sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O GNORIMOPSAR CHOP IV - FINAL



NA SEMANA PASSADA, chovia e era a terceira fuga do Gnorimopsar Chop.  Como três dias haviam se passado, meu colega Marcinho me avisou sobre o aparecimento de um bicho “suspeito” na Rua Nova e, antes mesmo que ele acabasse de me comunicar, uma mobilização familiar já começava a ser organizada. Um verdadeiro mutirão de salvamento.
Se não estou enganado, foram comigo umas cinco ou seis pessoas entre elas minha irmã e a Sílvia que, na época, ainda morava conosco.
Saímos em diligência pela rua, decididos a trazê-lo de qualquer jeito.
Lembro-me bem que, nesse dia, caía uma chuva fina na cidade e fazia muito frio. Agasalhamo-nos bem e, debaixo de apenas um guarda-chuva, seguimos para aquela quase impossível missão.  
Ao virarmos a esquina, fomos de imediato nos aproximando e logo identificando onde poderia ser o possível cativeiro do meu amigo.
O local indicado era muito suspeito e havia mesmo um portão.
Olhamos no tal buraco e explodimos de alegria. Não havia dúvidas de ser mesmo o Tico.
E lá estava ele tristonho e jururu bem no finalzinho do corredor.
Mas ainda teríamos que resgatá-lo.
Anunciamo-nos batendo palmas. De imediato, fomos atendidos por uma senhora que, já desconfiada, nos recebeu com cara de poucos amigos. Queríamos a todo custo entrar, mas ela não permitia. Insistia em dizer que já o possuía há muito tempo e que estava vendido para alguém no Rio de Janeiro. Ameaçou-nos dizendo que, se não fossemos embora, chamaria a policia.
Nisso, a referida senhora, na tentativa de nos convencer, procurou simular uma falsa intimidade com meu amigo. Ao colocar o dedo próximo a ele tomou um contra-ataque e quase perdeu a ponta da unha. E o mesmo ia acontecendo com todos daquela casa.
Um tanto sem graça e de saco cheio de nossa insistência disse:
 - Me prove então se é mesmo de vocês!  E era a oportunidade que tanto queria.
Fui me aproximando dele e dizendo seu nome (Tiiiico-Tiiiico) ele, de imediato, retorceu o pescoço e começou a pedir carinho. Neste momento escutei somente quando a senhora disse: Podem levar!
E de lá saímos dando pulos de alegria carregando nosso precioso troféu.

Chegou a ser uma das vedetes numa exposição no centenário do Município. Naquela madrugada, choveu tanto na cidade, que destelhou metade do galpão em que eles estavam. Foi um Deus nos acuda, mas todos se salvaram. Ainda guardo com muito carinho seu diploma de participação

Vinte e um anos se passaram, eu me casei. Dividindo o terreiro com minha antiga casa, continuei, juntamente com meu pai, a cuidar dele.
No ano seguinte combinamos ir à praia com a família. Era um mês de janeiro e fazia um calor terrível naquele ano de 1987.
Deixamos o Tico aos cuidados de meu sogro, pois tínhamos certeza de que não haveria pessoa melhor para tratar dele. Infelizmente, ao voltarmos, não mais o encontramos. Mais tarde, ficamos sabendo que, além da idade e do calor intenso daquele ano, estes bichinhos sentem muita falta quando se afastam de seus donos. Restaram-nos somente as boas lembranças e a gratidão pelos momentos felizes que passamos juntos. Uma criaturinha de Deus a nos fazer companhia por vinte e um anos.
Acho até que foi melhor assim!

Enfim, hoje não saberia dizer se teria coragem de manter preso na gaiola um passarinho. Mesmo que fosse outro Gnorimopsar Chop popularmente conhecido como MELRO ou PÁSSARO PRETO.

Pra terminar, diria apenas, que somente aqueles que possuem ou possuíram um passarinho desses, é que poderão saber e entender a essência desta minha croniqueta.

Crônica: Serjão Missiaggia
Foto: Disponível em robsondibrito.blogspot.com

7 comentários:

  1. O caso ocorrido com o Tico,quando caiu em mãos estranhas e não queriam devolvê-lo,me fez lembrar um fato acontecido com um amigo há alguns anos.O papagaio dele certa vez desapareceu.Depois de procurar o "penoso falante" por quase toda a cidade,seu proprietário recebeu a informação de onde o papagaio poderia estar.Chegando à casa suspeita,o dono do papagaio bateu à porta e foi atendido por um cara mal humorado.Perguntado pelo papagaio o dono da casa disse que não sabia de nada.Acontece que,lá de dentro,o papagaio ouviu a voz do dono e começou a gritar seu nome : "Vicente,Vicente,Vicente!".Aí não teve jeito,tiveram que devolvê-lo.

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  2. Eu também tive um pássaro preto e concordo que este bichinho não passa despercebido. Geralmente são cheios de manias. Colocamos nele o nome de “Crioulo” e por 15 anos ele nos alegrou e incomodou com seus caprichos.
    Quem conviveu com esse pássaro sabe que o bicho parece uma miniatura de galo garnizé (com a vantagem que não ficar cantando sem parar durante a manhã). Invocado e mandão, quando tirávamos o bicho da gaiola, primeiro vinha em nossa direção e virava a cabeça pedindo carinho. Se não recebia imediatamente seu afago, batia as asas no chão e abria o bico para chamar a atenção e virava novamente a cabeça. Se não passássemos o dedo em sua cabeça ou na parte de trás do pescoço, nos enchia de bicadas e recomeçava o processo até receber o carinho que tinha certeza merecer. A bicada dele dói consideravelmente, diga-se de passagem. Depois que se considerava suficientemente afagado por minha mãe e por mim (tinha que ser sempre os dois), saía andando pela casa fazendo a ronda em seu território.
    Minha mãe desde cedo cortava a ponta das asas dele e por isso ele nunca aprendeu a voar. Em compensação, se existissem olimpíadas para pássaros, acredito firmemente que ele trazia algumas medalhas de ouro para o Brasil na corrida dos 100 metros. Era incrível a velocidade que ele corria pelo chão, mal sendo possível ver aquelas duas perninhas em ação. O bicho dava cada “tiro” que só vendo para acreditar.
    Tínhamos o hábito de deixar aberta a porta da cozinha (que dava para um quintal) e volta e meia ele saía em disparada afugentando os pardais e outros pássaros que tinham a ousadia de pousar no seu pedaço. Destino parecido tinham as visitas que chegavam em casa quando ele estava solto. Não era raro amigas da minha mãe ou meus amigos baterem palmas para se anunciar porque não conseguiam atravessar o pequeno jardim para tocar a campainha, pois no degrau mais alto da escada que dava acesso à porta estava o Crioulo, com a cabeça torta, encarando-os de lado com cara de poucos amigos. Quando ele estava andando pelo chão da casa e a campainha tocava, normalmente ele sumia para debaixo de alguma poltrona ou do sofá da sala e lá ficava esperando. O destino quase certo de quem entrava era ser atacado com rápidas e furiosas bicadas nos pés, mas dependendo do dia e humor do bicho, ele deixava passar e, dependendo da sua lua, andava lentamente, encarando a visita com um olhar de desprezo. Normalmente nessa hora, eu e minha mãe colocávamos um dedo próximo dele no qual ele subia e lhe fazíamos uns carinhos para comprar sua boa vontade. Depois o colocávamos no ombro porque como não sabia voar, lá ficava olhando para a visita com ares de dono da casa.
    Uma vizinha nossa e antiga amiga da minha mãe era a única pessoa por quem ele tinha simpatia, permitindo receber carinho. Tinha também meus tios e minha prima do Rio de Janeiro que ele permitia que encostassem. Fora estes, o bico comia solto nos pés, sapatos e mãos dos desavisados.
    Se tentássemos pegá-lo, ele pulava se esquivando e nos enchia de bicadas. Olha que ousadia, querer agarrar sua alteza real, o pássaro preto... Para colocá-lo na gaiola tínhamos que chamá-lo, fazer carinho por um bom tempo até ele cochilar. Então o pegávamos lentamente e o levávamos para a gaiola. Quase sempre no final deste processo, ele acordava no meio do caminho e enchia nossa mão de bicadas, mas aí já era tarde e ele era depositado na gaiola. Por conta disso, normalmente era solto somente uma ou duas vezes por mês.

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  3. (CONTINUAÇÃO)
    Reza a lenda, dita por meus amigos e uma das vizinhas, que por pelo menos três vezes até gatos que estavam no jardim foram colocados para correr por uma chuva de bicadas daquela pequena sombra furiosa e sem noção, que não sabia (ou se sabia não respeitava) a hierarquia dos animais.
    Uma coisa que o Crioulo adorava era ficar na parte mais alta do sofá, ou em nosso colo, olhando para a televisão. Depois que fazia sua ronda pela casa, dava sempre um jeito de pular para a mesa de centro e dali para o sofá, aí enchia nosso saco até receber carinho por um tempão, fechando então os olhos e ficava aproveitando sua mordomia. Se fizéssemos carinho por muito tempo ele dormia satisfeito e se acordasse sozinho pulava do sofá e andava pela casa piando indignado por ter sido deixado para trás. Então somente outra sessão de afagos o sossegava e, geralmente nessas ocasiões, mesmo recebendo carinho ele nos bicava com mau humor e fechava um olho e deixava o outro aberto para ver se não iríamos trair sua vontade novamente. Um pequeno ditador de penas!
    Depois de uns 13 anos com um currículo repleto de macheza e valentia, não é que uma bela manhã, quando eu limpava a gaiola, achei um pequeno ovo em seu fundo. O Crioulo era Crioula!!! Taí um mistério que em minha ignorância nunca entendi. Demorou tanto tempo para colocar um ovo e nunca mais o fez. Sei que era dele porque nesta época já não morávamos mais em uma casa e sim em um apartamento e, na área de serviço onde ficava sua gaiola, não era possível entrar nenhum pássaro, menos ainda colocar um ovo dentro dela. Aquela criatura mandona, invocada, cheia de manias e emocionalmente instável era uma fêmea (pensando bem, as características são bem óbvias, eu é quem não liguei os fatos). Minha conclusão científica caseira é que ou o bicho era macho e resolveu virar travesti ou sempre foi uma fêmea sapatona que resolveu assumir a maternidade uma única vez para curtir uma onda diferente. Fato é que fizemos um pequeno ninho na gaiola para o ovo, cheios de expectativa para ver o que acontecia e o que aconteceu foi que a agora Criola (por sexo biológico ou opção sexual) não deu confiança para sua produção e ovo não foi pra frente, para nossa decepção.
    Assim como você, Serjão, fizemos uma viagem para a praia e deixamos a Criola com uma vizinha de confiança. Quando voltamos, ela (pássaro) estava amuada e assim ficou por uns dois meses. Apesar da atenção e do carinho, encontrei ela morta no fundo da gaiola numa manhã, depois de 15 anos de vida. Não sei se morreu devido à uma doença ou por se achar traída em suas vontades e confiança, sendo cuidada por uma pessoa que não conhecia. O que sei é que certamente um “pássaro preto” marca a história das casas por onde passa. Eu também tenho atualmente uma resistência muito grande em ter gaiolas em casa, mas se tivesse que cuidar de um pássaro, arranjaria um casal de Gnorimopsar Chop.

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  4. Minha vó teve um Pássaro Preto e também, se chamava Crioulo. Da mesma forma, vivia solto pela casa fazendo estripulias. O mais interessante é que gostava de dormir ao lado de um gato.
    Vai entender!!!

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  5. Tico faz parte da nossa história.
    Como esquecê-lo ?
    Mika

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  6. Eu fui uma de suas vítimas qto as picadas nos pés e nos dedos da mão... Ele era muito safadinho, fazia carinha de coitadinho e eu geralmente caía nesta cena ,fazendo um carinho em sua cabecinha e já imaginam !!!..Era bicada na certa rsrsrsrsr
    Dorinha

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  7. O meu pássaro preto também fazia esta artimanha da cara de carente seguido de bicadas quando íamos fazer carinho. Tentei entender a lógica disso para evitar os ataques (do bico e dos nervos) dele, mas nunca consegui. Bichinho danado e inesquecível esse tipo de pássaro...

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