Aguardando
a esposa no salão de beleza, fico avaliando o abismo entre o universo feminino
e masculino. Uma menina chega radiante
como se tivesse conquistado o campeonato mundial de qualquer coisa, comunicando
para as mulheres do salão (não sei o que é que tô fazendo aqui) que conseguiu
comprar um par de botas para ir na festa country. Diz que conseguiu um desconto ótimo (foi
apenas quatrocentos reais, disse) e vai comprar mais uma coisa de couro (não
escuto muito bem porque estou ouvindo uma música no celular) e fazer mais uma
hidratação e uma depilação e unha e um monte de outras coisas pra ir na festa
country. Esse “ir na festa country” aí
significa somente uma coisa: homem. Elas
vão à caça!
As
outras moças também estão alvoroçadas: escova progressiva, acessórios, roupas
novas, etc etc. Para dar uma provocada,
pergunto:
-
Gente, vocês estão fazendo este aparato todo pra ir naquele local empoeirado,
barulhento, sujo, frio e caro. Vale a
pena?
Uma
delas, mais sincera, reconhece:
- O
senhor é que não sabe, moço! Mas arrumar
homem, hoje em dia, tá muito difícil...
Quer dizer, arrumar até que a gente arruma. Mas um que queira ficar mesmo com a gente, tá
difícil, quase impossível.
Para
não polemizar muito, atravesso o corredor e vou para o outro lado onde, numa
loja de discos antigos, uma rapaziada também faz uma algazarra. A tal festa country deixa os hormônios em
fúria, penso. Lá, ao contrário do
universo feminino, ninguém se preocupa em comprar roupa, nem fazer barba. Pra falar a verdade, acho até que muitos nem
vão tomar banho. A preocupação é num
esquema de entrar com umas garrafas de uísque escondidas em cantis. Até aí nada demais, pois eu também já vivi
esse dilema no passado. Não resisto e
também lá, no covil masculino, resolvo provocar:
- Cara,
vocês hoje em dia é que se dão bem. É só
chegar lá e a mulherada cai matando em cima de vocês.
- Nada
a ver, véi! – diz uma deles. Eu nunca
sei se eles me chamam de véi porque é a gíria ou porque sou véi mesmo. E continua:
-
Mulher tem muita, sabe? Mas uma assim
legal mesmo, pra ficar, tá difícil.
Fico
pensando. O universo jovem de hoje fica
além do paraíso com o qual sonhávamos quando éramos jovens. Um lugar onde todo mundo já vai para a balada
a uma da manhã, prontos para o que der e vier, onde os rapazes são caçados e
disputados pelas moças. Estas, ao
contrário do nosso tempo, têm independência, não têm pressa de casar e até vangloriam-se
de ter ficado com dois ou três numa noite.
Ou seja, liberdade total pra todo lado...
No
entanto, fico olhando pra carinha deles, aquela agitação, aquele fuzuê, em
muito parecidos com o que vivíamos na década de setenta e poucos. Só que, há quarenta anos atrás, a coisa não
era tão self service como parece ser hoje.
Havia uma certa luta, um jogo de conquista, alguma resistência, sei
lá. E olhem que não falo isso por moralismo,
mas, saindo da loja com um vinil do Gentle Giante debaixo do braço, comento
baixinho:
-
Coitados...
Crônica:
Jorge Marin
Foto: Jan
Plexy, disponível em http://janplexy.deviantart.com/art/Techno-Party-24633792
Boa tarde meu amigo Jorge. Parabéns pela matéria!
ResponderExcluirObrigado, Luiz. Eu não sou saudosista mas, com o passar dos anos, tenho adquirido uma certa preguiça dessa globalização (relativa a rede globo) dos costumes. O importante é que mandamos bem, né véi?
ExcluirCoisas da vida: aquilo que é oferecido fácil ou em grande quantidade tende a perder valor de mercado.
ResponderExcluirSe antes era necessário imaginar os momentos e palavras para causar impacto, me parece que agora as coisas acontecem tão rápido que não se tem o prazer de desfrutar o momento como uma conquista, mas sim como um direito que tende a gerar mais frustração do que satisfação, caso não aconteça.
É... cada época tem seus desafios. Ficar ou namorar, eis a questão!