sexta-feira, 8 de agosto de 2014

A IGNORÂNCIA NO ESPELHO


Quando eu era mininim em São João Nepomuceno, minha mãe às vezes me alertava para ter cuidado com as pessoas ignorantes. Eu, durante muitos anos, não entendi bem aquele aviso “cuidado, meu filho, quando for tratar com o fulano de tal, porque ele é uma pessoa muito ignorante!”.

Ignorância, para mim, até há pouco tempo, tinha a ver com falta de cultura, ou falta de conhecimento sobre um determinado assunto. Mas, de repente, me dei conta de que tal definição era um tanto prepotente, pois, se assim fosse, estaríamos autenticando o comportamento dos portugueses que, ao encontrar aquele bando de índios “ignorantes”, cometeram todo o tipo de violência em nome de uma suposta aculturação que seria o mesmo que dizer: vamos tornar esses sujeitos menos ignorantes!

Aí percebi (a gente sempre percebe mais tarde) que a minha mãe é que estava certa quanto à ignorância, pois ignorância não é falta de cultura ou falta de conhecimento, mas a ignorância é, essencialmente, uma percepção errônea da realidade, é ver as coisas, não como realmente são, mas sim da forma pela qual entendemos que elas têm que ser.

Esta percepção veio de um texto budista que, ao identificar os três venenos da mente humana (os outros dois são: o apego e o ódio), personifica a ignorância com a imagem de um porco, na verdade, um javali ou porco do mato que, olhando sempre para baixo, ignora tudo o que há em volta e, à exemplo das pessoas que enxergam apenas o próprio umbigo, acha que tudo se resume à sua estreita percepção da realidade.

O pior é que, além de perceber o que é que a mãe queria dizer quando pedia para ter cuidado com as pessoas ignorantes, saquei que, na maioria das vezes, aquelas pessoas ignorantes muitas vezes somos NÓS MESMOS! E não digo isso numa crise de religiosidade ou num momento de iluminação. Normalmente, parecemos equilibrados, saudáveis e ponderados, mas, basta aparecer um problema pessoal na nossa vida, uma desilusão amorosa, perda de emprego, não aprovação num concurso, que, IMEDIATAMENTE, achamos que o mundo está contra nós, e, esquecendo-nos de tudo e de todos, passamos a pensar, exclusivamente, naquele fato, ou naquela coisa que nos falta.

Pobres, sempre os terei entre vós, dizia Jesus, e acrescentem aí na lista: também dores, acidentes, doenças, mortes e misérias. Mas isto tudo não é nenhum tipo de castigo ou destino. É que nascemos num planeta com força de gravidade (que nos faz cair) e cheio de degraus, pontas, pedras e desníveis. Então, meus amigos, se ficarmos de cabeça baixa, só pensando naquelas coisas chatas que NORMALMENTE acontecem com os seres humanos, a Ignorância vem e... crau, nos devora.

Porco não faz rapel, mas Ser Humano voa. E brilha!  

Crônica: Jorge Marin
Foto     : frame do filme The Wall

Um comentário:

  1. Alguém que tem a capacidade de perceber e perdoar a própria ignorância, tem a possibilidade de fazer o mesmo com a(s) ignorância(s) alheia(s).
    Entretanto, para aquele(s) que ignora(m) a imensidão das possibilidades da existência, a vida tende a se tornar uma rotina que apresenta pequenas conquistas e grandes perdas, pois nossas necessidades tendem a ter a dimensão das nossas vaidades.
    E o pão nosso de cada dia nos daí hoje, até que a morte nos separe...

    É necessário simplificar e observar para a jornada aproveitar!

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