sexta-feira, 22 de novembro de 2013

DONAS DE CASA... ESSAS VAGABUNDAS!


No crediário, a pergunta vem inevitável:
- Profissão?
A mulher se encolhe na cadeira, como se flagrado em grave delito e, num balbucio imperceptível, responde:
- Dona de casa...
A moça a encara de alto a baixo e comenta com a gerente:
- Ela não trabalha.
Não é preciso nem dizer que, a essa altura, a mulher entrevistada já está prestes a se jogar pela escada abaixo.

Ali do lado, fico pensando, com a minha experiência de aposentado: não trabalha?  Mas, como assim “não trabalha”?

Por ter tempo de ficar em casa, consigo ver as tarefas domésticas sendo realizadas.  Às vezes, até a me atrevo a fazer (mal) alguma coisa para ajudar, mas fico escandalizado com o volume de trabalho: quilos de roupas, sujeira na cozinha, na pia, no banheiro, nos móveis, na área, copos e mais copos espalhados, lixo nos cestos, roupas para passar, comida para fazer e, servida, para limpar os restos, pratos, talheres e panelas.  É um caos!  No entanto, a mulher que não pode, ou não quer, sair para passar, por exemplo, oito horas sentada numa sala sem janelas em troca de um salário mínimo, “não trabalha”.

Longe de qualquer crítica moral ou sociológica, que saudades tenho da minha madrinha-vó que amava ficar à beira do fogão de lenha inventando receitas, fazendo os quitutes, coando um (delicioso) café de hora em hora.  Depois pegava aqueles lençóis branquíssimos e levava para quarar ao vento.

Sei que muita gente vai torcer o nariz e dizer que, naquele tempo a mulher era explorada e era uma escrava do marido e dos filhos.  Mas, as moças naquele tempo se preparavam para essa carreira: dona de casa.  Era, e É, um dos trabalhos mais dignos do universo.

Acho até justo que esse trabalho de cuidador do lar não seja, necessariamente, executado por uma mulher, mas, vamos combinar, um lar que tenha uma pessoa para cuidar da casa, da organização doméstica, do tipo: guarda-roupa organizado, roupas de cama cheirosas, é um céu na terra!

Concordo também que manter esse lar funcionando é tarefa de todos, mas a minha questão é: por que afirmar que uma pessoa que dedica a maior parte do seu tempo organizando uma casa NÃO trabalha? 

Ah, dirão, mas estamos falando da mulher (geralmente é a mulher) que não trabalha FORA!  Aí eu quero lembrar que o grande must dos profissionais liberais do nosso adorável mundo globalizado e interconectado é, justamente, trabalhar on-line, EM CASA.  Será que, pelo fato de não trabalharem para a própria família, eles trabalham FORA mesmo ficando dentro de casa?

Crônica: Jorge Marin

3 comentários:

  1. Me lembrei da expressão "Do lar"...
    Atualmente penso que o complemento mais exato para essa expressão seria "Escrava(o) do lar" porque para manter uma residência razoavelmente organizada e limpa é necessário um conjunto interminável e repetitivo de tarefas, muitas vezes cansativas e chatas.

    "Ser do lar" é trabalhar sem férias e salário (muito menos 13º salário), sendo este o conceito de trabalho escravo.
    Se não for escravidão com certeza é servidão, servindo aos interesses e necessidades dos moradores que usufruem de benefícios tão básicos quanto indispensáveis como comida, roupa limpa e um ambiente higiênico e organizado.

    São necessários constância e atenção com prioridades e horários para que um lar funcione, portanto é justo reconhecer, valorizar e ajudar quem mantém confortável o lugar onde moramos.

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  2. Nossa! Que comentário maravilhoso!
    Casa comigo?

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    1. Obrigado por comentar. E pelo elogio. Mas a proposta não posso aceitar, pois a dona da minha casa é também a dona do meu coração.

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