sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

ESPERAR UM POUCO MENOS AMAR UM POUCO MAIS


Coloquei o aforismo acima, entreouvido numa aula de Filosofia, em minha linha do tempo do Facebook e, mais tarde, fiquei pensando exatamente o que será que o autor, o filósofo existencialista francês Comte-Sponville quis dizer.

Desde o grupo escolar, instituição hoje conhecida como ensino fundamental, somos ensinados, treinados e até mesmo coagidos a cultivar a esperança. As coisas não vão bem? (e já não iam naquele tempo). Então o negócio é ter esperança! Vocês são o futuro do Brasil!

E deu no que deu: fizemos essa lambança toda e ficamos o tempo inteiro falando que “no meu tempo é que era bom”. E novamente ligamos a seta verde da esperança e dizemos que os nossos filhos e netos são a nossa maior esperança.

E fica parecendo que a esperança vai acabar com o ódio, com a impunidade, com a corrupção, tirar o Botafogo da segunda divisão, e outras causas impossíveis. A verdade é que fomos educados para não mergulhar na felicidade quando ela aparece. Isso é coisa de meninos levados e meninas assanhadas, que só pensam em satisfazer os seus instintos, diziam.

Assim, se passava um prato de beijinho de coco, ou mais tarde, uma promessa de beijinho na boca, orgulhávamos em deixar aquilo passar para ser usufruído depois, depois dos dentes permanentes, da formatura, do vestibular, ou, possivelmente, após o Juízo Final, já que éramos tidos como “os sem juízo”.

Dessa forma, de bobeira em bobeira, de vacilo em vacilo, acostumamo-nos a ter esperança. Lá NO FUTURO, no qual a gente nunca chegava, poderíamos fazer tudo, se é que alguém pode algum dia fazer tudo.

Mas, o que NINGUÉM nos contou, e que a gente descobre depois que a esperança se transforma em arrependimento, é que a ESPERANÇA, essa coisa bonitinha que a TV Globo cola no peito das crianças anualmente, NÃO traz felicidade. O quê? Esperança não traz felicidade? Não. A esperança é uma coisa que pode ser que aconteça num possível futuro.

Então, na verdade, o que é que a esperança traz? E só agorinha mesmo descobri: ANGÚSTIA. E isso porque, como a esperança pode ou não acontecer, ela traz junto com a ela o MEDO de que aquilo com o que sonhamos não aconteça.

Portanto, minha gente, entre o beijo do anão Dunga, ali na beiradinha da cama, e o do Príncipe Encantado que pode ou não chegar, prefiram o beijo do anão (para aquelas pessoas que gostam de príncipes). Para os que gostam de princesas, saibam que, melhor do que esperar A bela adormecida, melhor ir praticando o beijo com as não tão belas acordadas.

Se a tristeza vier, chorem. Depois esqueçam, ou não. Mas, se vier a felicidade, então mergulhem. E, principalmente, fujam da tal Esperança, porque, se é verdade que ela é a última que morre, significa que vocês vão morrer primeiro.

Crônica: Jorge Marin
Foto     : Belles Angel, disponível em http://bellesangel.deviantart.com/gallery/?catpath=%2F&q=snow+white+dopey  

2 comentários:

  1. Nos idos 1985, eu tinha um amigo que não perdia uma oportunidade de dizer que "A esperança é a última que morre, mas é a primeira que adoece!".
    Somente agora, após a leitura desta crônica, entendi que ele era mais sábio do que poderia imaginar.
    Dúvida atroz: é a esperança que adoece ou a esperança é que adoece a gente?

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    1. Na verdade, Sylvio, a esperança é definida na ética de Spinoza como "uma alegria inconstante nascida da imagem de uma coisa futura ou pretérita, de cujo sucesso duvidamos". Ou seja: é uma alegria? Sim. Porém, ao mesmo tempo em que temos a esperança, temos, de forma análoga e complementar, o medo. Então, respondendo à sua pergunta, poderíamos dizer que a esperança nos adoece, pois a esperança é uma das pontas do sintoma.

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