Enfim...
as férias escolares chegaram!
E, com
elas, as incontáveis possibilidades de correr, brincar, soltar papagaio, nadar
no ribeirão e jogar futebol na rua até onze horas da noite.
Será??? Bom, isso tudo era no meu tempo de criança,
pois, nos dias de hoje, criança em férias dentro de casa é um grave problema
social. Mães têm de ir ao trabalho e não
sabem onde deixar os filhos, as avós anunciam que estão com grave doença (que,
naturalmente, só vai sarar quando as aulas voltarem) e os financeiramente
melhorados aproveitam para mandar os pimpolhos para os famosos “clubes de
férias” onde atarantadas recreadoras entopem as crianças de hambúrgueres e
refrigerantes.
Alheio
a toda essa bagunça, meu filho, tranquilo, está no YouTube curtindo vídeos
sobre videogames. Ali ficará, pelo menos,
pelas próximas dezesseis horas pois, naturalmente, hoje deve dormir. Culpado por ele não ter aqueles “prazeres de
infância” que eu tive, convido-o para irmos na pracinha, andar de bicicleta,
jogar xadrez, brincar de adedonha, sei lá.
Mas ele permanece irredutível: pai, deixa eu curtir meus vídeos e DEPOIS
em brinco COM você.
Pronto,
o problema então sou EU. Depois que ele
acabar o programa “maneiro” dele, vai quebrar o meu galho e brincar dessas
coisas que ele deve achar bem estúpidas.
Minha primeira reação é a de todo pai desesperado: sai dessa Internet,
minino! Cê vai ficar meio pirado o dia inteiro em frente ao computador! Vai fazer alguma coisa real!
No
entanto, paro, e começo a pensar que, afinal de contas, talvez eu esteja
errado. No momento em que estou cobrando
uma postura menos virtual de suas férias escolares, milhões e milhões de
pessoas, vizinhos, parentes, desconhecidos em todos os continentes, estão full time, no Facebook. Pessoas acordam, ligam o computador, fazem
xixi e, com pasta na escova, já acessam o “marvado” do Face.
Tem um
conhecido meu aqui do bairro que diz que, atualmente, as pessoas preferem
ESCREVER do que FALAR apenas por um único motivo:
- É o
medo do OLHO, Jorge! No Face, você
escreve o que quer e, no máximo, a pessoa faz um comentário que você ignora e
apaga. Mas, SE VOCÊ FALA, paradoxalmente
no face to face, o outro te olha, te
julga e te responde. Isso pode ser muito
dolorido para a maioria das pessoas.
De
repente, na grade da cobertura, pousa um passarinho velho conhecido. Chamo: vem aqui meu filho, que você vai ver
um pássaro lindo, que tenho certeza de que você NUNCA viu! Ele para, pelo menos por alguns minutos, sua
viagem virtual, e vem admirar o pássaro inédito.
Olha,
elogia, admira as penas, pergunta o nome do bicho e, antes que eu fale, o
próprio penoso se apresenta: BEM TE VI!
Como não temos medo de olho, falamos juntos: bem te vi também! E rimos...
Crônica:
Jorge Marin
Foto:
Thy-Noth, disponível em http://browse.deviantart.com/art/Vacation-52946541
Amigo Jorge,
ResponderExcluirQuando meu irmão e eu saímos de férias, no mês de julho, anos de 1960, do Grupo Escolar Padre Antônio Vieira, em Santos Dumont, era o descrito abaixo que fazíamos, o mês inteiro:
"Férias chegavam. Meu irmão Silvio e eu fazíamos varetas de taquara de bambu, grude de farinha de trigo e água ao fogo (espécie de cola caseira), e construíamos papagaios com papéis impermeáveis, varetas e grude.
E misturávamos cores diferentes de papéis, para que ficassem bonitos. E fazíamos rabiolas com argolas coloridas dos restos de papéis dos papagaios, e amarrávamos também ramo de mato no final da rabiola; espécie de contrapeso a equilibrar sua imponência quando no ar.
Depois, calibrado o cabresto e esticada a linha para envergadura do papagaio ao vento, amarrávamos a ponta da linha do cabresto à linha grossa que já estava enrolada na máquina de madeira de seis cruzetas, que nosso querido Tio Ercílio, ótimo marceneiro, fazia para nós.
E subíamos, alegres, morro próximo à nossa casa. E empinados os papagaios, ficávamos a tarde inteira, sol de inverno a iluminar as tremulações oscilantes dos papagaios ao vento; ora mais rápido e forte, ora mais fraco e quase a cair.
Aí, a obedecer ao comando de vôo dos papagaios, liberávamos a linha, e a roleta da máquina girava veloz, e o papagaio quase sumia no azul límpido do céu.
Ou, quando vento enfraquecia, e o papagaio começava a descer lentamente, girávamos a manivela de arame que controlava as cruzetas da máquina, e a linha puxava o papagaio às correntes de ar que equilibravam seu vôo, novamente.
O sol começava a se por, o vento frio chegava, fazíamos força ao rodar a manivela e enrolar a linha nas cruzetas, para o papagaio voltar.
E não havia barulho melhor que do papel agitado ao vento, quando o papagaio retornava à maquina. Felizes, ao voltar a casa, segurávamos vitoriosos, máquinas e papagaios.
César Brandão"
www.cesarbrandao.com
Cada tempo tem seu alento!...
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