sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

MEDO DE MULHER


A gente envelhece, e como acha que, por ter vivido, como adolescentes, a geração 70, da loucura, do rock, da pílula, do amor livre, iríamos nos transformar nuns velhinhos muito loucos, tipo Stan Lee nos filmes da Marvel, ou bonitões igual ao Robert Redford que, aos 81, continua arrancando suspiros da mulherada.

Tudo mentira! Primeiro que vivemos, realmente, a louca década de 70, mas a única sacanagem da qual participamos foi o Golpe Militar. Lembro que estávamos jogando sinuca no Bar do Tcham e chegavam os “hômi”. Aí, meus amigos, jogavam todas as nossas bolas na caçapa e mandavam a gente ir embora. Bom que não eram, realmente, as "nossas" bolas, mas as bolas da sinuca. No cinema então, nem é bom falar: pra ver uma pontinha do quadril nu da Brigitte Bardot tínhamos que quase deitar no chão da Rua Capitão Francisco Ferreira pra olhar de um buraquinho na porta do Cine Brasil.

Aí tiramos uma certa onda hoje, dizendo pros nossos filhos que fizemos isso, desrespeitamos aquilo, tomamos todas (esta parte é verdade), quando, na realidade, éramos uns bundões, não muito diferentes, aliás, do que os adolescentes e jovens de hoje. Namorávamos pra casar, quando, na verdade, queríamos mesmo era transar. Mas era uma bocozice tão grande que tínhamos medo de falar com as meninas que queríamos transar porque elas, tipo, iam achar que nós estávamos achando que elas eram galinhas. E elas também não reconheciam que estavam a fim porque achavam que a gente ia achar que elas eram galinhas. Puritanismo galináceo!

Mas, graças a Deus, o tempo passou e viramos coroas, mas o mundo, dizem, teve uma evolução de costumes, seja lá o que for isso. De qualquer maneira, antes de contar o que me aconteceu, quero deixar registrado que eu nunca vou deixar de reconhecer que, desde o “nosso tempo”, as meninas têm sido mais massacradas do que nós, vítimas de desigualdades, violências e de todo o tipo de babaquice que nós, homens, vimos repetindo através dos séculos.

O problema é que, ao que parece, elas resolveram ir à forra, e, como sou muito “sortudo”, acabei pagando o pato.

Venho eu, todo serelepe, véi “se achando”, com minha camisa do Botafogo, num ônibus urbano adaptado para deficientes, sentado numa daquelas cadeirinhas de acompanhante e lendo as mensagens no meu zap. Aí, entra uma morena muito bonita, jovem, carregada de sacolas. Imediatamente, viciado em gentileza com mulheres (até com as feias), levanto-me e a convido para sentar. A reação da moça é de espanto completo:
— Por que?
— Por que o quê? — devolvo a pergunta.
— Por que o senhor está me cedendo o lugar? O que o senhor quer comigo?

Gente, não vou contar aqui a conversa toda que tive para provar que, como idoso, o que eu queria era SÓ ser gentil. Pelo menos, é o que eu acho. Mas, confesso, foi mais difícil lidar com aquela situação do que com aquela tropa de choque de 1972 que não queria que eu jogasse sinuca.

Crônica: Jorge Marin

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