Passa o
natal e o ano novo e, todo ano, vêm as conversas das pessoas sobre um tema que
é muito comentado nas famílias: a INGRATIDÃO.
A coisa
funciona assim: alguns filhos se mudam, vão trabalhar fora, e outros ficam na
cidade, às vezes morando junto com os pais. Os filhos que estão fora, quando
voltam, reclamam que os irmãos que moram junto com os pais estão recebendo uma
atenção excessiva destes, que eles estão abusando da generosidade dos pais. Que
são, na verdade, uns ingratos, pois, ao invés de se emanciparem e irem cuidar
de forma autônoma de suas vidas, ficam “encostados” nos pais, vampirizando-os.
Isso nos
leva à questão: será que uma pessoa para a qual você faz o bem o tempo todo,
como um filho ou uma filha, é capaz de lhe fazer mal? Aquela pessoa para a qual
você faz caridade é capaz de exigir mais e mais de você até um ponto de tal
relação se transformar em abuso?
Há uma
antiga parábola chinesa que diz que o Senhor Dongguo salvou um lobo que estava
sendo perseguido por caçadores, após o animal lhe ter suplicado ajuda e
prometido GRATIDÃO eterna. Assim que os caçadores sumiram no horizonte, o lobo
pede ao Senhor Dongguo que o deixe devorá-lo. Como o Senhor Dongguo resiste, o
lobo usa o seguinte argumento:
- O
senhor já mostrou que tem bom coração, me salvando dos caçadores. Agora prove
que é bom mesmo dando sua vida para salvar a minha! – e, enquanto argumentava
isso com os dentes escancarados para o seu salvador, tem a sua cabeça cortada
por um lenhador que, vendo a ameaça, mata o lobo e chama a atenção do (excessivamente)
bondoso Dongguo, lembrando um ditado budista que diz que não deve haver compaixão
sem sabedoria.
Ao serem
excessivamente bondosos com os filhos, e isso é o que mais vemos todos os dias,
seja por característica pessoal ou por culpa de estarem ausentes, os pais estão
realmente ajudando os filhos? Ou criando lobinhos que mais tarde irão
devorá-los? Lembro que o lobo não devora por maldade; o lobo devora porque é da
sua natureza devorar. A escolha pelo salvador dá-se, única e exclusivamente,
porque é mais fácil abusar de uma pessoa que lhe tem compaixão do que outra que
lhe teme.
Isso é
MUITO importante. Muitas vezes, no nosso dia a dia, relevamos pequenas
agressões de algumas pessoas, pequenos abusos, tudo isso porque não queremos
nos indispor, ou não queremos que os outros pensem que somos maus ou chatos ou
ranzinzas. A VERDADE é que não precisamos de nada disso: nem de ser
reconhecidos como legais, boca boa, gente fina, ao preço de sermos abusados.
Tá certo.
Não precisamos sair matando lobos por aí, mas, ao receber uma proposta tão
indecente quanto esta, acho que a resposta já deve estar na ponta da língua:
BASTA!
Crônica:
Jorge Marin
Foto : Woxys, disponível em https://www.deviantart.com/art/Do-not-hurt-me-155522193
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