sexta-feira, 15 de agosto de 2014

SOBRE FILAS E GUERRAS


Tudo começa com o sangue: pois bem, fui até o laboratório aqui perto de casa, não porque eu tenha medinho de tirar sangue não. A verdade é que eu MORRO DE MEDO de tirar sangue! Então, a caminhada para ir até o laboratório, mesmo de um quarteirão, já é tensa...

Chegando lá, outro problema: a fila, aquele monte de gente, todo mundo com cara triste. Lógico: tá todo mundo de jejum, e, como dizia meu sábio pai: “rico até tem muitos motivos pra ficar triste, mas pobre geralmente é fome”. Percebo que algumas pessoas também estão tensas, possivelmente outros cagões. E, por falar em cagão, existe um constrangimento maior do que ir no laboratório, pegar a senha e ficar segurando o seu cocô até as moças chamarem? E o pior é que elas ainda mandam desembrulhar o potinho que, na maioria das vezes, é transparente!

Pego minha senha: é a de número 69. Faço uma rápida pesquisa e descubro que estão chamando o 51. Tenho dois pensamentos: o primeiro é que vou “estourar” as 14 horas de jejum e não vai dar tempo; o segundo é que a última coisa que quero é voltar pra casa e passar por todo esse estresse de novo.

Não há mais lugar pra sentar.  Apesar do frio lá fora, aqui dentro está superabafado, e o wifi do shopping não pega. Tento jogar um daqueles joguinhos no meu celular, mas a bateria cai. O tempo passa, já estou suando. Finalmente, desocupa um banco e eu me sento.

Quando chamam o 64, uma senhora, com duas crianças diz que não vai dar mais tempo para fazer o exame e coloca a sua senha (percebo, com alegria, que é a número 68) em cima do balcão e sai. Imediatamente, uma moça que vai chegando com a sua mãe, corre ao balcão e resgata a tal senha e as duas mulheres entreolham-se sorridentes. Fico na minha...

As senhas já estão lá pelos oitenta e tantos, quando, enfim, chamam o 68. Rápido como um raio, me levanto e corro para o guichê (eu estava igual àqueles corredores que ficam esticados no chão esperando o tiro de largada). A tal moça, que pegou a senha da outra, chega junto e a atendente, que não viu nada, me fala: “não, sr. Jorge, ela está na sua frente, pois tem a senha 68”.

Enquanto estou explicando que a senha fora deixada sobre o balcão, a outra menina chama o próximo e eis que a espertinha corre pra lá. Mais do que depressa, alerto a senhora idosa que está com a 70 que é a vez dela. E a espertinha faz uma confissão inesperada: “gente, realmente estou com a senha da outra moça, mas foi ela que me deu quando foi embora”.

Já assinando minha requisição de exame, e sem olhar pra trás, falo para todo mundo ouvir: “É mentira! As duas nem se cruzaram.”

Saio do meu exame aliviado. Ouço na TV que Israel anunciou mais um cessar-fogo sobre uma guerra que não tem fim. Alguém comenta: “não sei porque aquelas pessoas LÁ brigam tanto”. Atrás de mim, sai aquela velhinha, a do número 70, sorri e me agradece.

Crônica: Jorge Marin
Foto    : disponível em http://pt.wahooart.com/@@/8XYA72-Ivan-Vladimirov-Na-fila-para-o-p%C3%A3o.-Primeira-Guerra-Mundial.

Um comentário:

  1. As situações tendem a piorar quando estamos "enfezados"... aí qualquer contratempo e é m***a para todo lado.
    Seria esta a explicação para tanta guerras substituindo diálogos?

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