Recebo
do meu filho Tássio um vídeo do psicólogo americano Barry Schwartz e, de
repente, percebo por quê nós, aposentados do século XXI, temos sofrido bastante
nos tempos modernos, alguns chegando a pensar que, no “meu” tempo, tudo era
mais divertido.
Vamos
lembrar um pouco do “meu” tempo, que é aquela fase da vida em que a pessoa está
mais ou menos na adolescência: quando precisávamos de leite, por exemplo, minha
mãe me mandava na “congeladora” onde eu levava uma leiteirinha de alumínio e a
Cândida jogava uma ou duas daquelas medidas de leite com direito a, de vez em
quando, um tablete da manteiga Tupynambás embrulhada em papel amarelo, que dava
pra encapar cadernos.
No “meu”
tempo, quando queríamos comprar uma calça jeans, era só ir na Casa Leite, ou na
Brasileira, e pedir uma calça Far-West, dar o tamanho e ralar para aquela lixa
amaciar e ficar confortável, o que geralmente acontecia uns quatro a cinco
meses depois.
Hoje (e
este é o tema do livro do psicólogo que eu citei no início) aquelas duas
comprinhas, que, na época, levavam uns cinco minutos cada uma, demandam horas e
horas, na escolha da loja, na escolha do produto, na escolha da forma de
pagamento e, voltando pra casa, na escolha do meio de transporte.
Vejam
bem: se hoje saio pra comprar leite, primeiramente tenho que escolher entre as
marcas (só no supermercado que frequento são mais de vinte!). Escolhida a marca
(eu escolho, normalmente, a mais barata) tenho que escolher o tipo de leite:
integral, semidesnatado, desnatado, baixa lactose, sem lactose, biofortificado,
de cabra, de soja, de arroz ou de quinoa, entre outros.
Se o
assunto é jeans, então é que a coisa pega mesmo! Das marcas eu não vou nem
falar pois são umas trocentas mil, mas, quando chego para o caixeiro (era assim
que chamávamos os atendentes de loja do “meu” tempo) e peço uma calça jeans,
ele logo pergunta: mas como é que senhor quer? Straight cut? Boot Cut? Wide leg? Slim fit? Cintura descida? E o pior é que o
único que eu entendi destes aí foi o “cintura descida”, mas, temendo mostrar o
cofrinho, viro-me para o caixeiro e digo: I don’t know – e saio correndo.
Se é
verdade que, antes, ficávamos muito limitados entre duas ou, na maioria das
vezes, uma única opção, hoje padecemos pelo excesso de oferta, o que faz com
que fiquemos perdidinhos da silva e, o que é pior, mesmo se comprarmos uma
coisa legal, sempre ficamos com aquela sensação de que poderíamos ter escolhido
algo melhor.
Por
isso, toda vez que vou comprar um jeans, sempre chego na loja com a firme
convicção de que levarei pra casa aquela velha calça Far-West da Alpargatas, a
Lixa! Aí, fica mais fácil, pois tudo o que vier diferente é lucro.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : disponível em http://clovisdealmeida.blogspot.com.br/2012/04/eu-usava-conga-e-calca-farwestum-predio.html
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