segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

POLITICAMENTE (IN)CORRETO

Digital art por Irene Pakhomoff

Para início de conversa, quero dizer que, aqui no blog, me sinto em casa: adoro rock, sou baterista de uma banda que, a exemplo do Pytomba, também foi sem nunca ter sido e gosto de reviver os momentos do passado, sem saudosismo, mas com aquela certeza de que, se chorei ou se sorri, é porque sou humano mesmo.
Porém, uma ideia que eu gostaria de discutir aqui é a minha convicção em ser “politicamente (in)correto”. Por isto entenda-se a minha absoluta falta de vontade em me conformar com os modismos que considero inúteis, como:

- Reforma ortográfica (não vi nenhuma vantagem, mas quem quiser fazer concursos, terá que estudar esta palhaçada de intelectuais que não têm nada melhor para fazer). Cada país tem sua língua e não percebo a Inglaterra e os EUA preocupados em padronizar isso ou aquilo no inglês. Pelo contrário, parecem gostar de mostrar suas diferenças e características.
Na carona da reforma ortográfica, vem a mudança desnecessária de nomes de parte do corpo humano. Maxilar virou mandíbula, o osso do joelho e alguns outros mudaram de nome. Chatice inútil.

- Já se tornou ridícula esta mania de aumentar cada vez mais a maneira de se dizer uma mesma idéia, com a finalidade de não ofender. Poderia se criar algumas situações ótimas sobre isso. Exemplo: antes, você falava que uma pessoa era cega (e isso não era uma ofensa, apenas uma forma de definir). Depois, o “cego” tornou-se “deficiente visual”, depois, “pessoa com necessidades visuais especiais”, depois, mudando seis por meia dúzia, tornou-se “portador de necessidades especiais visuais” e por aí vai. Tem outros casos parecidos. O que antes era definido com uma ou duas palavras, em breve será necessário uma frase ou pequena redação, algo do tipo:
“cego” = “ser humano que, a princípio, demonstra algum tipo de necessidade ou pequena deficiência visual que, a qualquer momento, pode não mais existir e merece tratamento especial, porém igualitário e respeitoso, visto que sua atual condição em nada o desmerece”.
Chamar alguém de “preto” ou “criolo (crioulo)”, no atual momento “afro-brasileito”, revisionista e desculpista, então, tornou-se, literalmente crime, tanto legal, como moral e talvez espiritual. É capaz de você apanhar e ser excomungado, como se estivesse entre as pessoas mais vis e desprezíveis da raça humana. Ficaria algo assim: se alguém lhe pede informação onde seria tal lugar e, como referência, tem um negro na porta, ao invés de você, despretensiosamente, falar: “ali onde está aquele negro na porta”, seria politicamente correto talvez dizer: “ali onde está aquele afro-descendente que tanto contribuiu e contribui para a formação da identidade nacional e fortalecimento da nossa economia, às custas do sangue e suor de seus antepassados e sofrimento desnecessário e injusto de seus contemporâneos, na porta”.
Também não vou deixar por menos! Se algum crioulo me chamar de branco, vou meter-lhe um processo judicial no nariz largo, para ele aprender a não insinuar que a menor quantidade de melanina na minha pele deprecia minha condição de ser humano, considerando que há, nesta afirmação, uma nítida conotação subentendida de que meu órgão sexual é menor do que o dele e de que algum parente distante meu, no passado, deve ter sacaneado, de alguma forma, sua avó ou bisavó, o que causou o empobrecimento de sua família atualmente e diminuiu a capacidade intelectual de seus filhos devido a uma alimentação inadequada.

Na semana que vem, quero falar de uma outra imbecilidade, chamada “sustentabilidade”.

(Crônica: Sylvio Bazote)

2 comentários:

  1. Caro Sylvio,
    Concordo com você e acho tudo isto um saco. Acredito que não precisaria de tantas "chatices" para referir as pessoas se houvesse apenas o "respeito"
    Muito Legal

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  2. Também acho que já temos que nos preocupar com muitas regras para viver em grupo. Podemos dispensar moralismos! Bom saber que outras pessoas também se sentem pressionadas por cobranças que só fazem aumentar com o passar do tempo!

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