quarta-feira, 14 de novembro de 2012

O VALOR DO SILÊNCIO - 2



Na semana passada, vejam o paradoxo, FALÁVAMOS do valor do silêncio, e continuamos falando, e que ninguém nos ouça, mas, às vezes, o que nunca foi escutado, precisa ser escutado.
“Deus é silencioso”, diz Woody Allen, e completa: “se, pelo menos, o homem calasse a boca...”
Contudo, não há paz.  Deixo para escrever o post às duas da manhã e aquilo que se assemelhava ao silêncio é interrompido por um carro que, na explosão de seus decibéis, inunda a madrugada com um desagradável soco em nossos ouvidos.
Pela manhã, um milagre cada vez mais presente na vida das cidades – os pássaros – simplesmente não podem ser ouvidos, pois, desde as primeiras horas do dia, canários do reino, pintassilgos e sabiás, hoje tão comuns nas nossas sacadas e coberturas (pelo menos aqui em Juiz de Fora) têm seus cantos abafados por sirenes, marteladas, freadas e alarmes disparados a todo instante.
E, por falar neles, na obra “Pássaros Errantes”, o sábio Rabindranath Tagore afirma: “a pequena verdade tem palavras que são claras; a grande verdade tem grande silêncio.”  O silêncio não é apenas um bem ao qual todos temos direito; é uma forma de linguagem, uma terapia para curar, quem sabe, a doença do mundo que, sem sombra de dúvida, é o EXCESSO DE BARULHO, que a todos enlouquece e atordoa.
Quando esteve em Juiz de Fora, a Monja Cohen recomendou um documentário chamado O Grande Silêncio, que reproduz o dia a dia dos monges cartuxos na cidade de Isère na França.  O realizador do filme, Phillipe Gröning esperou, por DEZESSETE ANOS, para filmar a meditação silenciosa dos monges.  O filme não tem nenhum diálogo, nem entrevistas, nem comentários e nem música, exceto os cânticos gregorianos que fazem parte do cotidiano do mosteiro.
Essa obra (disponível para download no Blog http://www.downloadcatolico.org/) testemunha a passagem do tempo, a mudança das estações, a rotina rígida dos monges e as orações, mais vivenciadas do que proferidas.
O cineasta afirma que a experiência de filmar o silêncio, que durou seis meses, mudou definitivamente a sua vida, tanto é que, desde a época do trabalho, em 2005, ele não tem produzido nada, um silêncio que já dura sete anos.  Somente agora, em 2012, ele está planejando um novo documentário.
Mas, o que será que muda na vida das pessoas submetidas ao silêncio?  O que acontece quando, voluntariamente, paramos de emitir sons?
Diz o dicionário que o silêncio é mais do que a ausência de ruído; não é tampouco o calar-se.  Silêncio pode ser traduzido também como “singularidade” já que guarda, em si, uma aura de mistério e segredo.
Para a maioria de nós, que amamos a música, o silêncio É a música, pois representa a escala atonal onde um barulho contínuo e sem sentido torna-se música.
(CONTINUA)

Crônica: Jorge Marin
Foto: Frame do filme O Grande Silêncio

4 comentários:

  1. Parabéns, Jorge, por esta série de Postagem!
    Para ilustrar um pouco mais, contarei um fato que aconteceu meses atrás e que na verdade se tornou rotina. Mas antes, gostaria de lembrar, que somos ainda uma pequena cidade com menos de trinta mil habitantes.
    Eu estava na varanda de minha casa, quando um Ônibus, que parou para descer alguns passageiros, segurou o transito. Nesta pequena fila de carro, que começou a se formar frente minha casa, apareceu dois carros propagandas, por sinal sendo um de outra cidade, despejando decibéis pra mais de metro. Atrás desses dois automóveis, parou um carro com som automotivo fazendo tremer o vidro de minha casa, tal a pressão exercida pelo som. (Fico sempre imaginado como regem a isso pessoas idosas ou mesmo crianças pequeninas) Nisso dois carros que estavam estacionados, dispararam o alarme devido ao grave do referido carro de som. Misturando a tudo isso, ainda entrou em cena o buzinaço dos apressadinhos juntamente com meia dúzia de motocicletas, a maioria sem silencioso, passando como relâmpago entre os carros.
    Resumo da ópera:
    Estaríamos caminhando para um caos social?

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    1. Amigo Serjão,
      Esse tipo de evento acontece em Juiz de Fora toda noite. No Alto dos Passos, conseguimos com que a polícia fizesse um trabalho em conjunto com a Secretaria de Posturas da Prefeitura de JF e a coisa diminuiu, mas o resto da cidade é um completo caos mesmo. Já mandei um e-mail para o comandante da PM mineira dizendo que estávamos organizando um grupo armado (com paus e pedras) para dar fim, nós mesmos, a essa agressão. Acho até que foi por isso que a PM veio e expulsou os barulhentos.

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  2. Meu silencioso amigo Jorge, valeu pela dica e link para o documentário "O grande silêncio". Baixei o vídeo e gostei! Recomendo aos leitores do blog.
    Fiquei com uma sincera dúvida: o silêncio é um dos caminhos para a paz ou o silêncio é a paz?

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    1. Grande Sylvio,
      Na minha modesta opinião, o silêncio interior é a paz, e o exterior é o caminho para o silêncio interior. Como dizia o mestre Walter Franco: "viver é afinar o instrumento, de dentro pra fora, de fora pra dentro." E, sem silêncio, você não afina nem bateria.

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