Coloquei
o aforismo acima, entreouvido numa aula de Filosofia, em minha linha do tempo do
Facebook e, mais tarde, fiquei pensando exatamente o que será que o autor, o
filósofo existencialista francês Comte-Sponville quis dizer.
Desde o
grupo escolar, instituição hoje conhecida como ensino fundamental, somos
ensinados, treinados e até mesmo coagidos a cultivar a esperança. As coisas não
vão bem? (e já não iam naquele tempo). Então o negócio é ter esperança! Vocês
são o futuro do Brasil!
E deu no
que deu: fizemos essa lambança toda e ficamos o tempo inteiro falando que “no
meu tempo é que era bom”. E novamente ligamos a seta verde da esperança e
dizemos que os nossos filhos e netos são a nossa maior esperança.
E fica
parecendo que a esperança vai acabar com o ódio, com a impunidade, com a
corrupção, tirar o Botafogo da segunda divisão, e outras causas impossíveis. A
verdade é que fomos educados para não mergulhar na felicidade quando ela
aparece. Isso é coisa de meninos levados e meninas assanhadas, que só pensam em
satisfazer os seus instintos, diziam.
Assim, se
passava um prato de beijinho de coco, ou mais tarde, uma promessa de beijinho
na boca, orgulhávamos em deixar aquilo passar para ser usufruído depois, depois
dos dentes permanentes, da formatura, do vestibular, ou, possivelmente, após o
Juízo Final, já que éramos tidos como “os sem juízo”.
Dessa
forma, de bobeira em bobeira, de vacilo em vacilo, acostumamo-nos a ter
esperança. Lá NO FUTURO, no qual a gente nunca chegava, poderíamos fazer tudo,
se é que alguém pode algum dia fazer tudo.
Mas, o
que NINGUÉM nos contou, e que a gente descobre depois que a esperança se
transforma em arrependimento, é que a ESPERANÇA, essa coisa bonitinha que a TV
Globo cola no peito das crianças anualmente, NÃO traz felicidade. O quê?
Esperança não traz felicidade? Não. A esperança é uma coisa que pode ser que
aconteça num possível futuro.
Então, na
verdade, o que é que a esperança traz? E só agorinha mesmo descobri: ANGÚSTIA.
E isso porque, como a esperança pode ou não acontecer, ela traz junto com a ela
o MEDO de que aquilo com o que sonhamos não aconteça.
Portanto,
minha gente, entre o beijo do anão Dunga, ali na beiradinha da cama, e o do
Príncipe Encantado que pode ou não chegar, prefiram o beijo do anão (para aquelas
pessoas que gostam de príncipes). Para os que gostam de princesas, saibam que,
melhor do que esperar A bela adormecida, melhor ir praticando o beijo com as
não tão belas acordadas.
Se a
tristeza vier, chorem. Depois esqueçam, ou não. Mas, se vier a felicidade,
então mergulhem. E, principalmente, fujam da tal Esperança, porque, se é
verdade que ela é a última que morre, significa que vocês vão morrer primeiro.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : Belles Angel, disponível em http://bellesangel.deviantart.com/gallery/?catpath=%2F&q=snow+white+dopey
Nos idos 1985, eu tinha um amigo que não perdia uma oportunidade de dizer que "A esperança é a última que morre, mas é a primeira que adoece!".
ResponderExcluirSomente agora, após a leitura desta crônica, entendi que ele era mais sábio do que poderia imaginar.
Dúvida atroz: é a esperança que adoece ou a esperança é que adoece a gente?
Na verdade, Sylvio, a esperança é definida na ética de Spinoza como "uma alegria inconstante nascida da imagem de uma coisa futura ou pretérita, de cujo sucesso duvidamos". Ou seja: é uma alegria? Sim. Porém, ao mesmo tempo em que temos a esperança, temos, de forma análoga e complementar, o medo. Então, respondendo à sua pergunta, poderíamos dizer que a esperança nos adoece, pois a esperança é uma das pontas do sintoma.
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