O Papa
vai fazendo sua jornada pelo Brasil e - novos tempos! - parece que o que
importa mesmo são os valores monetários: visita papal custa R$ 118
milhões, o carro do papa não é de luxo e
uns outros tantos informes econômicos.
Engraçado é que, quando os outros papas aqui vieram, tiveram que
contratar um expert em Vaticano, mas, desta vez, o comentário deve ser feito
pela Míriam Leitão. Se as visitas
anteriores brilhavam no Lar Católico, hoje o Papa Francisco é primeira página
do Valor Econômico.
Isso
pode parecer uma brincadeira, mas não é.
É um triste sinal dos tempos que, graças aos cânones do liberalismo, vem
transformando cidadãos (e vejo também que fiéis) em consumidores. Sem moralismo, mas confesso que com uma certa
preocupação, vejo que não há outra LEI exceto a lei de mercado. Parece que não sobrou espaço nem para a Lei
de Deus, e muito menos para aquela Lei Paterna, que existia e dava conta da
ordem simbólica do convívio social.
Sem uma
lei que referencie as condutas, vamos combinar que é muito difícil fugir do
egoísmo desenfreado, que leva as pessoas a cometer todo o tipo de atrocidades
para proteger aquilo que é SEU, seja o SEU dinheiro, o SEU emprego, o SEU
emprego. E vejam que o pronome aqui não
é no sentido de pronome pessoal, mas sim pronome possessivo.
Assim,
em nome da proteção do seu patrimônio, e totalmente desvinculadas do tecido
social (que se danem os outros!), as pessoas matam o cônjuge que não mais quer
ficar ao seu lado, traem os colegas em busca da SUA promoção e jogam um filho
ou outro pela janela porque essas pestinhas costumam atrapalhar suas noitadas.
É
inegável que a conquista das liberdades individuais e a afirmação da igualdade
de todos os seres humanos é uma conquista indiscutível da sociedade
humana. No entanto, algumas restrições
têm que ser lembradas e, urgentemente, aplicadas. Uma é que, quando se fala em igualdade, isso
não quer dizer que todos somos iguais.
Pelo contrário, é porque somos todos diferentes que as diferenças têm
que ser respeitadas.
A outra
restrição é quanto à liberdade individual.
Há um limitador para esta, que é a Lei, mas não a LEI NATURAL. Esta última é a lei da selva, a lei do mais
forte. Não confundi-la com o contrato
social que regula os direitos e, pasmem, os DEVERES.
Não
confundam “comitiva do Francisco e aquela gente toda” com “eu digo que eu
existo e o resto que se... exploda!”
Crônica:
Jorge Marin
Muito bom, Jorge. Concordo com tudo que você coloca em seu texto. E, por coincidência, escrevi na última madrugada, lembrança que me veio da infância nas festas da igreja do bairro, e dos leilões nos coretos, que já eram o comércio, a igreja pegando dinheiro dos bons fieis, ingênuos católicos, e que acreditávamos no “amai-vos uns aos outros”; e tomo a liberdade
ResponderExcluirde reproduzir abaixo:
“Outubro. Festa da padroeira do bairro. Seu pai levou a ele e o irmão, para verem fogos, bandeirinhas, e coreto de leilão no pátio da igreja.
Ele, quase quatro anos; seu irmão, quase três. E a irmã, casula, faria aniversário de um ano no final de dezembro; e ficou em casa com a mãe.
Ao chegarem ao local da festa, encontraram com tio, irmão de sua mãe. Pai e cunhado dividiram cerveja, num anexo ao lado do coreto; e o tio pagou guaraná para os sobrinhos.
E, atento, ficou a observar o leiloeiro, num falar acelerado e quase espécie de cantar embolado, a oferecer as prendas do leilão.
Foi quando o tio percebeu sua atenção ao “dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três... E arrematada a prenda por fulano de tal...”
Aí o tio lhe mostrou um bolo, embrulhado em papel celofane laranja, e amarrado com laço de fita azul; e disse que quando o leiloeiro oferecesse aquela prenda, ele faria ofertas ao leilão, até arrematar o bolo, para presentear à irmã.
Ansioso, ficou a espera. Até que o leiloeiro apresentou o produto, elogiou as qualidades, etc... E pediu preço mínimo. Alguém ofereceu pouco mais, e o tio ofereceu valor maior... E esta disputa ficou tempão, até o tio fechar as propostas, e arrematar o bolo.
Bolo em sua mão, feliz saiu do leilão. Mas o pátio da igreja ficava em ponto mais alto do bairro, e quando desciam o passeio, zeloso, a carregar o bolo, emocionado por ser presente do tio à mãe, deixou o bolo cair e, redondo, desceu que nem roda, passeio abaixo. E ele a correr atrás.
Felizmente o bolo parou no final da descida, na posição horizontal, e nem prato de papelão, papel celofane laranja, fita azul, e o bolo redondo... Acidentes sofreram.
Ao chegarem em casa, contou a aventura à mãe. Riram todos juntos, mãe abriu o pacote do bolo, e todos comeram um pedaço; inclusive sua irmã casula.
César Brandão
Madrugada gelada de 25/07/2013
Fato ocorrido em 1960”
Obrigado, meu amigo
ExcluirÉ justamente disso que venho tratando aqui no BLOG: do respeito. Seja pelos pais, por Deus ou pelo próximo. Fico preocupado ao ver as pessoas cuidando apenas do sucesso, ou seja, em ganhar mais e mais dinheiro. E, nesse processo, agirem como se nada, absolutamente nada, tivesse consequência em suas vidas.
Este (maravilhoso)recall que você faz da "idade da inocência" me lembra um caso do Papa João XXIII que, certo dia do início dos anos 60, saiu, a pé, do Vaticano para uma visita de surpresa ao convento do Espírito Santo. Lá chegando, deu de cara com a madre superiora que, assustada, balbuciou:
- Buona sera! Eu sou a Superiora do Espírito Santo.
E ele, sempre risonho:
- Então, a senhora tem sorte, pois eu sou apenas o Vigário de Cristo.
Abraço, i Sia lodato il nostro Signore Gesù Cristo!