religião: globalização. Assunto sério. Lendo uma matéria sobre história, adorei um jogo de palavras sobre o assunto. O texto falava sobre TRADUÇÃO X TRADIÇÃO no que diz respeito à globalização. Tradução seria incorporar conceitos que se tornaram “universais” sem perder a essência das ideias e hábitos da cultura local. Tradição seria o enfrentamento deliberado de novas influências, por considerar suas ideias e modo de vida bons o suficiente para que não queira se tentar viver de outra forma.
Ambos têm desdobramentos: a TRADUÇÃO pode ser ruim, a partir do momento em que uma sociedade, como entendo ser o caso do Brasil, é aberta a toda influência que é mostrada como da moda ou moderna. Nesse caso, a falta de questionamento acaba levando a uma despersonalização, que torna esta sociedade fragilizada e manipulável, perdendo uma base de valores morais e práticas cotidianas que possibilitam uma vida social mais estável e tranquila (os valores tradicionais passam a ser encarados como antiquados e desvalorizados). Na Tradução, bom mesmo é viver constantemente uma vida com a agitação do cinema, onde, em duas horas, a pessoa viaja pelo mundo inteiro, mata dezenas, anda por terra, mar e ar e, se bobear, ainda conhece outros planetas e dimensões. Nesse contexto, aquela receita de família ou dança típica da cidade é “coisa de velho”, que descarta-se sem perceber e pensar, buscando sempre os próximos lançamentos (de filmes, roupas, valores), uma vez que tudo é, de algum modo, questionável e descartável.
A TRADIÇÃO também pode ser ruim, se for motivada pelo radicalismo da ignorância motivada por política ou religião. Outra possibilidade é a arrogância de sentir-se superior ao que é novidade, como, por exemplo, um americano recusar um remédio apenas porque este tem origem na Bolívia ou em algum país africano.
Resumindo: a globalização (modernização) não pode ser usada como uma cruzada, onde tudo tem que ser abandonado ou tudo tem que ser evitado. Na relação entre tradição ou tradução de novas ideias e tecnologias, temos que ter o senso crítico (individual), de sabermos o que somos e do que precisamos. Se meu celular antigo atende à minha necessidade, por que me envergonhar por não possuir um 3G ou 3D?
Se a roupa com a qual me sinto confortável é feita com algodão e boca de sino, não vou ter que usar bermudas de nylon com 10 bolsos, só para me sentir um cara de primeira idade, apesar de estar na terceira. Antes, existiam carros novos e usados. Globalizaram tudo e “usado” virou “seminovo”. As pessoas passaram a não querer mais envelhecer, nem que para isso tenham que abrir mão da sua alma (essência), à base de plásticas desnecessárias e comportamentos nos quais não se acredita, mas que são adotados porque a maioria (será?) afirma serem os mais corretos. Com 60 anos, não serei uma pessoa seminova, serei um velho! Espero que um velho saudável, produtivo e “sapeca” (termos regionais também são incompatíveis com o dialeto globalizado). Mas faço questão de me declarar velho. Não há nenhuma vergonha em envelhecer, como a mídia mostra (e os medíocres acreditam). Envelhecer é inevitável, mas parece que só fica velho quem não investiu em plásticas e roupas corretas. Se a pessoa gosta de andar devagar ela não é mais vista como tranquila e sim ultrapassada, lerda. No mundo da banda larga, parece que a sensibilidade está cada vez mais estreita.

(Crônica: Sylvio Bazote / Adaptação: Jorge Marin)

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