Tudo começa
com o sangue: pois bem, fui até o laboratório aqui perto de casa, não porque eu
tenha medinho de tirar sangue não. A verdade é que eu MORRO DE MEDO de tirar
sangue! Então, a caminhada para ir até o laboratório, mesmo de um quarteirão,
já é tensa...
Chegando
lá, outro problema: a fila, aquele monte de gente, todo mundo com cara triste. Lógico:
tá todo mundo de jejum, e, como dizia meu sábio pai: “rico até tem muitos
motivos pra ficar triste, mas pobre geralmente é fome”. Percebo que algumas pessoas
também estão tensas, possivelmente outros cagões. E, por falar em cagão, existe
um constrangimento maior do que ir no laboratório, pegar a senha e ficar
segurando o seu cocô até as moças chamarem? E o pior é que elas ainda mandam
desembrulhar o potinho que, na maioria das vezes, é transparente!
Pego
minha senha: é a de número 69. Faço uma rápida pesquisa e descubro que estão
chamando o 51. Tenho dois pensamentos: o primeiro é que vou “estourar” as 14
horas de jejum e não vai dar tempo; o segundo é que a última coisa que quero é
voltar pra casa e passar por todo esse estresse de novo.
Não há
mais lugar pra sentar. Apesar do frio lá
fora, aqui dentro está superabafado, e o wifi do shopping não pega. Tento jogar
um daqueles joguinhos no meu celular, mas a bateria cai. O tempo passa, já
estou suando. Finalmente, desocupa um banco e eu me sento.
Quando
chamam o 64, uma senhora, com duas crianças diz que não vai dar mais tempo para
fazer o exame e coloca a sua senha (percebo, com alegria, que é a número 68) em
cima do balcão e sai. Imediatamente, uma moça que vai chegando com a sua mãe,
corre ao balcão e resgata a tal senha e as duas mulheres entreolham-se
sorridentes. Fico na minha...
As
senhas já estão lá pelos oitenta e tantos, quando, enfim, chamam o 68. Rápido
como um raio, me levanto e corro para o guichê (eu estava igual àqueles
corredores que ficam esticados no chão esperando o tiro de largada). A tal
moça, que pegou a senha da outra, chega junto e a atendente, que não viu nada,
me fala: “não, sr. Jorge, ela está na sua frente, pois tem a senha 68”.
Enquanto
estou explicando que a senha fora deixada sobre o balcão, a outra menina chama
o próximo e eis que a espertinha corre pra lá. Mais do que depressa, alerto a
senhora idosa que está com a 70 que é a vez dela. E a espertinha faz uma
confissão inesperada: “gente, realmente estou com a senha da outra moça, mas
foi ela que me deu quando foi embora”.
Já
assinando minha requisição de exame, e sem olhar pra trás, falo para todo mundo
ouvir: “É mentira! As duas nem se cruzaram.”
Saio do
meu exame aliviado. Ouço na TV que Israel anunciou mais um cessar-fogo sobre
uma guerra que não tem fim. Alguém comenta: “não sei porque aquelas pessoas LÁ brigam tanto”. Atrás de mim, sai aquela velhinha, a do número 70, sorri e me
agradece.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : disponível em http://pt.wahooart.com/@@/8XYA72-Ivan-Vladimirov-Na-fila-para-o-p%C3%A3o.-Primeira-Guerra-Mundial.
As situações tendem a piorar quando estamos "enfezados"... aí qualquer contratempo e é m***a para todo lado.
ResponderExcluirSeria esta a explicação para tanta guerras substituindo diálogos?