No
crediário, a pergunta vem inevitável:
-
Profissão?
A
mulher se encolhe na cadeira, como se flagrado em grave delito e, num balbucio
imperceptível, responde:
- Dona
de casa...
A moça
a encara de alto a baixo e comenta com a gerente:
- Ela
não trabalha.
Não é
preciso nem dizer que, a essa altura, a mulher entrevistada já está prestes a
se jogar pela escada abaixo.
Ali do
lado, fico pensando, com a minha experiência de aposentado: não trabalha? Mas, como assim “não trabalha”?
Por ter
tempo de ficar em casa, consigo ver as tarefas domésticas sendo
realizadas. Às vezes, até a me atrevo a
fazer (mal) alguma coisa para ajudar, mas fico escandalizado com o volume de
trabalho: quilos de roupas, sujeira na cozinha, na pia, no banheiro, nos
móveis, na área, copos e mais copos espalhados, lixo nos cestos, roupas para
passar, comida para fazer e, servida, para limpar os restos, pratos, talheres e
panelas. É um caos! No entanto, a mulher que não pode, ou não
quer, sair para passar, por exemplo, oito horas sentada numa sala sem janelas
em troca de um salário mínimo, “não trabalha”.
Longe
de qualquer crítica moral ou sociológica, que saudades tenho da minha
madrinha-vó que amava ficar à beira do fogão de lenha inventando receitas,
fazendo os quitutes, coando um (delicioso) café de hora em hora. Depois pegava aqueles lençóis branquíssimos e
levava para quarar ao vento.
Sei que
muita gente vai torcer o nariz e dizer que, naquele tempo a mulher era
explorada e era uma escrava do marido e dos filhos. Mas, as moças naquele tempo se preparavam
para essa carreira: dona de casa. Era, e
É, um dos trabalhos mais dignos do universo.
Acho até
justo que esse trabalho de cuidador do lar não seja, necessariamente, executado
por uma mulher, mas, vamos combinar, um lar que tenha uma pessoa para cuidar da
casa, da organização doméstica, do tipo: guarda-roupa organizado, roupas de
cama cheirosas, é um céu na terra!
Concordo
também que manter esse lar funcionando é tarefa de todos, mas a minha questão
é: por que afirmar que uma pessoa que dedica a maior parte do seu tempo organizando
uma casa NÃO trabalha?
Ah,
dirão, mas estamos falando da mulher (geralmente é a mulher) que não trabalha
FORA! Aí eu quero lembrar que o grande
must dos profissionais liberais do nosso adorável mundo globalizado e
interconectado é, justamente, trabalhar on-line, EM CASA. Será que, pelo fato de não trabalharem para a
própria família, eles trabalham FORA mesmo ficando dentro de casa?
Crônica:
Jorge Marin
Me lembrei da expressão "Do lar"...
ResponderExcluirAtualmente penso que o complemento mais exato para essa expressão seria "Escrava(o) do lar" porque para manter uma residência razoavelmente organizada e limpa é necessário um conjunto interminável e repetitivo de tarefas, muitas vezes cansativas e chatas.
"Ser do lar" é trabalhar sem férias e salário (muito menos 13º salário), sendo este o conceito de trabalho escravo.
Se não for escravidão com certeza é servidão, servindo aos interesses e necessidades dos moradores que usufruem de benefícios tão básicos quanto indispensáveis como comida, roupa limpa e um ambiente higiênico e organizado.
São necessários constância e atenção com prioridades e horários para que um lar funcione, portanto é justo reconhecer, valorizar e ajudar quem mantém confortável o lugar onde moramos.
Nossa! Que comentário maravilhoso!
ResponderExcluirCasa comigo?
Obrigado por comentar. E pelo elogio. Mas a proposta não posso aceitar, pois a dona da minha casa é também a dona do meu coração.
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