sexta-feira, 1 de agosto de 2014

A ESCOLHA NOS TEMPOS DO ONÇA


Recebo do meu filho Tássio um vídeo do psicólogo americano Barry Schwartz e, de repente, percebo por quê nós, aposentados do século XXI, temos sofrido bastante nos tempos modernos, alguns chegando a pensar que, no “meu” tempo, tudo era mais divertido.

Vamos lembrar um pouco do “meu” tempo, que é aquela fase da vida em que a pessoa está mais ou menos na adolescência: quando precisávamos de leite, por exemplo, minha mãe me mandava na “congeladora” onde eu levava uma leiteirinha de alumínio e a Cândida jogava uma ou duas daquelas medidas de leite com direito a, de vez em quando, um tablete da manteiga Tupynambás embrulhada em papel amarelo, que dava pra encapar cadernos.

No “meu” tempo, quando queríamos comprar uma calça jeans, era só ir na Casa Leite, ou na Brasileira, e pedir uma calça Far-West, dar o tamanho e ralar para aquela lixa amaciar e ficar confortável, o que geralmente acontecia uns quatro a cinco meses depois.

Hoje (e este é o tema do livro do psicólogo que eu citei no início) aquelas duas comprinhas, que, na época, levavam uns cinco minutos cada uma, demandam horas e horas, na escolha da loja, na escolha do produto, na escolha da forma de pagamento e, voltando pra casa, na escolha do meio de transporte.

Vejam bem: se hoje saio pra comprar leite, primeiramente tenho que escolher entre as marcas (só no supermercado que frequento são mais de vinte!). Escolhida a marca (eu escolho, normalmente, a mais barata) tenho que escolher o tipo de leite: integral, semidesnatado, desnatado, baixa lactose, sem lactose, biofortificado, de cabra, de soja, de arroz ou de quinoa, entre outros.

Se o assunto é jeans, então é que a coisa pega mesmo! Das marcas eu não vou nem falar pois são umas trocentas mil, mas, quando chego para o caixeiro (era assim que chamávamos os atendentes de loja do “meu” tempo) e peço uma calça jeans, ele logo pergunta: mas como é que senhor quer? Straight cut? Boot Cut? Wide leg? Slim fit? Cintura descida? E o pior é que o único que eu entendi destes aí foi o “cintura descida”, mas, temendo mostrar o cofrinho, viro-me para o caixeiro e digo: I don’t know – e saio correndo.

Se é verdade que, antes, ficávamos muito limitados entre duas ou, na maioria das vezes, uma única opção, hoje padecemos pelo excesso de oferta, o que faz com que fiquemos perdidinhos da silva e, o que é pior, mesmo se comprarmos uma coisa legal, sempre ficamos com aquela sensação de que poderíamos ter escolhido algo melhor.

Por isso, toda vez que vou comprar um jeans, sempre chego na loja com a firme convicção de que levarei pra casa aquela velha calça Far-West da Alpargatas, a Lixa! Aí, fica mais fácil, pois tudo o que vier diferente é lucro.

Crônica: Jorge Marin

Foto     : disponível em http://clovisdealmeida.blogspot.com.br/2012/04/eu-usava-conga-e-calca-farwestum-predio.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL