Fui
assistir ao filme “Gravidade” na semana passada.
Tenho
que admitir que a história, dirigida pelo mexicano Alfonso Cuarón (que, entre
outros trabalhos, dirigiu o melhor Harry Potter da série), é uma grata
surpresa. E até mesmo uma aula. De Física, ou, se preferirem, de Filosofia.
A Dra.
Ryan Stone (bem interpretada por Sandra Bullock) está participando de sua
primeira missão espacial em companhia do veterano astronauta Matt Kowalsky
(George Clooney bem parecido com ele próprio) que está se aposentando naquela
missão. Tudo vai bem, controlado pela
NASA em Houston (ouvimos sempre a voz do fantástico Ed Harris) até que... a
destruição de um satélite russo gera uma chuva de fragmentos... mortais num
ambiente sem gravidade.
Como
nossos heróis (ainda existe isso?) estão trabalhando no Telescópio Hubble, têm
que voltar às pressas para a sua nave mas, para sua perplexidade, descobrem que
esta foi destruída e que eles estão completamente soltos, não conectados a
nada, a não ser um ao outro.
Saí do
cinema meio incomodado. É que sempre
pensei que minha vida tivesse um controle de Houston que me desse orientações
seguras e me protegesse dos perigos que acontecem a todo minuto. Mas isso não é verdade e, o que é pior, a
vida aqui embaixo ainda pesa!
Aí, à
maneira de Stone (que, mesmo com esse nome de pedra, não cai) e Kowalski,
deixei-me flutuar e pensei que o voo de ambos, sem gravidade, sem barulho e
totalmente livres, parece ser o grande sonho de consumo das pessoas hoje em
dia. Em frente aos seus monitores, o que
todos querem é trazer o impossível para o campo do real. Ou seja, fazer tudo o que se quer sem nenhum
peso, sem nenhum controle externo.
A volta
ao espaço do filme nos desperta da ilusão.
Com estilhaços e até mesmo uma gota de lágrima caindo, impossivelmente,
em nossa direção através dos efeitos de 3D, percebemos que, se não há
gravidade, também não há resistência. Se
não há controle, não há também quem nos salve.
Kowalski,
meu quase colega aposentado, tenta relaxar mas, como ensinava Drummond, tinha
uma Stone no meio do caminho, e o conselho do astronauta veterano para uma
jovem viciada em dirigir é:
- You have to learn to let go. Que, numa tradução que tentasse ser fiel à
história do filme poderia ser: você tem que aprender a se soltar, ou deixar pra
lá, ou permitir-se.
Copiei,
Kowalski!
Crônica:
Jorge Marin
Foto: Frame
do filme “Gravidade”, disponível em http://filmesegames.com.br/wp-content/uploads/2013/10/g3.jpg
Amigo Jorge,
ResponderExcluirNesta minha fase atual de ter que ficar deitado com pé para cima (não por stone no meio do caminho, mas por um degrau), estou trabalhando para projeto de arte, e tentando "a aprender a me soltar (mesmo na cama), ou a deixar para lá, ou... permitir-me..."
Copiei, Jorge!... Excelente crônica e meu abraço,
Brandão
www.cesarbrandao.com
Grande Brandão,
ExcluirSei que o seu caso teve gravidade ANTES (quando vc caiu), mas agora vai ser até uma oportunidade para se dedicar ao seu trabalho.
Como diz o meu filho Artur, frase de outro herói do espaço: "Ao infinito e além!"