quarta-feira, 26 de setembro de 2012

SER OU NÃO SER... ARISTOCRATA? 3 - Final


Na semana passada, deixamos no ar a pergunta: PARA QUE SERVE, OU QUAL A APLICABILIDADE DA ARISTOCRACIA NO MUNDO MODERNO?
E, justamente aqui, nessa pergunta crucial, é que vai ficar bem explícito o conceito de Aristocracia. 
Duas qualidades são essenciais nos tempos atuais: utilidade e justificativa.  Dessa forma, as perguntas que fazemos, SEMPRE, quando nos é apresentado qualquer produto, ou até mesmo uma pessoa, são: PRA QUE SERVE? e POR QUE É QUE FUNCIONA ASSIM?
Pois bem, a Aristocracia NÃO tem utilidade NENHUMA, assim como, voltando ao Fernando Pessoa, a Poesia também não tem!  Ao comparar seus versos à tabuleta da Tabacaria, afirmava: “sempre uma coisa defronte da outra, sempre uma coisa tão inútil como a outra, sempre o impossível tão estúpido como o real.”
A preocupação com a “utilidade” das coisas já vem de longa data, a ponto de Jesus Cristo ter que chamar a atenção dos utilitaristas: “olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam.”  Com certeza, o Mestre era um Aristocrata.
A segunda praga do convívio social atual é a “justificativa”: por que é que a Aristocracia funciona desse jeito?  Como quem diz: se você me explicar porque funciona assim ou assado, eu também vou ser um aristocrata.  Hoje, por exemplo, um assunto “seriíssimo” pipocou em todas as mídias: uma garota brasileira resolveu leiloar a virgindade na Internet.  Pelo menos, uma dezena de emissoras de TV dedicou seu horário vespertino, com direito a psicólogos de plantão, para dizer os porquês: por que ela vai leiloar?  Por que os pais deixaram?  Por que alguém vai comprar?  Quantos aristocratas estiveram assistindo a essa eclética programação?  Zero!  Poderiam estar até assistindo àqueles leilões de tapetes persas, mas a esse bafafá, nenhum, com certeza!  Eu, por exemplo, sei, porque me contaram na padaria.
Finalmente, seria o Aristocrata um chato?  Acompanhem as suposições, supondo que eu seja mesmo um Aristocrata.
Sabem aquela festinha animada de família, com direito a churrasquinho, cerveja gelada, um primo tocando cavaquinho e um sambinha maneiro?  Irresistível, não é?  Pois eu, Aristocrata, tô fora!
E aquela viagem tão sonhada, no feriadão, para a praia, com uns amigos, e a família dos amigos, e os filhos dos amigos, e os sogros (e sogras) dos amigos, para tomar todas e dar aquela esticada legal no sol para bronzear?  De jeito nenhum!!!
E aquele carnavalzão na Bahia, pra ver Ivete?  Nem que me paguem!
Finalmente, e a participação política?  Afinal, deve haver algum candidato honesto, bem intencionado, que mereça o seu voto e vamos aprender a votar e outras coisas do gênero?  Fui... digitei 99.
Aristocrata não premedita: age.  Não planeja: curte.  Não toma cafezin todo dia, na Rua Halfeld, ou no Bar Central: poupa dez anos e, num belo dia, vai comer um pão com chouriço, caldo verde e arroz doce na Merendeira, às 3 horas da manhã, na beira do Tejo em Lisboa.  É muito fixe!

Crônica: Jorge Marin
Foto: Disponível em http://sabores.sapo.pt/noticia/faz-figura-com-nova-ementa-estival

4 comentários:

  1. Jorge,
    Deixando de lado a origem primordial da palavra,onde predomina privilégios, monopólios etc,e levando em conta seus outros significados, seria muito bom se todos nós fôssemos aristocratas, pois nos distinguiríamos pelo saber, pelo requinte e educação. E isto é muito bom, não é?
    Um abraço, nobre Jorge.

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  2. Por tudo que foi explicado, sou um aristocrata e não sabia!
    Êta vida cheia de surpresas e detalhes que não percebemos...

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    1. E você, Sylvio, é o melhor tipo de Aristocrata que existe: cru, psicanalisado e radical (no sentido de raiz). Se encontrássemos o Luiz XIV, poderíamos nos abraçar e dizer: É NÓIS!

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