sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A CASA DA TIA IRINEIA

Arte digital por Enri Colonghin

Capítulo 4 - O Quarto do Pânico

NA SEMANA PASSADA, acho que ninguém conseguiu esquecer o fato, estávamos no terraço, perdendo para a Itália. Era uma dor, mas, de certo modo, não era um sofrimento, se é que vocês me entendem. Éramos jovens, estávamos em bando, fazendo uma bagunça louca, rindo.
Enquanto isso, na parte inferior da casa, uma pessoa sofria. Tia Irineia, pitando seu cigarrinho, olhava para a Igreja do Rosário e via algumas pessoas, poucas, descendo a rua e reclamando, alguns choravam. Ela sabia que, dali a pouco, aquele bando desceria e estaria na sua cozinha, procurando café, mexendo nas panelas e fazendo alvoroço. É extraordinário como algumas pessoas fazem com que a gente se sinta em casa, mas ela fazia mais: fazia com que desejássemos que a nossa casa fosse igual à dela.
A tia adorava nossas reuniões musicais. Aquelas mesmas que começavam no terraço, passavam para a escada, desciam para a varanda, chegavam à sala, à cozinha, escada do terreiro, para, no final, a gente nem mais saber pzra que estávamos reunidos. Deixávamos tudo para ser resolvido numa próxima reunião que, possivelmente, já estaria sendo agendada para o outro dia. E ela morria de rir!
E, por falar em escadas, por diversas vezes, a tia Irineia, chegou a comparecer em bailes do conjunto Pop Som, no Operário. Ficava sentada junto com a turma, bem ao lado daquela escadinha de acesso ao palco. E ali, enquanto se divertia, ficava acompanhando cada detalhe do conjunto.

Quem lê, nem pensa no Lado Negro da Força... Mas vocês se lembram do dia em que o Guilherme Bellini entrou no quarto do Márcio e viu que ele estava dormindo? Pois é, este nosso amiguinho, simplesmente, acendeu um rojão e arremessou debaixo da cama. E que explosão!!! O Rajá, ou Lobo, que estava também tirando uma boa soneca aos pés do Márcio, sem mesmo acordar, pulou a janela em um único salto, e foi parar no meio da rua. O violão voou longe e, por pouco, nós também. Digo nós, porque, até que se provasse o contrário, todos seriam suspeitos. Ainda bem que a tia não estava em casa nesta hora, pois o quarto chegou a tremer. Ante aquela fumaceira danada, que saía debaixo da cama, confesso nunca ter visto o Márcio tão bravo. Levantando alucinado, e ainda meio abobado, por pouco não deu uns bons “catilipás” no primeiro que encontrasse. Merecidos, diga-se de passagem.

Este quarto do Márcio, que era também do Ilko, sempre foi superdiferente, e chamava muita atenção. Pra começar, grandes pinturas foram feitas em quase toda a extensão da parede. Geralmente desenhos enormes, que eram feitos com muito carinho pelo Ilko. Verdadeiros trabalhos artísticos que despertavam a admiração de todos. O Ilko, desde muito jovem, foi abençoado por este belo dom. Um artista nato que, felizmente, ainda hoje, vem emprestando seu talento em vários trabalhos profissionais.

Assim vivíamos nossas vidas, com leveza, alegria e até às vezes acusados, injustamente, de irresponsabilidade. Hoje, vendo nossos filhos, a pergunta que devemos fazer é: como acusar os jovens de querer direcionar seus afazeres rumo à felicidade? O adolescente é, antes de tudo, um ser que coloca o corpo na frente. Não quero nem saber, dizem, fui... E vão. Quebram a cara às vezes (como quebramos), mas este é o momento certo de fazer as coisas erradas.
Mas, falando em coisas erradas, há um episódio que merece ser contado, e ficou conhecido como O C_ do Zé Isteves. Sinistro!!! Mas fica para a próxima semana.

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

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