Aproveitando
o embalo em que acabamos de lembrar um dos causos antinaturais do Pitomba com a
Nely, outro fato digno de registro, e que também já foi postado aqui no Blog, foi
um famoso baile que fizemos numa pequena cidade vizinha, lá pelos idos de
milinovecentos e setenta e dois. Naquela época, quatro componentes do Pitomba
integravam o conjunto da Nely (Márcio, Silvio Heleno, Dalminho e eu). Coragem
dela, não? Mas, como já dizia a velha máxima, um gambá, digo, um maluco, já
cheirava o outro.
E a coisa
teria acontecido mais ou menos assim:
O
referido baile vinha transcorrendo naturalmente, até que um zunzum estranho
durante o intervalo, vindo do fundo do palco, começou a acontecer. Até então
alguns componentes, antes descansando, começaram repentinamente a se agitar sem
parar.
Alguém,
que agora me foge a memória, teria simplesmente descoberto que o palco fazia
parede meia com o banheiro das mulheres. Até aí nada demais, se não fosse pelo
simples fato de também ser separado por uma velha porta. Por sinal, para nossa
felicidade, já bem maltratada.
Foi
quando, após breve reunião, resolvemos fazer, escondidos da Nely, o que todos
já devem estar imaginando, ou seja, UM BURACO NA PORTA!
E assim,
enquanto acontecia o intervalo, começamos despistadamente a preparar o ambiente
para aquele que seria o grande “furo” de reportagem. Nosso intuito seria, antes
de qualquer coisa, ficar o mais escondido possível, inclusive da Nely. E quanta
emoção naquela sedutora aventura recheada de hormônios!
Primeiramente,
procuramos empurrar para bem próximo do local alguns vasos que se encontravam
nas laterais do palco, juntamente com as caixas de som e do aparelho de voz. O
ambiente teria que ficar perfeito, onde ninguém na pista de dança ou mesmo no
palco fosse capaz de nos ver.
Enfim,
com a ajuda de uma chave de fenda, a velha porta, finalmente, seria vazada.
Naquela hora, amontoávamos uns sobre os outros querendo, a todo custo e ao
mesmo tempo, poder encostar o nariz na porta e tacar logo o olho no bendito
orifício.
Fui o
segundo no par ou ímpar, mas, para minha felicidade, aquele que seria o
primeiro foi solicitado a comparecer na frente do palco. Muito a contragosto,
assumi a primeira colocação, mas teria, a pedido dos demais, que ir narrando
passo a passo, tudo o que via. Dessa forma, após subir num pequeno banquinho,
lá fui eu, já com as pernas meio bambas, dar minha primeira espiadela. Tudo
muito corrido, pois o baile já estava prestes a recomeçar.
De
imediato, reparei que o local deveria ser uma sala anexa aos banheiros, pois o
que mais se via era mulher retocando maquiagem, cabelo, abotoando calça e
ajeitando sutiã. Pelos meus cálculos, o buraco, coincidentemente, teria sido
vazado próximo à pia, e um pouco abaixo do espelho, pois, até o momento,
somente nariz, e muito nariz era minha principal visão.
Um tanto
decepcionado, e já pensando em passar a vez ao próximo, eis que,
repentinamente, me entra no recinto uma linda morena de olhos verdes, cabelos
cacheados, aparentando pouco mais de vinte e cinco anos. Dessa forma, sentindo
nas entrelinhas que, finalmente, teria chegado o grande momento, pedi que
aguardassem um pouco mais! Foi difícil convencê-los, mas consegui!
E lá veio
ela se aproximando. A expectativa foi geral, e um imenso silêncio tomou conta
de todos. Frente ao espelho, e já quase cara a cara comigo, após dar uma bela ajeitada
no sutiã, ameaçou tirar a blusa. Naquela hora não se ouvia um único gemido do
nosso lado. Pensando bem... Até que se ouvia!!!
Enquanto minhas
pernas tremiam cada vez mais, procurava, na medida do possível, ir narrando aos
distintos parceiros, detalhe por detalhe, tudo aquilo que estava vendo. Era um
empurra-empurra danado, pois todos se atracavam e queriam acompanhar, em tempo
real, e da melhor maneira possível, minha narrativa. O negócio era ver, ou
simplesmente imaginar, o que realmente estaria acontecendo do outro lado
daquela porta.
Já no
ápice daquele que seria o grande momento, quando a cena parecia que finalmente
iria ser bondosa comigo, o inusitado mais uma vez acontece: a linda morena, ao
se aproximar perigosamente do buraco, simplesmente, num ato de extrema falta de
educação com minha escondida pessoa, após sacar da boca uma bela dentadura, se
é que podemos dizer que exista algum grau de beleza naquilo, começou, a menos
de meio palmo do meu nariz, a escová-la com os dedos.
-E lá se
foi minha musa! – pensei. Por sinal, sem um dente sequer na boca e com aquela perereca
indecente na mão.
Enquanto
isso, pra não perder a pose, e muito menos deixar que minha peteca caísse,
continuei simplesmente a narrar pra galera aquilo que na verdade não estaria
vendo. Ou seja, um streep. Foi torturante, mas acredito que fui capaz de
enganá-los. A eles e a mim também!
E o baile
recomeçou como se nada tivesse acontecido.
Crônica:
Serjão Missiaggia
Foto : acervo do autor, com interferência de
Jorge Marin
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