quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

ENJOADINHOS

Cena do filme A Vida em Preto e Branco, da New Line Cinema

Filhos em férias e chuva. Existe uma receita melhor para enlouquecer?
Farelo de biscoito pra todo lado, DVDs esparramados, com a face de gravação para baixo (desespero de qualquer pai obsessivo), lápis de cor e de cera pelo chão só esperando alguém escorregar. Sem falar na briga para usar o computador. “Não é justo”, “sacanagem” e “já vou” são as expressões mais faladas.
Afinal, o que é isto chamado “ser pai” ou “ser mãe”? Dizem que é divino porque, na realidade, é a única coisa que fazemos igual a Ele lá, ou seja, é quando somos criadores também. Mas insisto que não é a mesma coisa, pois Ele, na primeira teimosia, deu logo um cartão vermelho pro casal. Eliminados! E sem paredão...
Não vamos tirar a razão do Pai, pois, se fosse hoje, com o preço das mensalidades escolares, querer adiar a entrada dos “figuras” no mundo do conhecimento até que seria plenamente justificável.
Mas, voltando ao assunto. Já que tive que parar três vezes até este parágrafo, primeiro para colocar um filme do Homem-Aranha, depois para consertar a espada laser do Luke Skywalker (desculpem, a espada é azul; então é do Ben Kenobi) e, finalmente, para conferir se aquela arcada dentária de uma dúzia de dentes está bem escovada.
E ainda tem aquela história do politicamente correto, que vem sendo abordada pelo Sylvio nas segundas-feiras. Hoje é muito comum, ouvirmos dos pequeninos: “se você me bater, eu ligo pro 190!” O fato é que aqueles de nós que andam pela casa dos cinqüenta já passamos momentos difíceis nesta história de maus tratos. Como vivíamos numa época em que as coisas eram resolvidas na base do cassetete, já levamos algumas bordoadas que, sinceramente, talvez fosse a passagem ao ato daquele ódio que normalmente habita em todos os lares.
Ódio? Espera aí, mas quer dizer que tem ódio dentro dos nossos lares? Felizmente, a resposta é sim. Os lares são formados, em sua maioria, por pessoas normais, pelo menos de longe. O resultado disso é um amontoado de sentimentos e desejos e frustrações e, lógico, muita alegria, espontaneidade e amor. O problema aí é o seguinte: sentir ódio de um filho, ou de uma mãe, ocasionalmente, é um atributo humano comum. Só que, naqueles tempos, os pais, respaldados pela autoridade (autoritária) que governava o país, achavam por bem tirar o pé do lodo (do ódio, das frustrações) e “virar a mão na orelha”.
É lógico que toda ação violenta gera uma reação de mesma intensidade e a geração seguinte adotou padrões de comportamento extremamente liberais. É o chamado tempo da Psicologia, embora eu nunca tenha estudado, dentro daquela matéria, nenhuma proibição expressa do pai exercer o seu papel, de expressar sentimentos e de agir com firmeza.
Assisti a um filme de 1998, chamado A Vida em Preto e Branco, onde dois jovens, o homem-aranha Tobey Maguire e a loura Reese Whiterspoon, são arremessados dentro de um antigo seriado americano chamado Papai Sabe Tudo (muita gente aí vai dizer que não lembra pra não dar bandeira da idade). A confusão é grande, a começar pelo conflito das cores, pois o seriado é em preto e branco, e os dois adolescentes são coloridos. Estes acabam implantando, no fictício mundo certinho, além das cores, uma boa dose de sabor, desejo e pecado.
Talvez nossa missão, nós do tempo do “Papai Sabe Tudo”, seja o de trazer um pouco de ordem, de limites e de seriedade para a cena familiar atual. Mas, lógico, sem abrir mão das cores, das nuances que já estão por aqui.
Afinal, sabemos, como Vinícius de Moraes, que “chupam gilete, bebem xampu e ateiam fogo ao quarteirão. Mas que coisa, que coisa louca, que coisa linda que os filhos são.” Mas haja paciência!

(Crônica: Jorge Marin)

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