Como todo ser mortal que se preza e que, recentemente, acabou de se
aposentar, querendo ou não começa aguçar aqueles pensamentos tão próprios de
quem ficou 35 anos ralando ininterruptamente no trabalho. E, mesmo que ainda
longe de querer, ou mesmo poder parar de vez, de imediato nos vem à mente
aquela musiquinha do Zé Rodrix em que dizIA: “EU QUERO UMA CASA NO CAMPO ONDE
EU POSSA COMPOR MUITOS ROQUES RURAIS...”
Começamos até a visualizar a possibilidade de estar nos doando em tempo integral
ao Blog, curtindo aquilo de que mais gostamos de fazer, ou seja, ficar
brincando de escritor, rabiscando aquele monte de bubiças, que, vez ou outra,
nos vem à cabeça.
De poder dispor daquele tempinho para estar lendo as notícias do Fogão, sentado
numa pracinha qualquer da cidade, preferencialmente à sombra de uma árvore. (Se
bem que este ser vegetal está se tornando cada vez mais uma raridade!) ou mesmo
de voltar a sair em rolé, de bicicleta lá pelas bandas daquela antiga
estradinha de acesso a Roça Grande, sentindo aquele cheirinho de bosta de boi,
escutando o silêncio e vendo o por do sol. (Escutar o silêncio foi ótimo!)
Retornar com aquelas peladinhas de futebol dominicais, ao lado de alguns
amigos barrigudos, que, possivelmente, não estariam também jogando há quase
trinta anos. E, se for novamente ali naquela quadra do Coronel, melhor ainda,
pois ficamos praticamente debaixo do sino da igreja, a chamar os fiéis pra
missa. (curto muito o dobrar de sinos).
Poder estar assistindo a um bom filme ou a algum programa (se estiver
reprisando o Chaves ainda melhor) e tirar uma relaxante sonequinha depois do
almoço.
Lembrei até de meu amigo das antigas jornadas, em que saíamos por alguma
estrada de terra, carregando debaixo do braço aquele famoso transglobe, que, além
de nos levar sempre a algum lugar tranquilo e engraçado, permitia também darmos
aquela tostadinha na carcaça. Isso pra não falar, é claro, de combinar
com meu parceiro blogstafoguense e cumpadi Jorge Marin, algumas novas aventuras
pelas montanhas e desafios na sinuca.
Ah! Já ia me esquecendo de reprogramar aquelas antigas visitas que fazia,
vez ou outra, ao atelier do amigo Adauto Modas pra ficar escutando aquele monte
de vinil arranhado. (Lembram dos The Mamas And The Papas?).
Poder tranquilamente tirar um dia somente pra cortar meu cabelo no salão
do Zé Bicudo ao som dos boleros, tangos, instrumentais indianos, solos de
flautas. Tudinho acompanhado de uma profunda e mística conversa descompromissada.
Pensei na possibilidade de voltar a frequentar com mais sossego o
barzinho do amigo Ailton, onde, assiduamente, sentávamos nos finais de semana
pra saborear sua inigualável porção de traíra acompanhada daquela meia dúzia de
duas cervejas. (Acreditariam que já fiquei de pileque com isso?)
Como gran finale, aquela chegadinha básica na oficina do nosso amigo e
tecladista Suveleno, pra lembrar o Pitomba e falar mal de nós mesmos.
Mas, num piscar de olhos, vi que meus devaneios se dissiparem como folhas
ao vento. Tudo muda muito rapidamente e o passado não fica inerte a nossa
espera. Alguns amigos se foram, lugares já não mais existem. Aí me
lembrei daquela outra musica do Gilberto Gil em que diz: “O MELHOR LUGAR DO
MUNDO É AQUI E AGORA” e que a grande magia é já estarmos vivendo com toda plenitude
o próximo nascer do sol.
Como dizia Rubem Alves: A VIDA NÃO PODE SER ECONOMIZADA PARA AMANHÃ,
ACONTECE SEMPRE NO PRESENTE.
Crônica e foto: Serjão Missiaggia
Ótima crônica. Parabéns!
ResponderExcluirQuem sabe exista um vídeo-tape também para a vida?
Darcio
Simplesmente sábio!
ResponderExcluirQue difícil e produtiva união de palavras e atitudes que tão bem descrevem o amigo Serjão, que felizmente não pensa em se aposentar da filosofia e poesia da vida.
MARAVILHOSA CRÔNICA, como se o tempo tivesse parado, revivi passo por passo sua narrativa de tudo que vc. viveu.Parabéns !
ResponderExcluirEdna Maria
Por um momento vivi tudo isso ... mesmo não estando la... Excelente texto...
ResponderExcluirObrigado, gente. Essa crônica relata, fielmente, a filosofia do nosso BLOG. Por mais que tenhamos vivido coisas fantásticas no passado, o melhor tempo para ser feliz é AGORA.
ResponderExcluir