Quando
eu era mininim em São João Nepomuceno, minha mãe às vezes me alertava para ter
cuidado com as pessoas ignorantes. Eu, durante muitos anos, não entendi bem
aquele aviso “cuidado, meu filho, quando for tratar com o fulano de tal, porque
ele é uma pessoa muito ignorante!”.
Ignorância,
para mim, até há pouco tempo, tinha a ver com falta de cultura, ou falta de
conhecimento sobre um determinado assunto. Mas, de repente, me dei conta de que
tal definição era um tanto prepotente, pois, se assim fosse, estaríamos
autenticando o comportamento dos portugueses que, ao encontrar aquele bando de
índios “ignorantes”, cometeram todo o tipo de violência em nome de uma suposta
aculturação que seria o mesmo que dizer: vamos tornar esses sujeitos menos
ignorantes!
Aí
percebi (a gente sempre percebe mais tarde) que a minha mãe é que estava certa
quanto à ignorância, pois ignorância não é falta de cultura ou falta de
conhecimento, mas a ignorância é, essencialmente, uma percepção errônea da
realidade, é ver as coisas, não como realmente são, mas sim da forma
pela qual entendemos que elas têm que ser.
Esta
percepção veio de um texto budista que, ao identificar os três venenos da mente
humana (os outros dois são: o apego e o ódio), personifica a ignorância com a
imagem de um porco, na verdade, um javali ou porco do mato que, olhando sempre
para baixo, ignora tudo o que há em volta e, à exemplo das pessoas que enxergam
apenas o próprio umbigo, acha que tudo se resume à sua estreita percepção da
realidade.
O pior
é que, além de perceber o que é que a mãe queria dizer quando pedia para ter cuidado
com as pessoas ignorantes, saquei que, na maioria das vezes, aquelas pessoas
ignorantes muitas vezes somos NÓS MESMOS! E não digo isso numa crise de
religiosidade ou num momento de iluminação. Normalmente, parecemos
equilibrados, saudáveis e ponderados, mas, basta aparecer um problema pessoal
na nossa vida, uma desilusão amorosa, perda de emprego, não aprovação num
concurso, que, IMEDIATAMENTE, achamos que o mundo está contra nós, e, esquecendo-nos
de tudo e de todos, passamos a pensar, exclusivamente, naquele fato, ou naquela
coisa que nos falta.
Pobres,
sempre os terei entre vós, dizia Jesus, e acrescentem aí na lista: também
dores, acidentes, doenças, mortes e misérias. Mas isto tudo não é nenhum tipo
de castigo ou destino. É que nascemos num planeta com força de gravidade (que
nos faz cair) e cheio de degraus, pontas, pedras e desníveis. Então, meus
amigos, se ficarmos de cabeça baixa, só pensando naquelas coisas chatas que
NORMALMENTE acontecem com os seres humanos, a Ignorância vem e... crau, nos
devora.
Porco
não faz rapel, mas Ser Humano voa. E brilha!
Crônica:
Jorge Marin
Foto : frame do filme The Wall
Alguém que tem a capacidade de perceber e perdoar a própria ignorância, tem a possibilidade de fazer o mesmo com a(s) ignorância(s) alheia(s).
ResponderExcluirEntretanto, para aquele(s) que ignora(m) a imensidão das possibilidades da existência, a vida tende a se tornar uma rotina que apresenta pequenas conquistas e grandes perdas, pois nossas necessidades tendem a ter a dimensão das nossas vaidades.
E o pão nosso de cada dia nos daí hoje, até que a morte nos separe...
É necessário simplificar e observar para a jornada aproveitar!