Gente,
tô sem paciência! Entro no ônibus e, já
pela terceira vez nesta semana, entra junto comigo um sujeito com um kit de canetinhas
e um cartão. Usando uma camisa preta,
onde se lê “João 8:12”, o cara distribui as canetinhas para cada um dos
passageiros do coletivo (exceto para mim que não aceito) e começa um discurso
dizendo que foi drogado, presidiário, etc., e pedindo para pagarem dois reais
pelas canetas para ajudar a um suposto abrigo para dependentes químicos. Desço dois pontos antes, só para não ouvir
aquelas lorotas.
Será
que é a velhice ou as pessoas estão mais chatas? Faço meu café, pego o pão que acabei de
buscar, quentinho, na padaria, passo manteiga (que derrete), coloco o café
superquente na xícara e, quando vou saboreá-lo, o telefone toca: é um
telemarketing. Mas não é um
telemarketing qualquer: nesse novo tipo de telemarketing, você atende, toca uma
musiquinha e, acreditem, colocam você numa fila, até a vendedora tentar te
enfiar um produto. Calmo, espero a
música tocar, apenas para xingar aquela pessoa.
Depois
de meia hora, volto à padaria para comprar pão quente (pois o outro esfriou
enquanto eu ficava na fila do telemarketing).
No caminho, vejo uma mulher com um bebê no colo. Pode parecer esquisito, mas eu juro que
passam por ela dezenas de pessoas e, justamente na minha vez de passar, ela me
chama para contar a história da vida dela e pedir uma ajuda, “não é pra mim,
sabe, é pro meu filhinho!”.
Tento
atravessar correndo a faixa de pedestres, mas, adivinhem se algum carro
para? Nenhum.
Quase
fui atropelado, mas, pelo menos, não tive que dar esmola. Chego na padaria e,
atrás do balcão, três moças estão curtindo um vídeo no Facebook de uma delas. Perguntem
se alguma me atende! Nenhuma.
Resolvo
voltar pra casa e comer um pedaço de broa de fubá que um amigo me deu. Aí me dá uma curiosidade danada de olhar na
Bíblia, só para saber o que significa aquele “João 8:12” da camisa do
ex-drogado vendedor de canetas. Aperto o
passo e, no portão do meu edifício, um carteiro, ou melhor, uma carteira, espera. Quando diz o número do apartamento, dou um
sorriso e falo: “que sorte, sou eu!”. E
ela me entrega a correspondência... uma notificação de malha fina da Receita
Federal.
Pego a
broa, faço um café novo. “Não se perturbe o vosso coração”, abri a Bíblia
no capítulo errado. Por via das dúvidas, chego à janela e, não vendo ninguém,
jogo lá embaixo o meu telefone. Será que
estou com algum tipo de demência?
Crônica:
Jorge Marin
Foto : disponível em http://franciscolibanio.blogspot.com.br/2011_01_01_archive.html
Cara, tem dias que são difíceis de viver e uma alegria esquecer...
ResponderExcluirÊ bad trip essa!
Acredite nos dias melhores que virão e se nada mais estiver dando certo, deixe tudo de lado, medite e durma.
Se não melhorar, provavelmente não vai piorar.
Um abraço solidário e solitário.