quarta-feira, 20 de novembro de 2013

TRADIÇÃO TAMBÉM É CULTURA


Na semana passada, enquanto andava distraidamente pela rua, um motorista  parou seu caminhão ao meu lado e perguntou se estaria muito longe de certa farmácia.  Mais que depressa, talvez na ânsia de querer livrá-lo de um engarrafamento que havia causado ao parar naquele local, fui logo tascando: “É ali na RUA DA PADARIA DO DEBRANDO”. Padaria de quem? – retrucou, de imediato, o seu ajudante que se encontrava em cima da carroceria.

Somente aí fui atinar que o veiculo nem era de São João. Consertei o erro e, após indicar o local de maneira mais racional, fiquei pensando nessa coisa tão interiorana que é a mania de ficar apelidando lugares. Por sinal, fato este que vai atravessando décadas e décadas e que não sai de nosso inconsciente.

Meu pai mesmo já falava muito na RUA DOS VELHOS e MORRO DA MANGUEIRA, mas confesso agora não me lembrar de onde seriam.
No intuito de escutar uma serenata, por muitas vezes, minha namorada, que residia na RUA DO BURACO, ia dormir na casa de uma amiga que morava na RUA DO DESCOBERTO, próxima à RAMPA.

Gostávamos muito também de sair pela noite com violões pra tocar numa casa ali na RUA DO SAPO e outra lá pelas bandas do JUJUBA. Era bastante desconfortável ter que encarar, já no final da madrugada, o BECO DO RANA e a RUA ATRÁS DA FÁBRICA, ficando, no final, uma casa localizada no MORRO DO MACHADINHO e outra no MORRO DO GINÁSIO sempre esquecidas devido ao cansaço.

Aliás, é nome de MORRO que não acaba mais, ou seja: MORRO do Hospital, MORRO da Matriz, MORRO São José, e por aí vai.  Naquela época, tínhamos o costume de ir à roça passando pelo BECO DO GÁS seguindo pela RUA DA MINA para, após descer o MORRO DO MARIMBONDO, chegar até a fazenda. Certa vez optamos em passar pelo PONTILHÃO.

Existiam os famosos passeios noturnos entre amigos chamados de quarteirão, que, geralmente, começavam na RUA DO SARMENTO e se prolongavam pela RUA DA PADARIA DO DEBRANDO, passando pela RUA DOS PATINHOS, RUA DO GRUPO VELHO até a Sinuca do Cida, quando não até o MURINHO DO ADIL.  Falando em Padaria, havia pessoas que preferiam o pão da PADARIA DO DEBRANDO do que o das PADARIAS DO MANEZINHO, do POPÓ e do CRUZ e vice-versa.

Na infância, tive um coleguinha que morava na RUA DO CHIQUEIRO e outro no CURRAL DO SALU, coincidentemente próximas à RUA NOVA. Já na juventude, passei inesquecíveis momentos numa casa ali na RUA DO TOTÓ, sendo que, naquele lugar, veio a nascer posteriormente o Pitomba.

Pra terminar, vejo tudo isso como forma de expressão cultural de um povo. Quem sabe, em homenagem aos nossos antepassados, não mantivéssemos viva essa TRADIÇÃO, tombando de alguma forma esses nomes ou simplesmente, incorporando em algumas placas da cidade, o NOME da rua juntamente com seu APELIDO?  Pesquisar seus cognomes também seria algo bastante interessante. Por exemplo, alguém saberia informar qual teria sido a origem do apelido BECO DAS FLORES e seu nome verdadeiro?

Crônica: Serjão Missiaggia

7 comentários:

  1. Vi falar que existe a rua do vai e vem. Alguem sabe onde é?

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  2. Ótima a ideia de explicar a origem dos nomes das ruas e seus apelidos populares! Valoriza e perpetua a essência da cidade.

    As ruas do centro histórico de São João del-Rei têm duas placas, uma com o nome atual e outra com o nome de origem.
    Em Nepomuceno, dentro do possível, poderiam ser colocadas pequenas placas abaixo dos nomes atuais explicando os antigos nomes e apelidos.

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    1. Obrigado, Sylvio, taí uma boa ideia, pois o nome carinhoso, o apelido, funciona como nos apelidos pessoais, traz uma carga emocional e afetiva.

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  3. Gostei da ideia do Do Sylvio. Muito boa mesmo.A cidade seria conhecida e comentada por muitos .
    Quanto à crônica... que texto bom de se ler... Vibrei! Continuo falando que Serjão deveria escrever um livro: " Crônicas Serjianenses" ou Serjoanenses ou mesmo Serjãoanenses.
    Fica aí a idéia

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    1. Creio que Crônicas Serjãoanenses seria mais apropriado. Fica aí a ideia para o parceiro.

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  4. Qd casei tinha uma casa no beco das flores e não sei o sentido do nome pq não tinha muita flor. Ou eu esqueci pois até meu casamento já esqueci a anos. Agora voltando a padaria do Delbrandro, realmente as preferências eram e continua sendo. Agora a melhor comida da cidade é do meu irmão Bode! Kkk. Cidinha minha irmã, só compra pão na padaria do Popó. Vou pesquisar mais, ta bom demais!!!

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    1. Obrigado, Graça! Se você quiser relembrar o Beco das Flores, dê uma olhadinha na nossa matéria publicada em http://grupopitomba.blogspot.com.br/2014/04/casos-casas-misterio.html .

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BRIGADU, GENTE!

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VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL