Ao deparar com essa
preciosidade de foto no face de nosso querido amigo e irmão Pitombenses
Suveleno, não tive como me conter e deixar de lembrar e narrar mais uma vez este
fato histórico que aconteceu por volta de 1973. Foi exatamente esse lugar o
escolhido para teste de nosso primeiro protótipo de uma inocente bombinha, ou
seja, na antiga oficina Transtec que, na época, funcionava bem ao lado da
entrada de sua casa, beirando o córrego.
Essa primeira versão
foi projetada pra ser uma bomba de médio efeito caseiro, detonação partida
elétrica 110volts, na característica solo. Sua potência seria de três
MEGAMELODIAS, que na escala Pitombense, corresponderia a três MEGATONS.
Combinamos na ocasião
que a detonação seria num domingo qualquer, precisamente às 18h03min. Pra
variar, no dia do primeiro teste não houve quórum, sendo que quase todos
sumiram naquele dia, sobrando a bananosa apenas para Silvio Heleno, Renatinho e
eu, na missão científica de ver e sentir o que a danada da XB3/4 VERSÃO 01 SOLO
seria capaz.
Um de meus irmãos, que
vinha acompanhando indiscretamente essa nossa loucura, um tanto ressabiado e não
acreditando muito em nossa capacidade, ficava a dizer que, de bombas ele
entendia e que, juntamente com um de nossos primos, havia feito muitas na
adolescência.
Naquele dia fatídico,
enquanto terminávamos os últimos detalhes da construção e já nos preparávamos
para a contagem regressiva, quase aconteceu uma tragédia. Suveleno, para meu espanto,
após esticar o fio de detonação até a escada da oficina, colocou aquela bendita
coisa bem na porta de entrada (vide foto).
Nessa hora, tenso e
assustado, perguntei:
- Suveleno! Eu num entendo
muito bem de bombas, mas você não acha que esta coisa, posicionada aí,
principalmente, de portas abertas, não dará retorno? Ou seja, não estará muito
perto da gente?!
Suveleno, simplesmente
responde:
- Tudo tranqüilo,
Serjão! É só fazer a contagem
regressiva, tapar os ouvidos, apertar o botão e entregar para Deus!
Foi aí que, sentindo
que ele, na empolgação, estava meio cego para perigo, procurei tomar frente à
situação. Pedi que colocasse o ARTEFATO para o lado de fora, fechasse um pouco mais
a porta, e deixasse pelo menos uma janela aberta. Seguro morreu de velho e para
nossa sorte, assim foi feito.
Começamos então a
escutar a contagem regressiva, que já previamente gravada, seguia sentido 20
para zero. Quando apertamos o botão, a única coisa de que me lembro, é de ter
ficado completamente surdo, meio zonzo e cego. Envoltos numa fumaceira danada,
só sentíamos que começava a chegar gente de tudo enquanto é lado. Alguém gritou
lá fora: Tão pondo fogo casa do Anjinho!
Acredite quem quiser,
mas a pressão do impacto foi tão grande, que a porta da oficina chegou a arriar
pros lados após se partir em duas, ao passo que, no momento da explosão, surgia
na parede uma rachadura de quase 2 metros de comprimento e pedaços do telhado
subiam rumo ignorado, despencava alto-falante pra tudo enquanto é lado.
Nesse momento, passageiros das 18h00, que estavam saindo da
antiga rodoviária com destino a Juiz de Fora, segundo informações, saltaram do
ônibus assustados e, enquanto alguns corriam desorientados sem saber o que
estava acontecendo, outros ficavam a olhar abobados para o lado da oficina. Enquanto
isso, em meio à confusão e envoltos naquela fumaceira, fomos saindo um a um lá
de dentro, tossindo uma enormidade e como se nada tivesse acontecido.
Já do lado de fora,
aquele meu irmão que dizia entender de bombas encontrava-se extremamente
apavorado. Aguardava-nos ansiosamente, para batermos o quanto antes em
retirada, pois havia comentários de que algumas pessoas já teriam dado queixa
na delegacia.
E se eu disser que essa
primeira versão, se comparado às outras duas, não teria passado de um inocente
estalinho, acreditariam?
Enfim, por via das dúvidas
“Façam o que eu digo, mas não façam o que eu faço”. Palavra de Serjão, num
tempo em que “ficar bombadão” era quase destruir a Praça Floriano Peixoto.
Crônica: Serjão
Missiaggia
Foto : Facebook do Sílvio Heleno Picorone